Post-217

Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)

112. O pequeno príncipe (Le petit prince), Antoine de Saint-Exupéry (1900-44)

Antoine Marie Jean-Baptiste Roger, conde de Saint-Exupéry, foi um nobre francês, aviador e escritor, autor de um dos livros mais vendidos da literatura mundial. O sobrenome foi homenagem da família a Saint Exuperius, um bispo francês do século V. Para simplificar, o escritor adotou o nome popular de Antoine de Saint-Exupéry, o qual era anteriormente grafado sem o hífen. Quando o autor morou nos EUA, durante a Segunda Guerra Mundial, ele introduziu o hífen, já cansado de ser tratado como Mr. Exupery. Voltemos ao livro.

Embora seja tarefa impossível a determinação do número de vendas de livros em épocas passadas, estima-se que mais de 200 milhões de exemplares tenham sido comercializados, o que colocaria “O pequeno príncipe” em segundo lugar nas estatísticas mundiais, atrás apenas da obra de Charles Dickens A tale of two cities, naturalmente excluindo-se aqui livros religiosos, a exemplo da Bíblia e do Alcorão. A obra-prima de Saint-Exupéry foi traduzida para mais de 220 idiomas e dialetos, entrando nesta lista o mirandês (idioma falado em parte de Portugal, v. Post 25, título L princepico) e o tupi, na variante amazônica conhecida como nheegatu ou tupi moderno. Em Portugal o livro foi traduzido como “O principezinho” (se vocês sentem curiosidade de entender por que os tradutores portugueses, em muitos casos, adotam títulos distintos, lembrem-se de que a reflexão inversa também é verdadeira).

Antoine tornou-se piloto militar em 1922. Alguns anos depois começou a trabalhar em voos comerciais para a companhia francesa Aéropostale, com rotas para partes da Europa, norte da África e América do Sul. Ele esteve por diversas vezes no Brasil, o que levou a cidade de Florianópolis a homenageá-lo com a Avenida Pequeno Príncipe.

Como a imensa maioria dos visitantes do site já deve ter lido o livro, poupamo-nos aqui uma sinopse mais detalhada da obra. Em resumo: o narrador descreve suas recordações quando, após um acidente aéreo, ficou perdido no deserto do Saara. Lá ele encontra um menino, originário de um asteroide, que lhe pede a confecção de desenhos sobre diversos objetos e animais. Inicia-se então uma amizade pontilhada por ricos traços filosóficos. O enredo guarda muitas semelhanças com o livro Micrômegas, escrito por Voltaire (1694-1778), visto como uma das primeiras obras de ficção científica. Cabe destacar que Antoine e seu copiloto de fato sofreram um desastre aéreo em 1935 quando sobrevoavam o deserto de Saara, na Líbia. Ficaram perdidos por quatro dias, desidratados e quase agonizantes, quando então foram salvos por um grupo de beduínos.

A obra foi publicada em 1943, quando Antoine esteve exilado nos EUA, para onde se dirigiu ao fugir da França após a assinatura do armistício entre a Alemanha e seu país natal. Ele ainda retornou à Europa para lutar na força aérea contra os nazistas. Em 1944 seu avião desapareceu na região do Mediterrâneo. Após longos anos de busca, os destroços só foram encontrados em 2004, próximos à costa de Marselha. Antoine morreu sem ter conhecimento do gigantesco sucesso de sua pequena obra (apenas 93 páginas), da qual ele era também o ilustrador.

A adaptação cinematográfica mais conhecida (1974) é o musical dirigido pelo norte-americano Stanley Donen (1924-2019), com Richard Kiley (1922-93) no papel do aviador e Steven Warner (1966-) representando o simpático garoto alienígena.

A tradução clássica para o português – que perdura por décadas – lançada por diversas editoras, é a do poeta Dom Marcos Barbosa. Em 2015 o conhecido poeta maranhense Ferreira Gullar (1930-2016) apresentou uma nova tradução, com expressões mais leves e que se aproximam da linguagem coloquial. Vejamos como ficou a mais célebre frase do livro: Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas (Barbosa); Você é eternamente responsável por aquilo que cativou (Gullar).       

