Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
104. Seus olhos viam Deus (Their eyes were watching God), Zora Neale Hurston (1891-1960)
A antropóloga, cineasta e escritora norte-americana Zora Hurston destacou-se como uma das principais expressões da literatura afro-americana no século XX. Além de três romances, ela escreveu diversos contos e, também, ensaios sobre antropologia e comunidades negras. No entanto, suas obras caíram no esquecimento até meados da década de 1970, quando foram redescobertas por pesquisadores e leitores da literatura negra.
O romance “Seus olhos viam Deus” relata a jornada de uma mulher negra em busca por uma identidade, o que a leva a escolher a Flórida, sua terra natal, como o último destino. Ela fugia do casamento em busca de um caminho próprio na vida. A escritora Alice Walker, autora da obra “A cor púrpura” (v. Post 172) afirmou “que não há livro mais importante que Seus olhos viam Deus”. Os diálogos do romance são, em grande parte, escritos no linguajar da comunidade negra, denominado Black English Vernacular.
Os quatro avós de Zora nasceram na escravidão. O pai era pastor da Igreja Batista e a mãe professora. Era uma grande família, com oito filhos. Após trabalhar alguns anos como empregada doméstica, Zora conseguiu ingressar na Universidade de Howard, em Washington D.C., conhecida instituição de ensino superior para a comunidade negra. Em 1928, aos 37 anos de idade, ela conseguiu seu grau de bacharel em Antropologia. Zora faleceu com a idade de 69 anos, em decorrência de um AVC. Seus restos mortais permaneceram em uma sepultura sem identificação até 1973, quando então a amiga Alice Walker localizou o túmulo e ali colocou uma lápide.
Uma conhecida adaptação cinematográfica surgiu em 2005 tendo o título em português de “Aos olhos de Deus”. O filme foi dirigido por Darnell Martin (1964-) e contou com a atriz Halle Berry (1966-) no papel principal.
A única tradução feita para o português coube ao tradutor e escritor Marcos Santarrita (1941-2011), para a Editora Record, com a última edição saindo em 2021.
Língua ainu (2)
O que ainda ocorre é que muitos ainus têm vergonha ou receio de declararem o conhecimento da língua. Na ilha russa de Sacalina já não existe mais nenhum falante nativo de ainu, cuja etnia nunca foi reconhecida pela Rússia. Atualmente acredita-se que, na ilha de Hokkaido, existam de 25 mil a 200 mil falantes de ainu ou, pelo menos, capazes de compreendê-lo. Em Sapporo, capital da ilha, a língua passou a ser optativa nas escolas e cursos privados foram criados, assim como a revista Ainu Times, no entantopublicada apenas quatro vezes ao ano.
Os vários dialetos do ainu não são mutuamente compreensíveis. Para padronização foi escolhida a variante utilizada em Sapporo. A língua pode ser escrita em um alfabeto katakana modificado, o qual conta com alguns novos caracteres ou então no alfabeto latino levemente alterado, provido de acento circunflexo e com o mácron (diacrítico em barra para indicar que uma vogal é longa). O ainu é um idioma polissintético (no qual uma palavra pode ser acrescida de vários morfemas), sem gêneros e com a ordem S-O-V na frase. Uma peculiaridade da língua ainu é a existência de verbos plurais, também chamados verbos “de contagem”, os quais se alteram para indicar um conceito plural. Por exemplo, o verbo kor significa “ter alguma coisa”, ao passo que, com adição do sufixo “pa”, o verbo kor-pa adquire o sentido de “ter muitas coisas”. Bastante criativo.
Pronomes pessoais: kuani, eani, tan, chi, echi, tan.
Dias da semana: kunnecup-etoho, ape-etoho, wor-etoho, cicuni-etoho, kane-etoho, toy-etoho, tokapcup-etoho. Para quem acha pouco inspirada a repetição do nome etoho (dia), lembre-se do nosso idioma português.
Numerais de 1 a 10: shine, tu, re, ine, ashkine, iwa, arawa, tupesan, shinepesan, wa. À semelhança de outros idiomas, como o francês, o ainu adota o sistema vigesimal. Assim, por exemplo, 40 é expresso como duas vezes vinte.
Algumas expressões: Olá – Irankarapte. (イランカラㇷ゚テ。), Obrigado –Iyairaykere. (イヤイライケレ。), Desculpe – Ku-yayapapu. (クヤヤパプ。), Não entendo – kerampewtek. (ケラㇺペウテㇰ。), Até logo (para quem sai) – Apunno paye yan. (アプンノ パイェ ヤン。), Até logo (para quem fica) – Apunno oka yan. (アプンノ オカ ヤン。). Outros idiomas já vistos, que também possuem duas formas de despedida, são o romani, o tibetano, o lao e a língua de Okinawa.
Uma última observação: se vocês estiverem passeando pela bela ilha de Hokkaido e, por algum motivo, sentirem vontade de ir ao banheiro, não fiquem em dúvida: Homens – Okkay. Lembra bastante a expressão número um do planeta: OK.
Escritores que faleceram jovens (1)
De 20 a 25 anos:
- Álvares de Azevedo, 20 anos (São Paulo, 12/09/1831 – Rio de Janeiro, 25/04/1852), romantismo, principais obras: Lira dos vinte anos, Noites na taverna, causa da morte: tuberculose.
- Casimiro de Abreu, 21 anos (Barra de São João, atual Casimiro de Abreu-RJ,04/01/1839 – Nova Friburgo-RJ, 18/10/1860), poeta romântico (poema mais conhecido “Meus oito anos”: Oh! Que saudades que tenho, da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais…), tuberculose.
- Georg Büchner, 23 anos, escritor e dramaturgo alemão (17/10/1813 – 19/02/1837), realismo, obra mais conhecida: Woyzeck, tifo.
- Castro Alves, 24 anos (Porto da Cachoeira, atual Castro Alves-BA, 14/03/1847 – Salvador, 06/07/1871), conhecido como “o poeta dos escravos”, poema mais famoso: O navio negreiro, tuberculose.
Frase para sobremesa: Tão pobre somos que as mesmas palavras nos servem para exprimir a mentira e a verdade (Florbela Espanca, 1894-1930).
Até a próxima!