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Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)

99. As flores do mal (Les fleurs du mal), Charles Baudelaire (1821-67)

O poeta francês Charles Pierre Baudelaire é considerado como um dos fundadores da tradição moderna em poesia assim como um dos mais relevantes marcos da poesia simbolista. Sua obra mais conhecida é o livro de poesias “As flores do mal”, composto inicialmente por cem poemas, mas sofrendo acréscimos nas edições subsequentes. Sua primeira publicação ocorreu em 1857, quando o autor tinha 36 anos. No entanto, sob acusação de ultraje à moral pública, os exemplares foram apreendidos. O autor e o editor foram obrigados a pagar multas, sendo que este último foi condenado pela justiça e levado a um exílio forçado. Toda essa confusão teve como origem a existência de alguns poemas obscenos, no número exato de seis, na obra publicada. Estes poemas censurados foram imediatamente suprimidos pelo autor e substituídos por outros que o próprio Baudelaire comentou “serem de muito melhor qualidade”. Edições subsequentes ocorreram em 1861 e 1868, com complementações de novos poemas, alguns deles em prosa. O conteúdo desse famoso livro, que não possui um fio condutor claramente delineado, envolve aspectos de fascinação, sensualidade, inquietudes e paixões ou, conforme as palavras do autor “neste livro atroz pus todo o meu pensamento, todo o meu coração, toda a minha religião e todo o meu ódio”.

Em linhas genéricas, Baudelaire não deve ter sido uma pessoa de convívio fácil, pelo menos no olhar da sociedade parisiense de meados do século XIX. Órfão de pai aos seis anos de idade, foi criado pela mãe e pelo padrasto, um general do exército. Na infância a família se mudou para Lyon, onde o garoto cumpriu a escola fundamental, no entanto sendo expulso por indisciplina. Quando ele tinha 19 anos, o padrasto, cansado de tanta insubordinação e da vida desregrada levada pelo enteado, resolveu colocá-lo em um navio em direção à India, para que lá, no país dos hinduístas, ele pudesse relaxar o espírito. O fato é que Baudelaire não chegou ao seu destino, pois abandonou o navio quando este atracou na Ilha de Reunião (dependência francesa no Oceano Indico) e resolveu retornar à França. Nessa mesma época, ele, para desespero da família, ganhou a posse da fortuna deixada pelo pai. Após dois anos consumindo dinheiro em álcool, drogas e mulheres, a própria mãe acionou a justiça, quando então as despesas passaram a ser controladas por um notário. Baudelaire traduziu diversas obras do escritor norte-americano Edgar Allan Poe, que também conduzia uma vida plena de sobressaltos.

Baudelaire sempre foi uma pessoa enfermiça, acometido por episódios de afasia e por frequentes desmaios. Nos seus últimos anos de vida ficou hemiplégico (paralisia em metade do corpo), vindo a morrer por sífilis aos 46 anos de idade. Ele não conheceu em vida a fama que passaria a ter algumas décadas depois. Na sua fase mais produtiva como escritor tentou, sem sucesso, entrar para a Academia Francesa, cujas portas foram fechadas para um dos mais celebrados poetas franceses. Assim são as teias do destino.   

O único filme de destaque sobre a vida de Baudelaire tem o título de sua obra-prima: Les fleurs du mal. Foi lançado em 1991, sob direção de Jean-Pierre Rawson (1936-2020), com o ator Antoine Duléry (1959-) no papel de Baudelaire. 

Existem diversas edições do livro “As flores do mal” em língua portuguesa. Uma das pioneiras foi a tradução feita pelo poeta Eduardo Guimaraens, 1892-1928, (na verdade, a grafia correta era Guimarães, mas ele resolveu inovar) e terminada em 1927. Uma neta do tradutor descobriu os manuscritos encadernados, esquecidos em uma gaveta, providenciando sua publicação pela Editora Libretos em 2019. O leitor dispõe de, pelo menos, 3 edições bilingues do livro: Editora Nova Fronteira, tradução de Ivan Junqueira, 2016, Editora Penguin, tradução de Júlio Castañon Guimarães, 2019, e Editora 7 Letras, edição comemorativa do bicentenário de nascimento de Baudelaire (2021), traduzida por Margarida Patriota.

