Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
160. Medeia (Μηδεια), Eurípedes (Εὐριπίδης), 480 a.C – 406 a.C.
A celebrada tragédia grega tece o retrato psicológico de uma mulher possuidora de amor e ódio ao mesmo tempo. Na qualidade de esposa repudiada e estrangeira perseguida, Medeia mata seus filhos com uma faca para se vingar do marido Jasão. Trata-se uma das figuras femininas mais marcantes da dramaturgia universal. Além de “Medeia” ter sido a tragédia mais frequentemente encenada no século XX, ela é a única peça da dramaturgia grega clássica em que um assassino permanece impune ao final. A tragédia foi apresentada pela primeira vez em 431 a.C., por ocasião das Festas Dionisíacas de Atenas, que eram um concurso no qual os dramaturgos mostravam ao público suas criações.
Eurípedes foi o mais jovem dentre os três grandes expoentes da tragédia grega (os outros foram Sófocles e Ésquilo). Pouco se sabe sobre a vida de Eurípedes, cujas peças versavam sobre pessoas reais, comuns e não sobre deuses e nobreza. Existem indicações de que o dramaturgo preferiu viver recluso ao final da vida. Ele é autor do maior número de peças trágicas que chegaram até os nossos dias, no total de 18. De Sófocles e Ésquilo sobreviveram apenas sete dramas de cada um. É atribuída a Eurípedes a introdução dos Prólogos nas peças teatrais e, também, a autoria do conceito de deus ex machina (em latim “deus surgiu da máquina”), que descreve uma solução inesperada e mirabolante para o final de uma peça, livro ou filme.
As duas mais conhecidas adaptações cinematográficas de “Medeia” foram a de 1969, dirigida pelo cineasta italiano Pier Paolo Pasolini (1922-75), com a soprano Maria Callas (1923-77) no papel-título e a de 1988, sob direção do premiado dinamarquês Lars von Trier, com Kristen Olesen (1949-) no papel de Medeia.
Quanto às traduções brasileiras, surgem aqui os mesmos nomes já apresentados nos Posts sobre os clássicos gregos, em versão feita diretamente do grego antigo: Jaa Torrano (Editora Hucitec, 1991), Flávio Ribeiro de Oliveira (Odysseus, 2007), Trajano Vieira (Editora 34, 2010) e Mário da Gama Kury (Zahar, 2021).
Língua rapa nui (1)
Na continuidade da apresentação das línguas do ramo polinésio, pertencente à grande família malaio-polinésia, vamos chegar a uma das regiões mais remotas do planeta: a Ilha da Páscoa, designada localmente como Rapa Nui (“ilha grande”), situada no sul do Oceano Pacífico, a 3.700 km da costa do Chile. A colonização da ilha, de data incerta – possivelmente no século II ou III – ocorreu com migrações vindas da longínqua Polinésia, embora a região onde se localiza atualmente o Chile estivesse bem mais próxima. O primeiro nome da ilha, Te pito o te henua (umbigo do mundo), cedeu lugar à designação atual de Rapa Nui, como é também chamado o idioma. A denominação internacional de Ilha da Páscoa é devida ao simples motivo de que ela foi avistada por navegadores holandeses no domingo da Páscoa de 1722. O capitão James Cook (vocês achavam que ficariam livres deste nome tão repetido?) permaneceu na ilha por quatro dias no ano de 1774. Ele se fazia acompanhar de alguns taitianos na tripulação, os quais lograram estabelecer um certo nível de compreensão com o idioma local. De fato, a língua rapa nui recebeu fortes influências das línguas taitianas, maori e marquesana, todas elas já apresentadas em Posts anteriores. Em 1988 a ilha (na verdade, um conjunto de pequenas ilhas) foi anexada pelo governo chileno, que tinha o objetivo de lá implantar uma fazenda de criação de ovelhas. Só em 1966 é que os nativos de Rapa Nui foram reconhecidos como cidadãos chilenos. Desde 2007, a Ilha da Páscoa é classificada como um Território Especial do Chile. O arquipélago, cuja capital é Hanga Roa, possui uma área total de 170 km2 e uma população atual em torno de quatro mil habitantes. O solo vulcânico e poroso faz com que ocorra uma rápida infiltração das águas de chuva, ou seja a elevada precipitação média anual de 1.300 mm não é capaz de garantir adequadamente o abastecimento de água potável. Existe uma clara tendência de aumento no potencial turístico da ilha, principalmente devido à misteriosa presença dos majestosos moais, que são gigantescas estátuas de origem indeterminada e, aparentemente, de cunho religioso. A Ilha da Páscoa ainda conta, hoje em dia, com centenas de moais, todos eles posicionados de costas para o oceano.
A língua rapa nui (Vananga Rapa Nui), falada por aproximadamente 2.000 pessoas na ilha e 500 no resto do Chile, mostra as mesmas características dos outros idiomas polinésios vistos aqui no Blog, quais sejam, verbos não declináveis, com tempo e aspecto sendo marcados por partículas, ausência de flexões de gênero e caso, pronomes que não variam conforme sejam “sujeito” ou “objeto”, indicação de possessão “alienável” e “inalienável”, pronomes pessoais nas formas singular, dual e plural. Para os pronomes demonstrativos (p. ex. este, esse, aquele) existem três níveis de distância: próximo, médio e distal (i.e., distante). (continua)
Vencedores do Prêmio Pulitzer de Ficção (7)
1949: James Gould Cozzens (1903-78), livro Guard of Honor, relato autobiográfico por dois dias em uma base militar na Flórida durante a Segunda Guerra Mundial, escritor muito popular nos EUA, embora preferisse viver recluso.
1950: A.B. Guthrie (1901-91), livro The way West, que aborda a jornada de uma caravana que se desloca de Missouri a Oregon, escritor especialista em histórias do Oeste norte-americano, jornalista e roteirista de cinema (p. ex. o western “Shane”/”Os brutos também amam”).
1951: Conrad Richter (1890-1968), livro The town, última parte de uma trilogia que narra os conflitos entre pioneiros e a geração jovem no âmbito do processo de industrialização dos EUA.
1952: Herman Wouk (1915-2019), livro The Caine Mutiny, relato histórico sobre um motim na marinha norte-americana durante as batalhas no Pacífico (Segunda Guerra Mundial) devido à instabilidade mental de um comandante. Wouk, que manteve um diário ininterrupto desde 1937, faleceu dez dias antes de completar 104 anos.
1953: Ernest Hemingway (1899-1961), um dos maiores ícones da literatura norte-americana, ganhador do Nobel em 1954 (v. Post 37), livro premiado no Pulitzer “O Velho e o Mar” (The Old Man and the Sea), já comentado no Post 163, o qual narra a luta de um pescador na captura de um enorme peixe marlim na costa cubana.
Frase para sobremesa: Não desconfie. O medo, a dúvida e a suspeita convidam à traição. Cuidado com quem te aconselha a tomar cuidado (Carlos Fuentes, 1928-2012).
Bom descanso!