Post-208

Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)

103. Robinson Crusoé (Robinson Crusoe), Daniel Defoe (ca. 1660-1731)

Para quem se esqueceu, relembramos que a abreviatura ca. ou c. (de circa em latim) indica uma data aproximada, como é o caso do ano de nascimento de Daniel Defoe, escritor e jornalista inglês que produziu mais de 500 obras, dentre romances, poemas, panfletos políticos e religiosos. Sua movimentada vida ainda é envolta em algum mistério, embora se saiba que ele, além de escritor, atuava também como comerciante. Daniel esteve preso em algumas ocasiões, tanto por problemas políticos quanto pelo não pagamento de dívidas. Estamos aqui nos referindo ao autor, que, depois da Bíblia, é aquele que, provavelmente, coleciona o maior número de traduções. Tendo nascido como Daniel Foe, ele próprio acrescentou ao sobrenome a partícula “De”, que indicava uma origem aristocrática. Não apenas sua vida, mas também a morte é cercada de dúvidas. Conforme as pesquisas desenvolvidas atualmente, ele deve ter falecido em decorrência de um ataque cardíaco.

Dentre o público alfabetizado no nosso planeta, seguramente apenas poucas pessoas não devem ter lido a emblemática obra Robinson Crusoé (com a letra final acentuada nas versões em português). O romance foi publicado originalmente na forma de folhetim, em 1719. Como era usual na época, o livro apresentava um título muito longo, ocupando cinco linhas. O enredo, bastante conhecido por crianças e adultos (que também já foram crianças) aborda as aventuras de um náufrago que vive por 28 anos em uma remota ilha tropical, aparentemente deserta. No seu período final na ilha, Robinson acaba salvando um nativo de um ataque por índios canibais, eles tornam-se amigos e a pessoa recebe o curioso nome de “Sexta-feira”, um dos personagens mais carismáticos do livro. A trama é sabidamente inspirada na história real de um náufrago escocês que viveu por quatro anos em uma ilha do Pacífico (pertencente ao Chile), na época denominada Más a tierra e, desde 1966, rebatizada como “Robinson Crusoe”. Para não sermos injustos, vale registrar que, ainda no Pacífico, mas na ilha turística de Fiji, existe também a ilhota de Robinson Crusoe.     

Diversas adaptações cinematográficas foram feitas de um tema tão atraente. Para quem aprecia a sétima arte, pode ficar surpreso que o aclamado cineasta espanhol Luís Buñuel (1900-83) dirigiu o filme “As aventuras de Robinson Crusoe”, tendo o ator Dan O’Herlihy (1919-2005) no papel título. Outra película conhecida foi dirigida por George Miller (1943-2023) e com a presença do conhecido ator irlandês Pierce Brosnan (1953-).

Muitas são as traduções feitas para o português, a maioria delas sendo adaptações e/ou livros ilustrados. Dentre as traduções integrais podem ser destacadas a de Sérgio Flaksman (Penguin, 2012), a de José Roberto O’Shea (Zahar, 2021) e a edição comentada e ilustrada da Editora Ubu (2021) com tradução de Leonardo Fróes.    

Língua ainu (1)

A língua ainu é falada principalmente ao norte da ilha japonesa de Hokkaido. Até o início do século XX havia também falantes ao sul da ilha de Sacalina, localizada ao norte de Hokkaido e atualmente pertencente à Rússia e nas Ilhas Curilas, situadas a nordeste de Hokkaido e, desde 1875, fazendo parte do território japonês (parece um pouco confuso, mas é só a primeira impressão). Após diversas tentativas de agrupamento do idioma ainu nas famílias linguísticas austro-asiáticas, também no grupo das línguas urálicas e, por fim, nas famílias do japonês e do coreano, os especialistas chegaram à conclusão de que o ainu, de fato, é um idioma completamente isolado. Como se não bastasse a existência de tantos mistérios no nosso planeta, a origem do povo ainu é mais um deles. Avalia-se que essa etnia, por sua vez originada da mistura de algumas raças que viviam na região da península coreana, seja descendente do povo Joomon, que viveu no Japão de 14.000 a. C. até aproximadamente o século IV. Deve ser lembrado que as primeiras ocupações no território japonês ocorreram há cerca de 30.000 anos, quando o nível do mar ainda era baixo e o atual arquipélago estava conectado com o continente. A partir do fim da Era do Gelo, há mais ou menos 10.000 a.C, o nível do mar voltou a subir, proporcionando a formação do arquipélago japonês. A hipótese de uma ancestralidade caucasiana para o povo ainu foi definitivamente descartada pelos mais recentes estudos de DNA. Portanto, a origem dos ainus permanece ainda cercada de muitas dúvidas.

