Post-186

Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)

82. À sombra do vulcão (Under the volcano), Malcolm Lowry (1909-57)

O escritor inglês Lowry passou grande parte de sua vida sob a dependência alcoólica, fato este retratado em algumas de suas obras. Começou a beber aos 14 anos de idade, aos 18 já era marinheiro, casou-se em 1934, sempre com o álcool ao seu lado, e, em 1936, teve sua primeira internação psiquiátrica. Começou nessa época a escrever a sua obra-prima “À sombra do vulcão”, separou-se, mudou-se para o México, casou-se novamente e, repentinamente, resolveu morar em Vancouver, Canadá, tendo largado o manuscrito para trás. Sua esposa conseguiu localizar o marido e, em gesto de rara importância, lhe entregou o rascunho da obra. Alguns anos depois, cada vez mais fragilizado pela bebida, ele tentou matar a cônjuge por duas vezes. Morreu aos 47 anos, com um somatório de problemas no organismo. Como as causas do óbito não foram, na época, devidamente esclarecidas, há também a suspeita de suicídio ou, até mesmo, de assassinato pela esposa. Realmente uma movimentada biografia, proibida para menores.

A trama do livro, de fortes componentes autobiográficos, envolve a vida de um ex-cônsul britânico no México, alcoólatra, que é abandonado pela esposa. Ele fica então aguardando ansiosamente o seu retorno, o qual ocorre em um dia de Finados. Para quem tem mais pressa em conhecer o final sugere-se o filme homônimo, lançado em 1985, dirigido pelo gigante John Huston (1906-87), com soberbas atuações dos britânicos Albert Finney (1936-2019) e Jacqueline Bisset (1944-).

As traduções brasileiras apresentam a curiosidade de terem títulos distintos: a de 2007, de Leonardo Fróes, publicada pela L&PM, chama-se “À sombra do vulcão” (mesmo nome do filme em português) ao passo que a tradução mais recente, de 2021, feita por José Rubens Siqueira, é intitulada “Debaixo do vulcão”, que também é o nome nas edições portuguesas. Ao final, é tudo a mesma coisa.    

Língua mon

O idioma mon, falado na região sudeste de Mianmar e em algumas partes da Tailândia, pertence ao ramo mon-khmer da família de línguas austro-asiáticas. Ele guarda fortes semelhanças com o khmer, idioma oficial do Camboja, que será apresentado no próximo Post. Mencionamos a língua mon quando abordamos o idioma birmanês (Post anterior), destacando que o alfabeto deste idioma é derivado da escrita mon, o que ocorreu no século XI. Temos aqui, portanto, uma curiosa situação, na qual o idioma de uma família linguística empresta seu alfabeto para a língua de uma outra família. O mon foi, até o século XII, a língua franca em todo o vale do rio Irauádi (ligação norte-sul do país, comprimento: 2.200 km) – o qual concentra a maior parte da população birmanesa – sendo posteriormente substituído pelo idioma birmanês. O que se observa atualmente é que muitas pessoas da etnia mon, principalmente os mais jovens, já não mais utilizam o idioma, sendo monolíngues em birmanês ou tailandês. No entanto, em região birmanesa frequentemente ocupada por rebeldes e fechada para o turista, a língua é ensinada nas escolas fundamentais.

A língua mon possui diversos dialetos, que são mutuamente inteligíveis. Em Mianmar existe um único jornal em língua mon. Neste idioma observa-se o mesmo fenômeno apontado para a língua birmanesa, ou seja, a existência de fortes discrepâncias entre as línguas escrita e falada, o que vale dizer que uma única pronúncia pode ter várias grafias. O mon é um idioma não tonal, com a ordem S-V-O das palavras na frase, tendo ausência de declinações verbais e de formas plurais. Os adjetivos são colocados após os substantivos, até aí nada de mais, pois no português também é assim, mas o peculiar é que isso ocorre com os pronomes determinantes. É como se falássemos em português: rapaz este ou livro aquele. Aceitemos sem reclamar. Ao contrário da maioria dos idiomas, as partículas interrogativas não são frontalizadas, isto é, não ficam no início da frase.

Numerais de 1 a 10: mua, ba, pae, pen, pesen, tarao, hepeh, hecam, hecit, ceh. A representação gráfica dos números é idêntica ao do birmanês (Post anterior), mas os nomes são totalmente diferentes.

Algumas expressões: ဟာဲ (hāai – Olá), တင္ဂုန္ဗြဲမေလာန္ (Tan kun ra au – Obrigado).

Vencedores do Prêmio Camões de Literatura (18)

2005: Lygia Fagundes Telles (1918-2022)

Advogada, romancista e contista foi uma das mais notáveis escritoras da literatura brasileira. Seu estilo de redação, ajustado à tendência do pós-modernismo, aborda com elegância os complexos temas da morte, amor, medo e loucura. Ela escreveu quatro romances e vinte livros de contos, além de crônicas e participação em coletâneas. Desde jovem Lygia interessou-se pela literatura, tendo feito sua estreia como escritora em 1938, com o livro de contos Porão e Sobrado, cuja publicação foi financiada pelo pai. Concluiu o curso de Direito na tradicional Faculdade do Largo do São Francisco, criada em 1827 na cidade de São Paulo. Lygia foi casada de 1947 a 60 com Gofredo Telles Jr., de quem adotou o sobrenome. De 1963 a 77 esteve casada com o conhecido historiador e crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes (1916-77), um dos fundadores da Cinemateca Brasileira.

O primeiro grande sucesso literário veio em 1954 com o romance Ciranda de Pedra, que a tornou nacionalmente conhecida e que ela própria considerava como sendo “seu primeiro livro”. Na década de 70 viu várias de suas obras serem aclamadas e premiadas nacionalmente, além de traduzidas para diversos idiomas. Em 1985 entrou para a Academia Brasileira de Letras e em 2016 tornou-se a primeira mulher brasileira a ser indicada ao Nobel de Literatura. Faleceu de causas naturais aos 103 anos de idade.

Frase para sobremesa: Homenagem a Lygia Fagundes Telles: A beleza não está nem na luz da manhã nem na sombra da noite. Está no crepúsculo, nesse meio tom, nessa incerteza.

Bom descanso!

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