Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
88. A letra escarlate (The Scarlet Letter), Nathaniel Hawthorne (1804-64)
Segundo Fernando Pessoa, um dos tradutores do livro para a língua portuguesa, este “é o maior dos romances norte-americanos”. De fato, grande parte da crítica estadunidense considera Hawthorne como o primeiro grande escritor dos Estados Unidos. Esta obra inicial do autor, lançada em 1850, teve sucesso imediato, com a edição de lançamento sendo rapidamente esgotada. A história se passa na cidade de Boston, em que a personagem principal, Hester Prynne, é obrigada a sempre usar a letra “A” bordada no peito em cor escarlate, pelo fato de ter tido uma relação adúltera. No entanto, seu comportamento discreto, honrado e prestimoso faz com que, lentamente, a população da cidade vá mudando de opinião acerca da adúltera, que sempre protegeu a identidade do desconhecido amante. O livro, que tem como temas centrais a moral e o extremo pudor, destaca os confrontos das pessoas com a rigidez da sociedade puritana da época.
Nathaniel Hawthorne era bisneto de um dos juízes do infame julgamento de pretensas feiticeiras, ocorrido em 1692 na cidade histórica de Salem (Massachusetts), colonizada por puritanos vindos da Inglaterra. Ele começou a escrever contos e poesias ainda adolescente. A partir de 1849 (portanto, um ano antes do lançamento de “A letra escarlate”) passou a se dedicar exclusivamente à escrita. Foi autor de oito romances e de alguns livros infantis. Curiosamente, a obra Fanshawe, publicada anonimamente em 1828, nunca foi reconhecida como sua, malgrado as fortes evidências. Tal fato não é tão raro no meio dos escritores que, por motivos variados, renegam livros publicados sem o nome do autor. Hawthorne viveu quatro anos em Liverpool (Inglaterra) na qualidade de cônsul norte-americano.
O famoso romance teve duas adaptações para o cinema. A primeira, em 1926, foi um filme mudo dirigido pelo sueco Victor Sjöström (1879-1960), com atuação de Lilian Gish (1893-1993), considerada como a maior atriz da época do cinema mudo. Em Portugal este filme teve o título de “A mulher marcada”. A segunda adaptação foi feita pelo diretor franco-britânico Roland Joffé (1945-), com a atriz Demi Moore (1962-) no papel principal.
A primeira tradução brasileira do livro foi feita por Sodré Viana, em lançamento da Editora José Olympio (1942). Dentre as traduções mais recentes podem ser citadas: Christian Schwartz pela Editora Penguin (2011), Diego Raigorodsky pela Editora Martin Claret (2017), Antônio Pinto de Carvalho pela Nova Fronteira (2023) e Luiz Roberto M. Gonçalves pela Panda Books (2023).
Língua mongol (1)
Com este Post iniciaremos a apresentação das línguas mongólicas. Em épocas passadas alguns linguistas as classificavam como pertencentes à família altaica de idiomas, juntamente com as línguas túrquicas. Atualmente essa hipótese é rechaçada. O que se acredita é que tenha havido a formação de um Sprachbund (termo alemão usado em filologia para se designar uma “área linguística”), ou seja, as eventuais semelhanças entre alguns idiomas não seriam devidas à existência de um ancestral comum, mas sim a um intenso e constante intercâmbio cultural.
Comentaremos aqui a língua mongol, que é o principal idioma da pequena família, seguido do calmuco, da língua buriata (330.000), da santa (dongxiang) e da monguor. As línguas mongólicas restantes, cerca de uma dezena, com algumas em processo de desaparecimento, são faladas por minorias étnicas espalhadas por territórios da Mongólia e da China.
A língua mongol é o idioma oficial na Mongólia (país independente) e na chamada “Mongólia Interior”, região autônoma situada dentro da China. Estima-se em 6,2 milhões o número total de falantes.
Vamos a um pouco da história do povo. Os mongóis são um grupo étnico que habita as estepes da Ásia Central desde o século VIII. O apogeu do Império Mongol ocorreu entre os séculos XIII e XIV, época em que o líder Gengis Khan (1162-1227) conseguiu a unificação de várias tribos nômades. Esse gigantesco império, o maior da humanidade em terras contíguas (superado apenas pelo Império Britânico em superfície total), conectou o Oriente com o Ocidente, se estendendo do Oceano Pacífico ao Mar Mediterrâneo, desde a Polônia, a oeste, até a península coreana, a leste. Após a morte de Gengis Khan se iniciou a ruptura do império, provocada pelas frequentes guerras de sucessão. A parte oriental do enorme território ficou, até 1294, sob o domínio de Kublai Kahn (1215-94), neto de Gengis. No século XVIII, sob a dinastia Qing, a China incorporou as áreas correspondentes ao que hoje são a Mongólia e a Mongólia Interior. Com o colapso da dinastia Qing, começou o gradual processo de separação da Mongólia, que chegou a se declarar independente em 1911. Contudo, foi só em 1924 que se consolidou a formação da República Popular da Mongólia, o segundo país do mundo (depois da União Soviética) a se tornar comunista. O líder Yumjaagiin Tsedenbal (1916-91) foi por 44 anos o governante da nação mongol. Ele, reiteradas vezes, tentou que a Mongólia fosse incorporada ao território da União Soviética. Só após 1992, quando já havia ocorrido a fragmentação da União Soviética, a Mongólia conseguiu implantar um sistema político multipartidário e dar seus primeiros passos em direção à democracia. A Mongólia é o país do mundo (dentre os independentes) com a menor densidade demográfica, apenas 4,9 habitantes/km2. Neste aspecto a Groenlândia (dependência da Dinamarca) é imbatível: 0,08 habitantes/km2. Como comparação, temos no Brasil 25 habitantes/km2. E a maior do mundo? Macau (região administrativa especial da China) com mais de 21.000 habitantes/km2 e, dentre os independentes, Mônaco com 18.000 habitantes/km2. É hora de voltarmos ao idioma.
Vencedores do Prêmio Camões de Literatura (24)
2011: Manuel Antônio Pina (1943-2012)
Poeta muito conhecido em Portugal, escreveu 17 livros de poemas e 22 de literatura infanto-juvenil. Era licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, embora sua principal profissão tenha sido a de jornalista por mais de três décadas. O primeiro livro, publicado em 1973, teve o título de “O país das pessoas de pernas para o ar”. No ano seguinte lançou o primeiro livro de poesias, com o curioso título de “Ainda não é o fim nem o princípio do mundo, calma, é apenas um pouco tarde”. Suas obras são sempre marcadas pela originalidade e pelo humor. Em 2005 foi nomeado Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, que é uma ordem honorífica portuguesa criada em 1960 para destacar a prestação de relevantes serviços ao país. Em 2011, um ano antes de morrer, foi contemplado com o Prêmio Camões de Literatura.
Frase para sobremesa: Não gostamos tanto das pessoas pelo bem que nos fizeram quanto pelo bem que lhes fizemos (Laurence Sterne, 1713-68).
Bom descanso!