Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
148. O chamado selvagem (The call of the wild), Jack London (1876-1916)
Considerado por alguns analistas como o romance mais difundido da literatura norte-americana, este curto livro de Jack London tem sido impresso pela Editora MacMillan ininterruptamente desde 1903. Na verdade, a primeira publicação, ocorrida também em 1903, foi na forma de folhetim no jornal Saturday Evening Post, que ofereceu ao autor a quantia de 0,03 USD por palavra, isto depois de o livro ter sofrido um grande corte no seu conteúdo para se ajustar à oferta feita pelo jornal. O estrondoso sucesso da obra fez com que a Editora MacMillan comprasse imediatamente os direitos de publicação em livro de único volume.
A história de “O chamado selvagem” se passa no Canadá durante a época da Corrida do Ouro, em 1897. Ela relata as aventuras do cão Buck, roubado de seus donos e contrabandeado para o Alasca para servir como puxador de trenó (sled dog). O cão, que consegue fugir, inicia então um duro aprendizado para sobrevivência na vida selvagem. A obra atraiu (e continua atraindo) o imaginário dos leitores devido aos exemplos de adaptação a situações extremas, coragem e lealdade.
Talvez tão interessante quanto o livro seja a biografia do autor, nascido na California como John Griffith Chaney. Sem saber exatamente quem eram seus pais, foi adotado quando criança. Na adolescência se transformou em um hobo, que é a gíria norte-americana para quem viaja pelo país à procura de trabalho. Este conceito é distinto daquele do tramp (vagabundo), que também viaja, mas vive fugindo do trabalho. Com 17 anos Jack foi contratado como marinheiro em navios que percorriam a costa japonesa. Quatro anos mais tarde viaja para o Alasca, na época da febre de ouro, exatamente como relatado no seu livro. Volta um ano depois, pobre, desiludido e enfermo de escorbuto (deficiência de vitamina C), começando então a trabalhar como cortador de grama (são incríveis essas voltas do destino para pessoas que depois se tornaram famosas). Jack conseguiu finalizar o ensino médio e iniciar um estudo na Universidade de Berkeley, interrompido após seu sucesso como escritor.
A adoção do livro por centenas de escolas norte-americanas fez com que as vendas disparassem e colocassem o autor no patamar dos mais celebrados escritores do país. Todavia, com poucas exceções (uma delas o livro Caninos brancos – White Fang, 1906) o sucesso não pôde ser repetido nos outros 21 romances publicados. Cabe destacar, talvez em justiça aos demais autores, que London foi acusado de inúmeras ocorrências de plágio, algumas claramente admitidas por ele próprio. Mas o seu nome já era uma celebridade quase que intocável. Polêmica ainda existe com relação à sua morte aos 40 anos de idade. Enquanto alguns biógrafos indicam a uremia (acúmulo de substâncias tóxicas no sangue) como causa do óbito, outros já indicam a questão do suicídio por overdose de morfina.
Diversas adaptações cinematográficas foram feitas do livro, a primeira delas na época do cinema mudo (1923), a de 1935 (título em português “O grito da selva”) direção de William Wellman (1896-1975) com Clark Gable (1901-60), o “rei de Hollywood), a de 1972 (“Catástrofe nas selvas”), direção do britânico Ken Annakin (1914-2009), com Charlton Heston (1923-2008) e a de 2020 (“O chamado da selva”), direção de Chris Sanders (1962-) e atuação de Harrison Ford (1942-), além de vários outros filmes e séries televisivas de menor impacto.
Tão variados quanto os títulos dos filmes em português é o número de tradutores brasileiros. Alguns exemplos: Sylvio Monteiro (Abril Cultural, 1972), José Luiz Perota (Editora Dracaena, 2011), Fábio Meneses Santos (Editora Principis, 2021), Maria Carmelita Dias (Editora Arqueiro, 2022), além de uma adaptação feita pela renomada poetisa Clarice Lispector (Editora Rocco, 2014).
