Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
154. Metamorfoses (Metamorphoseon), Ovídio (43 a.C.–18)
Este livro se constitui na obra máxima do poeta latino Ovídio, aclamado como um dos maiores clássicos da literatura universal. O majestoso poema é composto por 15 livros, formando 12 mil versos em hexâmetro datílico. Este último termo pode assustar alguns leitores, mas é de uma simplicidade franciscana. Senão vejamos: um hexâmetro é uma composição de seis pés. E o que seria um pé? Ele é a estrutura básica dos versos, formado por uma sucessão de sílabas longas e breves. Já o termo datílico (do grego dactilus, “dedo”) indica a sequência específica de uma sílaba longa seguida de duas breves, à maneira das falanges de um dedo. Os poetas antigos, notadamente os gregos e os latinos, conferiam grande importância à musicalidade dos versos, ainda mais se lembrarmos que os famosos poemas eram frequentemente declamados em praça pública. O “hexâmetro datílico”, também conhecido como a métrica épica, foi a estrutura de outros grandes clássicos, como Eneida (Virgílio, latino) e Ilíada/Odisseia (Homero, grego).
O poema “Metamorfoses” foi tornado público, isto é, declamado, pela primeira vez no ano 8. Ele narra temas como a Cosmologia (origem e evolução do universo), a história do mundo e as transfigurações de deuses e homens em animais, árvores, rios e pedras, além de relatar a união de deuses aos mortais, em histórias de amores, incestos, ciúmes e crimes. A obra pode ser considerada como a “Enciclopédia da Mitologia Clássica”. Para quem gosta do tema, a sua leitura é absolutamente recomendável. Ademais, trata-se de um texto florido, elegante, que leva o leitor a passar momentos muito agradáveis na companhia do livro. Essa obra influenciou sobremaneira a Filosofia e as Artes em geral (teatro, literatura, pintura, música, escultura).
Públio Ovídio Naso (em latim Publius Ovidius Naso) foi um dos maiores poetas da literatura clássica. Além de poemas, ele escreveu diversos dramas e peças de teatro. Vindo de família abastada, ele ocupou vários cargos públicos e realizou viagens à Grécia e Ásia. Conhecido por levar uma vida boêmia, era pessoa bastante popular na cidade de Roma. Casou-se por três vezes, possuindo filhos e netos. Contudo, no ano 8 (o mesmo do lançamento de “Metamorfoses”) ele foi banido de Roma pelo imperador Augusto. Se, já na época, os motivos para tal ato não foram bem entendidos, na atualidade se torna impossível avançar mais no tema. A maioria dos historiadores atribui a decisão de banimento a algum escândalo amoroso, possivelmente com uma das netas do imperador. Ovidio foi então exilado para as lonjuras do Mar Negro, indo morar na cidade de Tômis (atual Constança, na Romênia), onde veio a falecer dez anos depois, de causas ignoradas.
São muitas as traduções de “Metamorfoses” para o português. Destaca-se a primeira delas, feita pelo conhecido poeta lusitano Manuel Maria du Bocage (1765-1805) e publicada em várias edições pelas Editoras Hedra e Concreta. A primeira tradução brasileira foi feita por David Jardim Jr. (Ediouro, 1983), responsável pela versão de diversas outras obras clássicas. Em uma sequência mais recente podem ser citadas as traduções de Vera Lúcia Leitão Magyar (Editora Madras, 2003), Paulo Farmhouse Alberto (Editora Cotovia, 2007), a edição bilingue de Domingos Lucas Dias (Editora 34, 2017) e a recente publicação da Editora Penguin (2023), com tradução de Rodrigo Tadeu Gonçalves.
Língua marquesana
As Ilhas Marquesas, de formação vulcânica, situam-se a nordeste do Taiti, para além do arquipélago de Tuamotu, apresentado no Post anterior. Elas também fazem parte do território da Polinésia Francesa. Possuem uma área de mil km2 e população de dez mil habitantes. Existem achados arqueológicos de mais de dois mil anos, permanecendo, todavia, a dúvida sobre a sequência das ocupações humanas na região. O nome das ilhas é uma homenagem à Marquesa de Cañete, esposa do vice-rei espanhol do Peru, o qual financiou a viagem de descobrimento de várias ilhas do Pacífico. O navegador espanhol Álvaro de Mendaña (1542-95) comandou a expedição que, saindo do Peru, pretendia fundar uma colônia nas Ilhas Salomão. As naves levavam 400 pessoas, dentre elas mulheres e escravos. No trajeto foram descobertas as ilhas que passaram a se chamar Marquesas. No entanto, acometido pela malária o comandante faleceu antes de atingir o destino. Sua esposa Isabel, já designada por ele como substituta, comandou o restante da viagem até chegarem às Filipinas. Trata-se de caso único na história da navegação mundial.
