Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
109. O pai Goriot (Le père Goriot), Honoré de Balzac (1799-1850)
Este livro faz parte do monumental conjunto de quase cem romances e novelas escritos por Balzac e reunidos sob o título de A comédia humana (1835), considerada como a obra que fundou o Realismo na literatura moderna. “O pai Goriot”, que muitos analistas recomendam como a primeira leitura para quem deseja se iniciar no universo de Balzac, faz parte do bloco Estudos de costumes – Cenas da vida privada. A trama do livro se passa em 1819, à época da Restauração dos Bourbons, que foi o período compreendido entre a queda de Napoleão, em 1814, e a chamada Revolução de Julho, em 1830. A implantação de uma Monarquia Constitucional, em contraste com o regime absolutista anterior, trouxe novos ares de liberdade, todavia acompanhados de conflitos de classes nas grandes cidades francesas, também marcados por uma busca desenfreada pelo dinheiro.
O livro narra a história de duas filhas que, após explorarem impiedosamente os poucos recursos financeiros do pai, o abandonam no leito de morte. O enredo pode ser entendido como uma transposição da tragédia shakespeariana Rei Lear (v. Post 211) para a vida na França durante a primeira metade do século XIX. A maioria dos personagens, de moral elástica e duvidosa, reflete o aspecto cruel da sociedade naqueles anos difíceis. Como exemplo, pode-se mencionar o comportamento de um criminoso foragido que levanta a questão (originalmente proposta por Jean-Jacques Rousseau, 1712-78) sobre “a conveniência de matar alguém à distância – se isso fosse possível – sem lhe infligir nenhum tipo de tortura e sem nenhum risco de ser descoberto, unicamente com o propósito de herdar sua fortuna”.
Existem cinco adaptações cinematográficas dos anos 1910, 21, 45, 72 e 2004, esta última dirigida por Jean-Daniel Verhaege (1944-) e contando com o conhecido ator e cantor Charles Aznavour (1924-2018) no papel título.
Cabe menção o fato de uma das traduções feitas em Portugal levar o revolucionário título de “O tio Goriot” (?!). Aqui no Brasil, destacam-se, em ordem cronológica, a tradução de Gomes da Silveira para a Editora Globo (1987), a de Celina Portocarrero e Ilana Heimberg (Editora L&PM Pocket, 2006) e a de Rosa Freire D’Aguiar (Peguin-Companhia das Letras, 2015).
Balzac, um escritor bastante prolífico, logrou retratar magistralmente os fenômenos sociais na florescente burguesia francesa do século XIX. De infância pobre, acabou sendo enviado para uma escola de forte disciplina, onde frequentemente era trancafiado em um recinto insalubre como forma de castigo. Mas foi lá nesse ambiente que ele encontrou a oportunidade de ler intensamente as obras que o encantavam. Trabalhou durante alguns anos como estagiário em um escritório de advocacia, onde aprendeu a conviver com as complexas características da natureza humana. Começou a escrever ainda jovem, sob pseudônimo, para arrecadar algum dinheiro com dramalhões direcionados a um público pouco letrado. Sua família o considerava como um fracasso na literatura (como o mundo dá voltas…). Finalmente, em 1832, reuniu os melhores livros que tinha escrito e passou a trabalhar intensamente na redação de outros, compondo A comédia humana, um dos maiores acervos da literatura mundial. Nesta época sua rotina de trabalho consistia em um leve jantar às 18 h., seguido do sono até as 24 h., quando então despertava e trabalhava durante toda a madrugada. Com a saúde frágil, acabou falecendo aos 51 anos por problemas cardíacos, ainda jovem, mas já consagrado como um dos expoentes da fértil literatura francesa.
Língua indonésia (1)
Neste Post iniciaremos a apresentação dos idiomas da família malaio-polinésia, falados em ilhas do Pacífico e em algumas partes do Sudeste Asiático. Estas línguas guardam diversas características comuns, tais como a fonologia simples – com um conjunto menor de vogais e ausência de encontros consonantais – e a reduplicação (ou redobro) de palavras para indicação do plural e cumprimento de outras finalidades gramaticais.
