Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
93. A cartuxa de Parma (La chartreuse de Parme), Stendhal (1783-1842)
No Post 140 mencionamos que Stendhal tinha escrito apenas dois romances completos, ambos de enorme significado na literatura internacional: O vermelho e o negro e A cartuxa de Parma. Na oportunidade, discorremos um pouco sobre a movimentada vida do escritor. Curiosamente, ambas as obras não obtiveram sucesso no seu lançamento, o que só viria a ocorrer cinco décadas depois. Alguns escritores franceses, tanto antigos quanto contemporâneos, consideraram “A cartuxa de Parma” como o melhor romance francês já escrito. Dentre eles, destaca-se Honoré de Balzac (1799-1850), a figura mais icônica do Realismo, que aconselhou Stendhal a suprimir alguns trechos do seu livro, para tornar a leitura mais fluida. É sabido que Stendhal tinha concretas dificuldades para terminar suas obras, o que combina com o espírito aventureiro e voluntarioso do grande autor.
O que surpreende no romance “A cartuxa de Parma” é o curto tempo dedicado à sua redação: apenas 53 dias. Na verdade, Stendhal não escrevia, ele ditava as frases a escribas contratados, o que vem a ser ainda uma forma mais difícil de registro. A cartuxa do título é um convento da ordem religiosa dos cartuxos, fundada pelo monge alemão São Bruno em 1066. Essa ordem é considerada como a mais rígida no âmbito da Igreja Católica. O personagem principal (Fabrício) é um jovem aventureiro italiano, de família nobre e grande admirador de Napoleão. Na época da publicação do livro, a Itália passava pela restauração da monarquia em territórios antes pertencentes ao império napoleônico, a exemplo do Ducado de Parma. Stendhal conhecia muito bem a Itália, tendo inclusive sido cônsul da França nesse país. Fabrício resolve participar da famosa batalha de Waterloo (1815), ocorrida na Bélgica e que significou a derrota final de Napoleão. Pelo fato de ser italiano, ele é preso sob suspeita de espionagem. Este é apenas o início de uma vida leviana, marcada por amores fúteis e conchavos políticos, até que se apaixona firmemente por uma donzela. O malogro do romance faz com que ele abrace a carreira eclesiástica. O convento, na cidade italiana de Parma, é o único local onde Fabrício encontra refúgio e paz nas suas atribulações.
Uma famosa adaptação cinematográfica foi lançada em 1948, com direção de Christian-Jaque (1904-94) e atuação do galã francês Gérard Philippe (1922-59). Além desse, existem outros dois filmes produzidos para a televisão. Dentre as traduções brasileiras, podem ser mencionadas a de Rosa Freire Aguiar (2012, Penguin) e a de José Geraldo Vieira (2023, Sétimo Selo).
Outras línguas mongólicas: Santa (Dongxiang), Tangwang, Monguor
A língua santa, também chamada de dongxiang no noroeste da China é uma língua da família mongólica falada por aproximadamente 200.000 pessoas. Ao contrário dos outros idiomas mongólicos, ela não possui uma consistente harmonia vocálica (escolha de determinados sufixos para tornar a frase mais sonora), ou seja, as regras que regem a pronúncia e colocação dos sufixos não são tão rígidas quanto no mongol. A colocação das palavras na frase é do tipo S-O-V, embora nos dialetos chineses a forma S-V-O seja preferida. Foi criado um alfabeto latino para a língua santa, mas ele não é mais usado. Atualmente o idioma é escrito com o alfabeto árabe.
Números de 1 a 10: niy, ghua, ghuran, jierang, tawun, jirghun, dolon, naiman, yisun, haron.
Existem cerca de 20.000 pessoas vivendo na área de influência do idioma santa, que não falam esse idioma, mas sim uma língua crioula (aquelas derivadas de um sistema rudimentar de comunicação) que foi batizada como Tangwang (conjunção dos nomes de duas aldeias locais). Ela também utiliza o alfabeto árabe na sua escrita. Além dos aspectos tradicionais perfeito e imperfeito, existe também o aspecto continuativo (marca a continuidade uma ação).
Os pronomes pessoais são: bi, chi, hhe/tere/egwen (conforme o grau de formalidade), matan, ta/tan, hhela/terela, egvenla.
Um exemplo de expressão: Se chujegheye (até logo).
A língua mongólica monguor é falada por aproximadamente 160.000 pessoas no nordeste da China. Existem dois dialetos principais, que são pouco inteligíveis mutuamente. O alfabeto utilizado é o latino adaptado.
Números de 1 a 10: nige, ghoori, ghuran, deeran, tawun, jirighun, duluun, niiman, shzin, haran. Observa-se que são muito semelhantes aos numerais da língua santa.
Vencedores do Prêmio Camões de Literatura (29)
2016: Raduan Nassar (1935-)
É impressionante que um autor tenha recebido o maior prêmio da língua portuguesa com a redação de apenas três livros (segundo ele próprio, dois e meio). Raduan Nassar é filho de comerciantes libaneses que migraram para o Brasil em 1920. Em 1955 ele começou a estudar Direito e Literatura na USP (Universidade de São Paulo) e passou a ter contato com uma roda paulistana de escritores. Sua estreia na literatura deu-se em 1975 com o romance Lavoura Arcaica, que narra a história de um jovem do meio rural que abandona a família no interior para ir morar na cidade. A obra, que recebeu o Prêmio Jabuti em 1976, foi adaptada ao cinema por Luiz Fernando Carvalho (1960-). Em 1978 foi publicada a novela Um copo de cólera, escrita em 1970. Trata-se de uma obra curta, passada no período de uma manhã, sobre o rompimento na relação de um casal. Os capítulos de um a seis são narrados pelo homem, enquanto o capítulo sete é narrado pela mulher. Ele também foi transformado em filme, sob direção de Aluízio Abranches (1961-). Sua última obra, lançada em 1977, é o livro de contos Menina a caminho, escritos nas décadas de 1960 e 70.
Em 1984 Nassar deixou de escrever, mudando-se para um sítio em Pindorama-SP, sua cidade natal. A concessão desse Prêmio Camões foi a mais conturbada na história do galardão. Em cerimônia ocorrida em fevereiro de 2017, o contemplado pronunciou um forte discurso político contrário ao governo brasileiro vigente, tendo sido veementemente rebatido pelas autoridades oficiais ali presentes.
Frase para sobremesa: Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas (Monteiro Lobato, 1882-1948).
Até a próxima!