Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
83. A terra inútil (The waste land). T.S. Eliot (1888-1965)
Este curto poema (menos de 60 páginas) é considerado com uma das mais importantes produções poéticas do século XX, sendo apontado ainda, por alguns, como o poema de maior repercussão intelectual da literatura moderna. Não é pouca coisa. Ele foi escrito em um período de conturbação psicológica do autor. Eliot, que trabalhava no Lloyds Bank em Londres, pediu uma licença para tratamento de saúde, viajou para a Síria, onde começou a escrever o poema, e depois para Lausanne (Suiça), onde completou o tratamento e finalizou a obra. No Post 31 apresentamos a vida do escritor e filósofo norte-americano T.S. Eliot, um dos expoentes do modernismo literário. Ele emigrou para Londres no início da Primeira Guerra Mundial e ali permaneceu até o final de seus dias.
“A terra inútil” foi o primeiro livro de poemas de Eliot, lançado em 1922, quando ele tinha 34 anos. O sucesso foi monumental. O texto, que trata de viagem feita por um cavaleiro medieval, na época das Cruzadas, está mesclado com cenas da sociedade britânica contemporânea. Obra modernista, como dizíamos. Talvez este seja o livro em língua portuguesa que apresente a maior variedade de títulos. A primeira tradução foi feita pelo escritor Paulo Mendes Campos (1922-91), lançada pela editora Civilização Brasileira em 1956. No prefácio, Paulo comenta que não gostava do atributo “inútil” como tradução para “waste”, mas que não encontrara uma alternativa melhor. No entanto, outros aceitaram o desafio: Ivan Junqueira traduziu como “A terra desolada”, Gilmar Santos como “A terra árida”, Idelma Ribeiro de Faria como “A terra gasta” e Ivo Barroso como “A terra devastada”, mesmo título dado por Caetano Galindo na recente edição bilingue de 2018 da Companhia das Letras. Para completar o incrível leque de possibilidades, as edições portuguesas preferiram o nome “A terra sem vida”. Se vocês tiverem alguma outra inspiração, por favor fiquem à vontade.
Língua khmer (1)
O idioma khmer (ou quemer ou cambojano) é a língua oficial no Camboja, país situado no Sudeste Asiático. O nome oficial da nação é Kampuchea, que os franceses transformaram em Cambodge e os ingleses em Cambodia. O khmer pertence à família austro-asiática de línguas, assim como o mon (apresentado no Post anterior) e o vietnamita, que virá no Post seguinte. Estima-se que ele seja falado por uma população de 15 a 22 milhões de pessoas. O idioma foi fortemente marcado pelo sânscrito e pelo páli, em decorrência da presença das religiões hinduísta e budista, respectivamente. O khmer também influenciou e foi influenciado pelas línguas de países vizinhos, como o tailandês e o laosiano.
O poderoso Império Khmer ou Império de Angkor se estendeu do século IX ao XV, tendo seu apogeu entre os séculos XI e XIII. Acredita-se que a capital Angkor tenha sido nessa época o maior centro urbano do mundo. Em 1150 o rei Suryavarman II construiu o templo Angkor Wat, um dos mais impressionantes monumentos da arquitetura mundial. O império, que era hinduísta, passou a ser budista durante esse reinado. Depois da queda do império, ocorreram, do século XVI ao XVIII, guerras com os siameses (tailandeses) e diversas invasões vietnamitas. Em 1873 o Camboja, que havia solicitado a proteção da França, tornou-se colônia francesa, compondo a região que os franceses denominaram de Indochina, formada pelo Camboja, Laos e Vietnã. Em 1953, o Camboja conseguiu a independência e iniciou uma monarquia com o rei Norodom Sihanouk. Em 1970 ocorreu um golpe militar, cujo regime persistiu até 1975, quando o Camboja foi tomado por um dos governos mais sanguinários do planeta, o Khmer Vermelho, sob o comando do genocida Pol Pot (1925-98). Mais de três milhões de pessoas, o equivalente a 20% da população do país, foram sumariamente assassinadas. Conforme os preceitos do regime comunista no poder, a igualdade entre as pessoas deveria ser absoluta, portanto, qualquer traço de burguesia tinha de ser eliminado. Todas as pessoas de nível superior, também aquelas que tivessem algum dinheiro ou que falassem qualquer língua estrangeira foram arrancadas de suas casas e fuziladas em praça pública. O mundo assistiu perplexo a uma das maiores barbáries da história. Em 1979 o Vietnã, apoiado por diversos governos ocidentais, invadiu o Camboja e derrubou o Khmer Vermelho. Pol Pot fugiu para as selvas, onde viveu escondido por 18 anos. Ele foi capturado em 1997 por alguns remanescentes do Khmer Vermelho, que o condenaram à prisão perpétua. Morreu no ano seguinte. Voltemos ao idioma.
O khmer, ao contrário do chinês e das outras línguas do Sudeste Asiático, não é tonal. Ele possui alfabeto próprio, originário da escrita indiana Pallava, uma dinastia do século IV.Existem vários dialetos do khmer, na verdade formando um continuum, no qual as diferenças vão sendo marcadas pelo avanço das distâncias geográficas. A língua padrão é baseada na gramática e na fonética do dialeto da capital (Phnom Penh), o qual é visto como sendo relaxado ou preguiçoso, ao exemplo da pronúncia simplificada do nome da capital: m’Penh. No entanto, alguns linguistas consideram o “dialeto norte” ou khmer surim como sendo um idioma separado.
Vencedores do Prêmio Camões de Literatura (19)
2006: José Luandino de Oliveira (1935-)
Este é o nome literário do escritor José Vieira Mateus da Graça, nascido em Portugal e tendo se mudado para Angola aos três anos de idade. Ingressou no MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e participou da luta armada contra Portugal. Foi preso em diversas ocasiões, a pior delas quando passou oito anos no famigerado campo de concentração de Tarrafal, em Cabo Verde, também conhecido pela desoladora alcunha de “Campo da Morte Lenta”. Esta cruenta colônia penal foi fechada logo após a revolução de 25/04/74 em Portugal.
Em 1965 a Sociedade Portuguesa de Escritores concedeu a Luandino, ainda na prisão, o Grande Prêmio de Novela pelo livro “Luuanda”(sic). Tal ousadia custou caro à Sociedade, que foi depredada pela polícia e fechada no mesmo dia por um despacho do Ministro da Educação. Luandino só veio a saber da concessão do prêmio algum tempo depois. Em 1975, com a independência de Angola, ele voltou ao país, onde assumiu funções na área cultural. Retorna a Portugal – onde estivera em liberdade condicional de 1972 a 75 – em 1992, desiludido com o reinício da guerra civil angolana. Em 2006, ao ser contemplado com o Prêmio Camões, recusou o galardão alegando “motivos íntimos e pessoais”. Certamente ele os tinha em profusão.
Frase para sobremesa: Mesmo sem querer, fala em verso, quem fala a partir da emoção (João Cabral de Melo Neto, 1920-99).
Até a próxima!