Essa etnia possui características físicas marcantes, distintas da maioria dos povos do planeta. Embora tenham um rosto típico de europeus, com um arco saliente dos supercílios, maçãs do rosto destacadas e a face provida de grandes orelhas, eles são hirsutos (corpo vastamente coberto de pelos), notadamente para os homens, os quais cultivam longas barbas. Mulheres, por sua vez, costumam tatuar os lábios, o que dá a aparência de um bigode. As crianças até os dois ou três anos de idade recebem nomes provisórios, quase sempre relacionados a lixo, fezes e excrementos. Tal costume é fundado na crença de que esta prática contribuiria para espantar os demônios ligados às doenças. Quando já estão mais crescidas, as crianças recebem os prenomes definitivos, os quais nunca são repetidos dentro de um mesmo clã.

Os primeiros contatos dos ainus com os japoneses ocorreram a partir do século XIII. Naquela época, a maioria da população infantil morria em decorrência de doenças transmissíveis, principalmente a varíola. Em 1899 o governo japonês passou a usar a denominação pejorativa de “antigos aborígenes”, os quais eram marginalizados dentro de um território que antes lhes pertencia. Todos os ainus eram obrigados a aprender a língua japonesa e a adotar nomes japoneses. Só em 1997 foi reconhecido o direito à preservação da cultura ainu. Os próprios ainus incentivavam a miscigenação com o povo japonês, no intuito de diminuir a discriminação que sofriam. Finalmente, em 2008, o povo ainu foi reconhecido como uma legítima etnia indígena, tendo direito a cultivarem seu idioma e suas tradições. De todas as línguas faladas em nosso planeta, talvez o ainu seja uma das que mais apresentam incertezas em relação ao seu número de usuários. Em pesquisa realizada em 2017 na ilha de Hokkaido constatou-se que apenas 0,7% da população era fluente em ainu. Estudos posteriores mostraram um quadro ainda pior, em que menos de 20 pessoas (!) usavam a língua ainu nas suas conversas do dia a dia, levando a UNESCO a classificá-la como de altíssimo risco de extinção. Mas então veio a reviravolta, o renascimento do idioma como fruto do esforço de políticos e intelectuais japoneses.

Uso incomum de algumas palavras e expressões

  • O hélice do barco: “hélice” é um substantivo de dois gêneros, com significados variáveis. No entanto, as marinhas do Brasil e de Portugal preferem o uso do masculino no sentido de “peça dotada de pás para propulsão de embarcações”;
  • Célebre: estranho, extravagante, singular;
  • Bizarro: valente, brioso, nobre, generoso;
  • Formidável: assustador, aterrador.
  • A horas: pontualmente;
  • À puridade: particularmente;
  • Pedestre: sem brilho, rústico, modesto;
  • Esquerdo: constrangedor, desagradável; desajeitado, canhestro.

Frase para sobremesa: Livros não são coisas absolutamente mortas. Eles contêm uma espécie de vida potencial tão prolífica quanto a da alma que o engendrou. E mais: eles preservam, como num frasco, o mais puro e eficaz extrato do intelecto que os produziu (John Milton, 1608-74).

Bom descanso!

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