Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
75. Almas Mortas (Мёртвые души – Miôrtvie duchí), Nikolai Gógol (1809-1852)
O escritor Nikolai Gógol é amplamente considerado como o pai da moderna literatura russa. O filósofo Jean-Paul Sartre (1905-80) foi ainda mais longe, designando Gógol como o “fundador da literatura moderna”. Nasceu em uma pequena cidade pertencente, na época, ao Império Russo, mas que está hoje localizada na Ucrânia. Tal dualidade ocorre com um enorme número de pessoas que ficaram expostas às mudanças geopolíticas ocorridas ao longo do tumultuado século XX. Portanto, o mais correto seria designar Gógol como um escritor russo-ucraniano (ou o inverso). O fato é que todas as suas obras foram escritas em russo.
Aos 20 anos de idade ele viajou para São Petersburgo, onde conheceu Alexandre Púchkin (1799-1837) – o maior escritor russo naqueles tempos – que incentivou Gógol a abraçar a carreira literária. De personalidade muito complexa, repleta de preocupações místicas, religiosas e patrióticas, ele aproveitou os proventos advindos da venda de seus livros para empreender longas viagens pela Europa e ao Oriente Médio. Viveu de 1837 a 43 em Roma, onde escreveu diversas de suas obras-primas. Em 1852, poucos dias antes de morrer, Gógol, perseguido por ataques de hipocondria, teve um delírio em sua casa e queimou na lareira todos os manuscritos inéditos, incluindo a segunda parte do livro Almas Mortas. Mesmo inconcluso, esse romance é avaliado como um dos marcos mais fortes da literatura russa.
Almas Mortas narra a história de um funcionário público que, após ser afastado do serviço por corrupção, sai pelo país adquirindo documentos de posse de terras de servos (“almas”, como eram chamados) já falecidos. Tais papéis eram então vendidos para que os compradores aristocratas tivessem um novo status perante a sociedade. No decorrer da obra o leitor vai sendo exposto a uma severa crítica ao sistema feudal russo e às vaidades das classes dominantes.
Cabe destacar que um famoso conto de Gógol, “O capote” (Шинель – Chiniél) recebeu do escritor Dostoiévski o comentário, referente à literatura russa, de que “todos nós saímos de O capote de Gógol”.
Existem diversas traduções de Almas Mortas vertidas diretamente do russo. A mais recente (2018) foi feita por Rubens Figueiredo para a Editora 34. Merecem registro ainda a publicação do livro na coleção Duetos, com tradução de Sheila Koerich e a edição da Perspectiva em 2011, com tradução de Tatiana Belinky.
Outras línguas chinesas
Hacá (Hakka)
A língua Hacá é falada em partes do sul da China, em Hong-Kong e em Taiwan, onde é uma das línguas nacionais. Contudo, neste pequeno país existem dezenas de dialetos do hacá, a maior parte deles não mutuamente compreensíveis. O número de falantes de hacá situa-se entre 30 e 43 milhões. As incertezas, como sempre, estão ligadas ao fato de um falante ser nativo ou então usuário do hacá como segunda língua. Na verdade, a maioria dos falantes do hacá é trilíngue, pois domina também o mandarim e o cantonês.
Essa etnia era originalmente habitante da região norte da China. A partir do século IV se iniciaram as migrações em direção ao sul. Até hoje os falantes de hacá levam a fama de serem reclusos e de pouca convivência com os povos vizinhos. É interessante observar que nem toda a etnia hacá (estimada em 80 milhões de pessoas)sabe falar o idioma original, seja por falta de conhecimento ou por falta de vontade. Já em Taiwan existem diversas iniciativas para promover o fortalecimento do idioma, como, por exemplo, a recente criação de um canal de televisão exclusivo para a língua hacá.
O idioma hacá, como quase todas as outras línguas chinesas, é também tonal. Na maioria dos dialetos do hacá o número de tons chega a seis. Além disso, o idioma permite o uso das consoantes finais “p”, “t” e “k”, o que não é possível no mandarim.
Números de 1 a 10: yit, ngi, sam, si, ng, luk, cit, bat, giu, sip.
Dias da semana: libai yit, libai ngi, libai sam, libai si, libai ng, libai luk, libai. Como já visto em outros idiomas chineses, os dias da semana seguem a ordem dos numerais de 1 a 6. A exceção fica com o dia de domingo.
Algumas expressões:
多謝 (do sai – obrigado), 你好 (ngi ho – olá), 安早 (on zo – bom dia), 再見 (tsai gien – até logo), 𠊎唔明白 (ngai m min p’ak – eu não entendo), 失禮 (siit li – desculpe), 请你 (qin ngi – por favor), 𠊎愛你 (ngai oi ngi – eu te amo). Fonte: Omniglot
Com este Post finalizamos a explanação das principais línguas do tronco sínico da família sino-tibetana: mandarim, cantonês, xangainês e hacá. As dezenas de outros idiomas sínicos, a maior parte deles sem representação escrita, têm um menor significado no contexto desse Blog de Literatura e Idiomas. No entanto, ainda continuaremos, no próximo Post, com a apresentação de mais algumas línguas sino-tibetanas.
Vencedores do Prêmio Camões de Literatura (11)
1998: Antônio Candido (1918-2017)
Foi um dos maiores críticos literários brasileiros e autor de diversas obras sobre o tema. Nascido no Rio de Janeiro, fixou-se na cidade de São Paulo a partir de 1937, onde se graduou em Ciências Sociais pela USP (Universidade de São Paulo) em 1942. Desde esse ano tornou-se professor da instituição até 1978, quando se aposentou. Contudo, continuou a lecionar e orientar na pós-graduação até 1992. Teve uma participação ativa como jornalista, escrevendo críticas literárias e artigos na área de Sociologia. Foi também militante político e um dos precursores do Socialismo Democrático, além de ter participado na criação do PT. Sua principal obra, “Formação da Literatura Brasileira” (1959) é, até hoje, uma valiosa referência nos estudos sobre o assunto. Recebeu as mais importantes premiações literárias do país, dentre elas o Prêmio Jabuti (1965 e 93), Prêmio Machado de Assis (1993), instituído pela Academia Brasileira de Letras para laurear um escritor pelo conjunto de sua obra, e o Prêmio Juca Pato da UBE (União Brasileira de Escritores) em 2007. Foi Professor Emérito da USP e da UNESP (Universidade Estadual Paulista). Candido veio a falecer na avançada idade de 98 anos vitimado por uma hérnia de hiato.
Frase para sobremesa: Depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível é a música (Aldous Huxley, 1894-1963).
Até a próxima!