Língua japonesa (1)

O idioma japonês (nihongo) é falado por aproximadamente 130 milhões de pessoas, incluindo a totalidade da população do Japão e núcleos em alguns países da região do Pacífico, como Guam, Palau, Taiwan e o estado norte-americano do Havaí. Os linguistas costumam afirmar que não há idioma no mundo que tenha sido mais profundamente pesquisado em relação às suas possíveis origens e relações com outras línguas do que o japonês. Há algumas décadas houve a tentativa de classificá-lo como pertencente à família das línguas altaicas, mas atualmente essa hipótese já está descartada. Por si só a família altaica é um poço de dúvidas quanto às relações existentes entre as diversas línguas. Nos nossos Posts segui a tendência moderna de enquadrar, por exemplo, as línguas bálticas (finlandês, estoniano, húngaro) na família fino-úgrica e não na chamada uralo-altaica. Voltemos ao japonês. Depois de muitas idas e vindas, a maioria dos filólogos considera o japonês como fazendo parte de uma família independente, denominada de “línguas japônicas”. Um dos ramos dessa família engloba o próprio idioma japonês e diversos dialetos minoritários. O outro ramo é formado pelas línguas ryukyuanas, faladas na região das ilhas Ryukiu, um arquipélago localizado ao sul do Japão. A ilha mais conhecida é Okinawa, onde existem bases militares norte-americanas, além de ser famosa pela longevidade de seus habitantes. Se vocês perguntam se estes dois ramos são mutuamente inteligíveis, a resposta é não. Mostraremos mais à frente as principais características do dialeto de Okinawa, considerado por muitos como um idioma separado do japonês. 

No Brasil existem cerca de 1,5 milhão de descendentes dos imigrantes japoneses, consistindo no maior contingente fora do Japão. A imigração foi iniciada em 1908, quando chegaram os primeiros navios ao porto de Santos. O termo genérico para a designação de um descendente de japonês é nikkei. Aqueles de primeira geração, portanto nascidos no Japão, são os issei. As gerações seguintes são denominadas nissei (segunda geração), sansei (terceira geração), yonsei (quarta geração). Contudo, a comunicação familiar na língua japonesa vai se rareando a partir da terceira geração.    

Como a terra japonesa se localiza em uma região insular, ela recebeu uma ocupação humana mais tardia em relação às terras continentais. Estima-se que os primeiros habitantes tenham chegado ao arquipélago japonês por volta de 30.000 anos atrás. A etnia atual é descendente do povo yayoi, o qual, provavelmente ocupou as ilhas quando foram expulsos da região da península coreana. Em meados do século IV as diversas tribos já estavam unificadas. No século XII surgiu uma nova aristocracia militar nascida de guerreiros camponeses, conhecidos como samurais. No século XVI os primeiros navegantes europeus, principalmente portugueses, chegaram às terras japonesas. Em 1603 o shogun (senhor feudal) Ieyasu Tokugawa estabeleceu a capital administrativa na cidade de Edo (atual Tóquio), proibiu o cristianismo, expulsou os missionários e fechou o país à entrada de estrangeiros. Somente em 1867 a situação foi revertida. O país, em língua japonesa, tem a denominação de Nippon, termo que corresponde a “terra do sol nascente”. Uma das possíveis origens para o nome Japão é a expressão malaia Jih-pun, com o significado de “origem do sol”.  (continua)

Vencedores do Prêmio Camões de Literatura (35)

2022: Silviano Santiago (1936-)

Um dos maiores intelectuais brasileiros, Silviano se notabilizou como ensaísta, poeta, contista, romancista e um celebrado professor. Nascido em Formiga-MG, mudou-se para Belo Horizonte com dez anos de idade. Em 1954 começou a escrever para uma revista de cinema. Nos anos seguintes publicou seus primeiros contos em diversa antologias. Graduado em 1959 em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais, mudou-se no ano seguinte para o Rio de Janeiro. Como na época ainda não havia no Brasil programas de formação em Mestrado e Doutorado, Silviano conseguiu uma bolsa do governo francês para a realização de Doutorado em Literatura Francesa na Universidade de Paris (Sorbonne). Em seguida atuou como docente na Universidade do Novo México, EUA, onde ficou de 1962 a 64. A partir daí sua carreira didática internacional seguiu de vento em popa, com experiências nas universidades norte-americanas de Rutgers, Nova Iorque, Buffalo e Indiana, além da universidade canadense de Toronto. De volta ao Brasil, tornou-se, ao longo dos anos, Professor Catedrático da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ) e da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Silviano traduziu do francês obras dos escritores Jacques Prévert e Alain Robbe-Grillet. No total, escreveu mais de 30 livros, dos quais dez são romances. Dentre as produções mais recentes tem-se “Menino sem passado”, uma autobiografia publicada em 2021 e a antologia “Grafias de vida – a morte” de 2023. Silviano é dos mais premiados escritores do país, já tendo ganhado três Prêmios Jabuti, o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, o Prêmio Oceanos e o Prêmio Casa de las Américas. Um portentoso currículo!    

Frase para sobremesa: Não deixaremos de explorar e, ao término da nossa exploração deveremos chegar ao ponto de partida e conhecer esse lugar pela primeira vez (T.S. Elliot, 1888-1965).

Bom descanso!

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