O idioma marquesano é dividido em duas variantes, a Norte e a Sul, as quais, por sua vez, abrigam diversos subdialetos. Muitos linguistas consideram os dialetos Norte e Sul, como idiomas independentes, embora compartilhem muitas similaridades. A variante Norte, que é a mais falada (seis mil), é também a que apresenta uma melhor estruturação gramatical. A variante Sul é utilizada por cerca de três mil pessoas. À semelhança de outros idiomas polinésios apresentados aqui no Blog, particularmente o tuamotu (Post anterior), o marquesano também esteve à beira da extinção. Foi só a partir do ano 2.000, com a criação da “Academia Marquesana”, que iniciativas foram adotadas para a revitalização da língua, dentre elas o ensino escolar e a implantação de estações de rádio. O idioma marquesano está fortemente relacionado ao taitiano, havaiano (ambos já vistos) e ao rapa nui (Posts seguintes).
A diferença entre os dialetos norte e sul começa pelo alfabeto e pela fonética, principalmente em relação à parada glotal. Um exemplo é a substituição do “h” no norte pelo “f” no sul. Assim, “boca” é haha no norte e fafa no sul. Vejam, por exemplo, os nomes locais do Arquipélago das Marquesas: Te Henua ‘Enana no norte e Te Fenua ‘Enata no sul, ambos significando “terra dos homens”. No marquesano todas as cinco vogais podem ser nasalizadas. Como na maioria das línguas polinésias, também aqui os verbos não são conjugados, o que é um facilitador. Mas, em compensação, entram em cena os diversos aspectos do verbo, marcados pela presença de partículas: perfeito (ação única ou pouco frequente) e imperfeito (ação frequente), da mesma maneira como vimos para o russo. Existem ainda os aspectos inceptivo (ou incoativo), designando o início de uma ação e o puntativo, que exprime uma situação desejada. Os pronomes pessoais são 11, existindo nas formas do singular, dual e plural. Na verdade, ainda existe a forma “paucal”, que é declinada como no dual. Só que, enquanto o “dual” se aplica a duas pessoas ou objetos, o “paucal” (raiz latina de paucus, pouco) refere-se a poucos, certamente mais do que 2, que o inglês traduz como few ou several. A forma plural fica guardada para um número maior de pessoas ou objetos, sem uma definição explícita do valor mínimo. O povo marquesano convive com o “paucal” – que existe em um número muito limitado de línguas – de forma natural, sem traumas, malgrado a maleabilidade do conceito.
Números de 1 a 10 no dialeto norte: te tahi, e ùa, e toù, e hā (no sul e fa), e ima, e ono, e hitu, e vaù (no sul e va’u), e iva, ònohuu (no sul onohu’u). À exceção do número 10, todos os outros se assemelham mais fortemente ao havaiano. Muitas palavras são monossilábicas, como nos exemplos de vai (água), kai (comida) e tai (mar). Algumas expressões (no dialeto norte): Ka oha (olá e até logo), E fabora (por favor, certamente com influência hispânica) e Koha (obrigado).
Vencedores do Prêmio Pulitzer de Ficção (1)
1918: Ernest Poole (1880-1950), jornalista, premiado pelo livro “Sua família” (His Family), que relata a vida de um viúvo e suas três filhas em Nova Iorque;
1919: Booth Tarkington (1869-1946), considerado nas décadas de 1920 e 30 como o maior autor norte-americano, livro “Soberba” (The magnificent Ambersons), que mostra a decadência de uma família aristocrática por três gerações;
1920: não houve entrega do prêmio;
1921: Edith Warton (1862-1937), livro “A era da inocência” (The age of innocence), que aborda a vida na alta sociedade de Nova Iorque. Esta obra já foi comentada no Post 178.
1922: Booth Tarkington; retorna o ganhador do prêmio em 1919, desta vez com o livro Alice Adams, a história de uma jovem mulher que tenta conquistar uma pessoa rica à época do fim da Primeira Guerra Mundial. Tarkington foi um dos poucos escritores a ganhar duas vezes o Prêmio Pulitzer de Ficção.
1923: Willa Cather (1873-1947), livro “Um dos nossos” (One of ours), sobre a vida de um filho de fazendeiro e suas relações com a família. A autora, que era professora de inglês e editora de revistas femininas, já havia aparecido no nosso Post 250 (livro “Minha Ántonia”). Observa-se que, por diversas vezes, as obras constantes da lista de melhores livros, não são aquelas que recebem as premiações mais relevantes.
Frase para sobremesa: Amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção (Antoine de Saint-Exupéry, 1900-44).
Bom descanso!