Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
76. Pé na estrada (On the road), Jack Kerouac (1922-69)
O livro do escritor Jack Kerouac alcançou enorme sucesso, principalmente junto ao público, desde o ano de seu lançamento (1957). A obra, pelo conteúdo e estilo da narrativa, é considerada como precursora do movimento hippie. A vida nômade – aparentemente despreocupada – a fundação de comunidades entre amigos, o consumo exacerbado de drogas e a determinação em viver apenas no presente, sem a formulação de planos, são alguns dos traços dos movimentos de contracultura. O livro foi escrito em apenas três semanas, no estilo conhecido como avalanche, em que o autor redige conforme as ideias vão chegando à mente, sem paradas para pensar no texto ou para reformular frases. A obra relata a viagem de dois amigos pela cultuada Rota 66, que cruza horizontalmente os EUA. Depois de sete anos de espera, o livro foi aceito por uma editora. No entanto, a publicação só foi possível após uma cuidadosa revisão ortográfica e gramatical, a inserção de pontuações e a eliminação de 120 páginas. O autor, conhecido pelo irrefreável consumo de drogas e de bebidas alcoólicas, relatou que, naquelas três semanas de redação, ele se manteve totalmente abstêmio, ingerindo apenas gigantescas quantidades de café.
Jean-Louis Lebris de Kerouac, de ascendência franco-canadense, teve uma infância marcada pela pobreza. No início da fase adulta conseguiu uma bolsa de estudos na renomada Universidade de Colúmbia, em Nova Iorque, pelo fato de ser um destacado jogador de futebol americano. Quando um acidente o impossibilitou de praticar o esporte por alguns meses, ele iniciou um período de frenéticas leituras na biblioteca da universidade. Após a publicação do seu grande sucesso, ele evitou qualquer contato com a mídia, se isolou nas montanhas, sofrendo alucinações e ingerindo uma garrafa de uísque por dia. Teve dois casamentos, os quais não duraram mais que poucos meses. Faleceu aos 47 anos por problemas derivados de uma cirrose hepática.
O único filme sobre o livro foi uma produção de parceria americana e brasileira lançada em 2011 sob o título de Na estrada, com direção do premiado cineasta brasileiro Walter Salles (1956-) e atuação de Sam Riley (1980-).
A tradução brasileira da obra, que em Portugal se chamou Pela estrada afora, ficou a cargo de Eduardo Bueno, publicada pela L & PM em duas edições (2004 e 2012).
Língua tibetana (1)
É um conjunto de línguas pertencentes ao ramo tibeto-birmanês da família sino-tibetana. O outro ramo é formado pelo grupo chinês, que vimos nos últimos sete Posts. As línguas tibetanas são constituídas por um agrupamento de aproximadamente 50 idiomas e mais de 200 dialetos e subdialetos, muitos deles não mutuamente compreensíveis. O número total de falantes é estimado em seis milhões. O que é conhecido como língua unificada e idioma oficial do Tibete é o dialeto de Lhasa, a capital da região. O idioma tibetano, nas suas variadas formas, é também falado em partes da Índia e do Nepal.
O Tibete é a região com maior altitude média do planeta, sendo designado como “o teto do mundo”. Existem registros de ocupação paleolítica há 40 mil anos. Sabe-se que, em 127 a.C., ocorreu a ocupação da região por uma dinastia militar. O Tibete foi unificado no século VII, quando floresceu uma civilização com alfabeto (tibetano antigo) e legislação próprios. Assim seguiu até meados do século XVII, quando se iniciaram os governos dos Dalai Lamas, a linhagem de líderes políticos espirituais. Nessa época ele foi incluído no território da China. Em 1913 o 130 Dalai Lama expulsou as tropas chinesas da região. No entanto, a soberania do Tibete não foi reconhecida internacionalmente. No ano de 1950 houve uma invasão militar e o Tibete foi anexado como uma província chinesa. Em 1959 o Dalai Lama que regia a província fugiu para a Índia, onde instalou um governo do exílio em Dharamsala. Pouco tempo depois, em 1965, foi criada a Região Autônoma do Tibete e assim permanece até hoje. Na maior parte da região a educação primária é feita no idioma tibetano, sendo que raramente ocorre um ensino bilingue na escola secundária, ou seja, nos níveis mais altos de formação predomina a influência do mandarim.
É na língua tibetana que estão escritos os mais destacados volumes da literatura budista na sua prática tibetana. Ao contrário dos idiomas do grupo chinês, a língua tibetana não é tonal, embora alguns dialetos o sejam. Trata-se de um idioma aglutinativo, ergativo (o caso nominativo é usado apenas no sujeito de verbos que sejam intransitivos), com os adjetivos sempre precedendo os substantivos e os pronomes demonstrativos e os numerais sendo posicionados após os substantivos. É como se, em português, escrevêssemos livro aquele ou casas três. De tão estranho, chega a ser divertido.
São nove as declinações dos casos gramaticais (marcados por meio de sufixos), dentre elas algumas pouco usadas em outros idiomas, como o elativo (movimento de dentro para fora), alativo (movimento em direção a alguém ou algo) e comitativo (exprime companhia). Os verbos, que são normalmente o último elemento da frase, não flexionam por pessoa ou número. Curiosamente, alguns poucos verbos possuem quatro tempos (presente, passado, futuro e imperativo), outros verbos três ou dois tempos e a maioria tem apenas um tempo verbal. Essa é uma característica marcante das línguas tibetanas.
Vencedores do Prêmio Camões de Literatura (12)
1999: Sofia de Melo Breyner Andresen (1919-2004)
Uma das mais destacadas poetisas portuguesas, Sofia construiu uma sólida carreira literária formada também por contos e livros infantis. De origem dinamarquesa pelo lado paterno, ela recebeu uma educação aristocrática. Nascida na cidade do Porto, mudou-se para Lisboa com a finalidade de estudar Filologia na Universidade de Lisboa (1936-9), curso este que não foi concluído. Foi casada por mais de quatro décadas (1947-88) quando então, já mãe de cinco filhos, acabou se divorciando. Na sua vida profissional ela teve uma intensa atuação como jornalista.
Além do Prêmio Camões, Sofia foi contemplada com o Grande Prêmio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores (1964) e o Prêmio Rainha Sofia de Poesia Iberoamericana (2003). Seus poemas abrangem temas simples (casas, pessoas, o mar) que são objetos que ela gostava de “representar” no sentido de voltar a tornar presentes. Preferia escrever à noite, quando era mais fácil de “acontecerem os poemas”. Faleceu aos 84 anos e foi sepultada em Lisboa. Dez anos mais tarde o corpo foi trasladado para o Panteão Nacional na mesma cidade.
Frase para sobremesa: A amizade do analfabeto é sincera. E o ódio também (Carolina Maria de Jesus, 1914-77).
Bom descanso!