Língua maori (1)
O idioma maori é oficial na Nova Zelândia, juntamente com o inglês, desde 1987. Ele guarda fortes semelhanças com as línguas taitiana e “maori das ilhas Cook”, que serão vistas na sequência desses Posts. A língua maori é localmente conhecida como Māori te reo. Como vimos no Post anterior, relativo à língua havaiana, também aqui as vogais longas são marcadas com um mácron (traço horizontal superior). Portanto o acento tônico no nome da língua cai na primeira sílaba. Cabe destacar que até a metade do século XIX o maori era a língua predominante nas ilhas da Nova Zelândia.
Acredita-se que os índios maori tenham chegado à Nova Zelândia em diversas migrações vindas de regiões da Polinésia (principalmente do Taiti) entre os séculos IX e XIV. Em 1642 o navegador holandês Abel Tasman avistou as ilhas da Nova Zelândia, basicamente Ilhas Norte e Sul, mas foi impedido pelos nativos de desembarcar. De qualquer forma ele batizou as novas terras de Nova Zelândia, em homenagem à província holandesa de Zeland. Foi só em 1769 que outro explorador, o incansável James Cook, vislumbrou as ilhas e as reivindicou para a Coroa britânica, o que veio a ocorrer apenas em 1840. A independência do país se deu em 1947.Merece destaque o fato de a Nova Zelândia ter sido o primeiro país do mundo a permitir o sufrágio feminino em 1893.
A língua maori escrita só veio a ser sistematizada após os primeiros contatos com os europeus. Até a primeira metade do século XIX o uso do idioma era comum entre adultos e crianças. Todavia, em 1867, com o intuito de fortalecer a língua inglesa como forma de comunicação no país, as escolas foram proibidas de ensinar o maori, cujo emprego pelas crianças e adolescentes estava sujeito a castigos corporais. O renascimento do idioma só ocorreu a partir da década de 1970, com a volta do ensino escolar em maori e a criação de canais de rádio e televisão, além da impressão de jornais nessa língua. Uma segunda onda de fortalecimento surgiu em 2015, quando placas informativas e nomes de cidades passaram a ser registrados em inglês e maori. Nas reuniões do Parlamento era designada a presença de intérpretes, caso alguns deputados preferissem se expressar em maori. Da mesma forma os tribunais de justiça passaram a permitir o uso do maori, sempre com a atuação de intérpretes. Surgiu inclusive um movimento, na verdade de pouca força política, para se alterar o nome oficial do país para Aotearoa (terra das longas nuvens brancas), o qual, convenhamos é muito mais bonito. Atualmente a presença do maori, embora falado correntemente por apenas 200 mil pessoas (4% da população do país), é bastante intensa na vida cultural da Nova Zelândia. Um exemplo é a expressão Kia ora (fique saudável), introduzida como uma popular forma de cumprimento em todo o país, inclusive pelos falantes do inglês. Também muito conhecida internacionalmente é a dança cerimonial (ou guerreira) do Haka (com texto em maori), utilizada pelos jogadores da famosa seleção de rugby da Nova Zelândia antes do início das partidas. Passemos ao idioma (continua).
Nomes de ervas e temperos em algumas línguas (6)
Ordem das traduções: inglês, francês, espanhol, italiano, alemão e russo.
Pimenta: pepper, poivre, pimienta, pepe, Pfeffer, ПЕРЕЦ (piériets);
Salsinha: parsley, persil, perejil, prezzemolo, Petersilie, ПЕТРУШКА (petrushka);
Sálvia: sage, sage, sabio, saggio, Salbei, МУДРЕЦ (mudriets);
Tomilho: thyme, thym, tomillo, timo, Thymian, ТИМЬЯН (timian).
Frase para sobremesa: A felicidade busca a luz, por isso julgamos que o mundo é alegre; mas o sofrimento se esconde na solidão, por isso julgamos que ele não existe(Herman Melville, 1819-91).
Bom descanso!