Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
85. Viagem ao fim da noite (Voyage au bout de la nuit), Louis-Ferdinand Céline (1894-1961)
O escritor Céline, como gostava de ser chamado, é um dos mais controversos autores na história da literatura. Nascido como Louis-Ferdinand Auguste Destouches, lutou na Primeira Guerra Mundial, quando foi ferido, trabalhou alguns anos em uma empresa madeireira no Camarões e, de volta à França, começou a estudar medicina, graduando-se em 1922. Em 1925 abandonou a família (esposa e filhos) e saiu viajando pelo mundo, sob o patrocínio da Liga das Nações, organismo internacional criado pelas potências vitoriosas na Primeira Guerra. E de onde vem a controvérsia em torno do seu nome? Uma única palavra a explica: antissemitismo. Céline, por razões nunca plenamente compreendidas era um ferrenho inimigo dos judeus. Colaborou com as tropas alemãs que ocuparam a França durante a Segunda Guerra Mundial, delatou companheiros, escreveu panfletos a favor do Nazismo, em suma, tornou-se “uma vergonha pública” conforme o veredito de sua condenação após o final do conflito. Com o auxílio dos alemães, conseguiu fugir para a Dinamarca, onde viveu por seis anos, sendo um deles na prisão. No retorno à França voltou a ser preso e teve a metade dos seus bens confiscados. Finalmente, foi anistiado em 1951.
Seu primeiro romance, “Viagem ao fim da noite”, é visto por muitos críticos como uma obra-prima. De cunho autobiográfico, tendo a figura do narrador-personagem, a obra é envolta por um pessimismo angustiante, descrevendo um mundo onde a paz e o amor entre os povos são considerados impossíveis. Céline destaca a fragilidade da condição humana, a hipocrisia dos ricos, o cinismo dos políticos, a alienação das massas e o desespero dos pobres. Sua grande inovação não foi o tema escolhido – já que escritores pessimistas existem à profusão – mas a forma como é apresentado. Ele inova no estilo da “musicalidade das frases” e da utilização de gírias e de uma linguagem vulgar. Como tal, o autor foi alçado à condição de um dos ídolos do movimento beat, precursor da geração hippie, com a pregação de uma vida nômade e a formação de comunidades de amigos. Stalin afirmava que esse romance era o seu livro de cabeceira. Admirado e odiado por público e crítica, esse é o difícil equilíbrio na vida de Céline. Obviamente cada pessoa tem suas razões ou crenças para assumir alguma postura. Todavia, grande parte da população francesa e notáveis escritores em outros países hesitam em apoiar alguém de comportamento tão discriminatório. Céline morreu de aneurisma aos 67 anos. A tradução brasileira da obra foi feita por Rosa Freire d’Aguiar, em edição de 2009 da Companhia das Letras.
Língua vietnamita (1)
É o idioma oficial do Vietnã, falado por um contingente de 80 a 90 milhões de pessoas. Em épocas passadas ele era escrito em caracteres chineses adaptados, conhecidos como Chu Nom. A chegada de missionários, principalmente portugueses, levou à criação de um alfabeto latino modificado no século XVII. Contudo, ocorria uma resistência da população a abandonar a escrita chinesa. Só a partir do início do século XX, quando se buscava uma maior internacionalização do país, é que o uso do alfabeto romanizado passou a ser obrigatório.
O Vietnã esteve do ano 110 a.C. até 938 sob controle chinês, tornando-se depois uma nação livre. No entanto, de 1407 a 27 ele foi dominado pela dinastia chinesa Ming, ocorrendo a introdução de um extenso vocabulário de palavras chinesas. Tornou-se novamente livre até que, em 1859, a França invadiu a cidade de Saigon (atual Ho Chi Minh City). Em 1887 foi criada a União da Indochina, sob domínio francês, formada por Vietnã, Laos e Camboja. A independência formal do Vietnã ocorreu em 1945. Dez anos depois a nação foi dividida em uma região Norte, comunista, liderada por Ho Chi Minh (“aquele que ilumina”), 1890-1969, e a região Sul, que era uma monarquia. O avanço da ideologia comunista fez com que o mundo ocidental tentasse interromper o movimento. De 1959 a 75 ocorreu a tristemente famosa Guerra do Vietnã, com os EUA apoiando o Sul no grave conflito armado. Quase 60.000 soldados norte-americanos perderam a vida, em um cenário de dois milhões de mortes no país dividido. Com a derrota do Sul, os norte-americanos abandonaram o país, o qual, posteriormente voltou a se fundir tendo Hanoi como capital. A fuga de uma grande população vietnamita após o fim da guerra provocou a imigração para diversos países europeus e os EUA. É interessante destacar que, nos EUA, a língua vietnamita é a terceira mais falada (após inglês e espanhol) nos estados de Nebraska, Oklahoma, Texas e Washington. Retornemos ao idioma.
A influência francesa sobre o território da Indochina fez com que a língua vietnamita recebesse vários empréstimos, como caa phê (café) e phô mai (do francês fromage). Até a pronúncia francesa se consolidou na grafia de nomes próprios. Assim, a cidade de Paris, é grafada como Pari.
O alfabeto latino adaptado tem 29 letras, não havendo a presença de F, J, W e Z, a não ser para nomes próprios estrangeiros. Existem diversos diacríticos nas vogais principais, além da introdução de letras novas, como o exemplo do “d” cruzado (Đ), que tem o som real de um “d” implosivo, ao passo que a letra “d” tradicional é pronunciada como “ia”. Como vocês podem observar, no vietnamita não ocorre uma correspondência completa entre grafia e pronúncia. Alguns outros exemplos da complexa fonologia da língua: “s” é pronunciado como sh, “x” como s, (ă) como uma mistura de a e e. Por outro lado, o dígrafo nh, por influência da presença portuguesa no século XVI é pronunciado exatamente como na nossa língua.
Vencedores do Prêmio Camões de Literatura (21)
2008: João Ubaldo Ribeiro (1941-2014)
Nascido em Itaparica-BA, passou parte da infância em Aracaju. O pai era advogado, tendo sido fundador do curso de Direito da Universidade Católica de Salvador. João Ubaldo foi muito incentivado pelo pai na leitura, que cobrava do filho os resumos escritos das obras lidas. De 1958 a 62 João Ubaldo estudou Direito na Universidade Federal da Bahia, profissão essa que nunca foi exercida. Em 1964 tornou-se Mestre em Ciência Política pela University of Southern California. Nas décadas de 60 e 70 passou longas temporadas no exterior, principalmente nos EUA, Portugal e Alemanha. Em 1993 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras.
Seu primeiro romance, “Setembro não faz sentido”, foi publicado em 1968. Três anos depois era lançado um dos seus grandes sucessos, o romance “Sargento Getúlio”, que recebeu o Prêmio Jabuti. Em 1984 surge um dos seus livros mais conhecidos, “Viva o povo brasileiro”, também vencedor do Jabuti. João Ubaldo dedicou-se também à escrita de literatura infanto-juvenil. Seus romances geralmente abordam aspectos sociais e políticos do país e do seu estado natal, sempre impregnados de muito humor e ironia. Faleceu aos 73 anos em decorrência de embolia pulmonar.
Frase para sobremesa: As folhas das árvores servem para nos ensinar a cair sem alardes (Manoel de Barros, 1916-2014).
Até a próxima!