Língua javanesa (1)

Encontramos neste Post um idioma com uma marcante característica, que o torna único no mundo: a existência de duas formas de expressão, tanto escrita quanto falada, de acordo com o grau de formalidade. Não se trata apenas de mudanças de pronomes, como ocorre em outras línguas asiáticas, mas também de palavras e verbos. A língua javanesa possui variados níveis de formalidade, mas aqui nos concentraremos nos dois mais comuns: a) o kromo, que representa o grau mais extremo de polidez, utilizado para se dirigir a pessoas de nível social superior e, também, em discursos públicos e comunicações oficiais; b) o ngoko, o menos formal, usado em contatos – seja verbais ou escritos – com pessoas íntimas, amigos, família e interlocutores de nível social inferior. Como regra geral é vedado o emprego do kromo para se referir a si próprio, devendo, nestes casos, se lançar mão da variante ngoko. Tal separação linguística está tão impregnada na cultura do povo javanês, que faz com que aquelas pessoas que saibam utilizar corretamente os diversos níveis de comunicação sejam bastante respeitadas na sua qualidade de cidadãos.   

Vejam os dois exemplos a seguir:

  • “Você não comprou esta casa”: sampéjan mboten tambas grija punika (em kromo); kowé ora tuku omah iki (em ngoko);
  • “Eu não durmo”: kulo mboten tilem (em kromo); oku ora tulu (em ngoko).   Fonte: MOPC Vídeo

Alguns outros exemplos, primeiro em ngoko e depois em kromo: casa (omah/grija), cavalo (djaran/kapal), água (banju/toja), grande (gedhé/ageng). Concordamos em que, de fato, se trata de duas construções absolutamente distintas dentro de um mesmo idioma. Assim é o javanês.

Ele é, como o indonésio e o malaio, membro da família de línguas malaio-polinésias, sendo falado por cerca de 80 milhões de pessoas, principalmente na ilha de Java, a mais populosa do mundo, onde se situa a capital da Indonésia, Jacarta. A língua javanesa é usada também em outras partes da Indonésia e em ilhas menores, como Timor. Além disso é utilizada em regiões de emigração javanesa, a exemplo do Suriname e da Nova Caledônia. Existem três dialetos principais do javanês, os quais formam um continuum, ou seja, as mudanças de vocabulário e fonética vão se intensificando gradualmente à medida em que ocorre um afastamento geográfico. São registrados mais de 20 subdialetos.

O javanês antigo (século IX ao XV) era escrito em um alfabeto próprio, derivado de línguas do sul da Índia. O javanês moderno, usado a partir do século XVI, já conta com um outro alfabeto, que vigora até hoje. Na prática o idioma pode ser escrito no alfabeto latino (que predomina atualmente), no árabe e no alfabeto javanês. Este último tem a particularidade da inserção, no início ou no interior das palavras, de letras que se comparam às maiúsculas do alfabeto latino, as quais têm a função de conferir à palavra um caráter honorífico. Alguns exemplos do curioso alfabeto javanês são encontrados ao fim do Post seguinte.

Algumas peculiaridades da língua russa (1)

Apresentamos a seguir algumas características da língua russa que podem despertar a curiosidade do leitor:

 – Construção “eu e mais alguém”. O falante do russo usa uma variante mais modesta e simpática: “nós com…”, mesmo em se tratando de uma só pessoa. Por exemplo: “Eu e Nikita …” é representado por “Мы с никитой …” (Mui s nikitoi), cuja tradução é “Nós com Nikita…”

– O termo para “faminto” é голоден (gólodien) no masculino e голодна (golodná) no feminino. No entanto, não existe a expressão para “sedento”, a qual é exposta de outra forma, bem objetiva: “quero beber” (хочу пить – khotchu piti).

Frase para sobremesa: A medida da vida deveria ser proporcional à intensidade da experiência mais do que à sua duração (Thomas Hardy, 1840-1928).

Até a próxima!

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