Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
90. O Conto da Aia (The Handmaid’s Tale), Margaret Atwood (1939-)
Uma das mais conhecidas escritoras canadenses, frequentemente especulada para o recebimento do Prêmio Nobel de Literatura, Atwood conseguiu uma marcante projeção internacional com o lançamento, em 1985, do romance “O Conto da Aia”. Em Portugal o livro foi traduzido com o título de “A história de uma serva”. Trata-se de uma obra com características distópicas (como já vimos em diversos outros Posts), passada em futuro próximo na República fictícia de Gileade onde predomina uma teonomia (governo por leis divinas) totalitária. Neste país não há mais jornais, revistas, filmes e livros, além da extinção das universidades. O romance é narrado em primeira pessoa pela personagem Offred, que pertence à classe de servas ou aias mantidas para fins reprodutivos. A obra inspira pertinentes reflexões sobre a liberdade, direitos civis e, como um todo, sobre a fragilidade do mundo. A autora rejeita a classificação do livro como sendo de ficção científica. Para ela, como não há monstros e naves espaciais, o melhor atributo seria de ficção especulativa, onde são relatadas situações passíveis de ocorrência. O livro, muito bem recebido no seu lançamento em 1985, suscita complexos debates sobre temas tão complexos e atuais.
Margaret Eleanor Atwood, romancista, contista, poetisa e crítica literária, teve um pai entomologista (especialista em insetos) que a levava junto nas suas pesquisas em florestas. Desde nova, Margaret se envolvia com o reino animal, com as lendas e mitos que prepararam sua mente para as fantasias que floresceriam anos depois. A decisão de se tornar escritora veio aos 16 anos de idade. Ela graduou-se em Artes em 1961 pela Universidade de Toronto, tendo sido professora de Língua e Literatura Inglesa em várias universidades canadenses. Junto com o sucesso literário, ela passou a receber diplomas honorários de conceituadas universidades, a exemplo de Oxford, Cambridge e Sorbonne. Atwood escreveu 18 romances, 15 livros de poesia e 10 de contos, além de livros infantis e de não ficção. Recebeu o Prêmio Arthur C. Clarke (ficção científica) em 1987, tendo sido ainda nomeada para o prestigiado Man Booker Prize. O livro “O Conto da Aia”, transformado em série de TV em 2017, foi adaptado ao cinema em 1990. O filme no Brasil teve o título de A decadência de uma espécie, sob direção do alemão Völker Schlöndorff (1939-) e atuação da britânica Natasha Richardson (1963-2009). As traduções brasileiras ficaram a cargo de Márcia Serra (Editora Marco Zero, 1987) e Ana Deiró (Editora Rocco, 2017 e 2021).
Língua mongol (3)
Quanto à gramática, a língua mongol moderna é derivada do mongol clássico, este, por sua vez, proveniente do mongol médio, que era a língua falada na época do Império. Existem dezenas de dialetos, a maior parte deles mutuamente inteligíveis. O mongol é um idioma aglutinante, isto é, as declinações são expressas por meio da adição de sufixos, conforme o caso gramatical. Vamos a uma palavra que nos é tão cara: nom (livro). No caso nominativo, como usual, não há variação, no acusativo (objeto direto) é nomyg, no dativo (objeto indireto) é nomd, no genitivo (relação de posse) é nomin, no instrumental (meio de execução da ação) é nomoor e no ablativo (indica afastamento) é nomoos. Também não vejo dificuldades.
A língua mongol não possui artigos definidos, nem gêneros, nem conjugações verbais. Tampouco existem pronomes relativos (a pessoa que…), o que é algo raro no mundo dos idiomas. A construção da forma interrogativa depende se a resposta é do tipo sim/não ou se é dada de outra maneira. A ordem preferida das palavras é S-O-V. Os pronomes demonstrativos são divididos em dois grupos: proximal (objeto próximo ao falante) e medial (objeto próximo ao interlocutor). O verbo “ter”, que não existe, é expresso, ao exemplo do russo e de outros idiomas, com uma construção perifrásica. Por exemplo, “eu tenho um livro” é dado por “comigo livro está”.
Pronomes pessoais: bi, tchi (informal)/ta (formal), ter, man (exclusivo)/bide (inclusivo), ta, ted. Para o pronome “nós” existem as formas exclusiva e inclusiva. A primeira exclui o interlocutor e a segunda o inclui, algo bastante racional e prático, pois não deixa dúvidas. Tal construção é comum em línguas indígenas das Américas e em diversos idiomas asiáticos, conforme já vimos em alguns Posts.
Números de 1 a 10: ᠑ (нэг – neg), ᠒ (хоёр – khoyor), ᠓ (гурав – gurav), ᠔ (дөрөв – döröv), ᠕ (тав – tav), ᠖ (зургаа – zurgaa), ᠗ (долоо – doloo), ᠘ (найм – najm), ᠙ (ес – yes), ᠑᠐ (арав – arav). A notação aqui apresentada é a do alfabeto mongólico. No cirílico os numerais têm a mesma grafia das línguas ocidentais.
Dias da semana: Neg dekh ödör, Khoyor dakhi ödör, Gurav dakhi ödör, Döröv dekh ödör, Tav dakhi ödör, Khagas sain ödör, Büten sain ödör. Longos e difíceis. Observem que os dias de segunda a sexta-feira correspondem aos números de 1 a 5.
Algumas expressões: Сайн уу? (Sain uu – Olá), Өглөөний мэнд (Öglöönii mend – Bom dia), Баяртай (Bayartai – Até logo), Би ойлгохгүй байна (Bi oilgokhgüi baina – Eu não entendo), Уучлаарай (Uuchlaarai – Desculpe), Би чамд хайртай (Bi chamd khairtai – Eu te amo), Баярлалаа (Bayarlalaa – Obrigado). Fonte: Omniglot
Vencedores do Prêmio Camões de Literatura (26)
2013: Mia Couto (1955-)
O escritor moçambicano Mia Couto (pseudônimo de Antônio Emílio Leite Couto) é bastante conhecido no Brasil, sendo inclusive sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras e Doutor honoris causa da UNESP (Universidade Estadual Paulista). No ano seguinte à premiação do Camões ele foi contemplado com o Prêmio Neustadt, tido como o Nobel Americano.
Mia Couto começou a publicar poemas em revistas aos 14 anos de idade. Na antiga capital Lourenço Marques (atual Maputo), ele iniciou os estudos universitários em Medicina, os quais foram abandonados três anos depois para se dedicar ao Jornalismo. Em 1983 publicou o primeiro livro de poesias (Raiz de Orvalho) e dois anos depois decidiu continuar os estudos na área de Biologia.Seu primeiro romance foi Terra Sonâmbula, lançado em 1992. Mia Couto já publicou 18 romances e seis livros de contos, além de incursões também no campo da Poesia. Suas obras, escritas no estilo do Realismo Mágico, apresentam um rico vocabulário de origem moçambicana. Uma das mais populares é o romance Um Rio chamado Tempo, uma Casa chamada Terra, adaptada ao cinema pelo diretor português José Carlos Oliveira (1951-).
Frase para sobremesa: Não tenho casa, apenas uma sombra. Mas sempre que você estiver precisando de uma sombra, minha sombra é sua (Malcom Lowry, 1909-57).
Bom descanso!