De início, cabe destacar que as línguas indonésia (conhecida como bahasa indonesia) e malaia (bahasa melayu) constituem-se, em tese, no mesmo idioma, com uma absoluta compreensão mútua. Enquanto o primeiro é o idioma oficial da Indonésia, o segundo é o idioma oficial da Malásia. Nestes primeiros Posts mostraremos as características da língua indonésia e, em um Post seguinte, abordaremos as peculiaridades do idioma malaio.
Estima-se que aproximadamente 200 milhões de pessoas se comuniquem em indonésio, mas apenas 43 milhões o têm como primeira língua. Isto significa que cerca de 80% da população da Indonésia fala primordialmente os respectivos idiomas regionais, utilizando o indonésio apenas em escolas, em contatos formais e em ambientes de trabalho. Apenas como comparação, o javanês, que é um idioma regional (será visto mais à frente) possui 80 milhões de falantes, portanto bem mais do que os falantes nativos do indonésio.
A Indonésia, juntamente com a Índia e a Papua-Nova Guiné, são os maiores celeiros mundiais na produção de idiomas. Somente na Indonésia avalia-se a existência de aproximadamente 700 línguas (não estamos nos referindo a dialetos), das quais as mais relevantes serão apresentadas neste Blog.
A Indonésia (do grego indus – Índia e nesos – ilhas, portanto “ilhas da Índia”) foi dominada pela Índia no início da Era Cristã. Nos séculos XII a XIV, mercadores indianos, convertidos ao Islã, implantaram no país a religião muçulmana (atualmente a Indonésia é a nação com maior número de muçulmanos, cerca de 207 milhões). No século XVI os navegadores portugueses criaram entrepostos comerciais na região, o que levou à entrada de muitos vocábulos portugueses na língua indonésia, conforme veremos a seguir. No início do século XVII os holandeses ali se estabeleceram, fundando a célebre “Companhia Geral das índias Orientais”. A dominação holandesa, que deixou muitas marcas no idioma, se estendeu até a época da Segunda Guerra Mundial. De 1942 a 1945 a Indonésia foi ocupada pelo Japão, tornando-se então independente ao final desse período. Embora o javanês fosse a língua mais falada nas ilhas, o novo governo preferiu designar o indonésio – nada mais que uma adaptação do idioma malaio e que funcionava como uma língua franca (língua de contato) na Indonésia – para ser o idioma oficial do país, de tal sorte que nenhuma etnia fosse claramente privilegiada.
A seguir são mostrados alguns exemplos de empréstimos vindos da língua portuguesa: sepatu (sapato), boneka, mentega (manteiga), jendela (janela), kemeja (camisa), limau, serdadu (soldado), tinta, Natal, garpu (garfo), keju (queijo), meja (mesa), gereja (igreja), minggu (domingo) e dezenas de outros termos.
Na fonologia os sons das vogais são muito semelhantes aos do português. A exceção fica por conta do fonema vocálico “ɘ”, pronunciado como um intermediário entre “a” e “e”. Sim, é muito difícil para nós a emissão sonora dessa vogal. Já a consoante “r” pode ser pronunciada de três maneiras: o “r” apical (no ápice, i.e., ponta da língua, como no italiano burro, o “r” simples como em caro e o “r” gutural como em risco.
Escritores que faleceram jovens (6)
- Vladimir Maiakóvski, 36 anos, poeta e dramaturgo russo (19/07/1893-14/04/1930), obra mais destacada: 33 Poesias, suicídio (existem indicações de que o ato teria sido forjado pelas autoridades).
- Lord Byron (pseudônimo de George Gordon Byron), 36 anos (22/01/1788-19/04/1824), escritor britânico, obra mais conhecida: Don Juan, morto devido a febre contraída quando lutava na guerra da independência da Grécia.
- Florbela Espanca, poetisa portuguesa, pseudônimo de Flor Bela Lobo (08/12/1894-08/12/1930), suicidou-se no dia em que completou 36 anos. Na sua carta de despedida deixou o soneto: Não tenhas medo, não! Tranquilamente, como adormece a noite pelo outono, fecha os olhos, simples, docemente, como à tarde uma pomba que tem sono…
- Alexander Pushkin, 37 anos (06/06/1799-10/02/1837), considerado como o fundador da moderna literatura russa, principais obras: A filha do capitão, Boris Godunov, Eugene Onegin, morto em duelo.
Frase para sobremesa: A felicidade não é uma posse para ser estimada. É uma qualidade do pensamento, um estado mental (Daphne du Maurier, 1907-89).
Bom descanso!