Post-176

Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)

72. Admirável Mundo Novo (Brave New World), Aldous Huxley (1894-1963)

É um dos maiores clássicos da literatura distópica, conforme comentado no Post anterior, junto com “1984” de George Orwell e “Fahrenheit 451” de Ray Bradbury. A obra, lançada em 1932, narra a história de um personagem que vive, em um futuro distante (ano 2.540) dentro de uma “reserva histórica”, onde são preservados os costumes “selvagens” do passado. Naquela sociedade civilizada ter um filho era considerado um ato obsceno e possuir uma crença religiosa uma forma de desrespeito à sociedade. A essência do livro é o permanente conflito entre a hipotética civilização, muito bem estruturada, e as impressões humanas das pessoas ainda vistas como selvagens.

O livro foi escrito em apenas quatro meses, em 1931. Trinta anos depois Huxley publicou o “Regresso ao Admirável Mundo Novo” (Brave NewWorld revisited), em que o autor avalia de que maneira o mundo se transformara conforme a história de seu livro. Talvez por dificuldades inerentes ao roteiro, o livro “Admirável Mundo Novo” não chegou às telas de cinema, sendo adaptado apenas para a televisão. Já o autor, que se mudou para os EUA em 1937 e lá viveu até sua morte (1963), foi um dos mais bem remunerados roteiristas de Hollywood. Huxley era conhecido por seu misticismo filosófico, com grande influência do hinduísmo, e as experiências sensoriais com o uso de drogas, sobretudo a mescalina.

Aldous Huxley pertenceu a uma renomada família de cientistas. Ele era neto do lendário biólogo Thomas Henry Huxley (1825-1895), conhecido como “o buldogue de Darwin”, devido à acirrada defesa das teorias evolucionistas. Em um célebre debate ocorrido em 1860 na Universidade de Oxford, o bispo da cidade perguntou se Huxley era “descendente de macaco por parte do avô ou da avó”. Existem várias versões, aproximadamente semelhantes, sobre este diálogo, mas uma delas indica que Huxley teria respondido que “preferia ser descendente de macaco do que atuar como bispo em Oxford”. A história indica que ele foi ovacionado de pé pela plateia neste velho e costumeiro debate entre Ciência e Religião. Aldous Huxley começou a estudar Medicina, mas teve de interromper devido a uma doença ocular. Era bastante respeitado no Reino Unido como escritor, tendo sido nomeado sete vezes para um Prêmio Nobel nunca recebido. Ao final de sua vida não conseguia mais falar em razão de um câncer na laringe.

A primeira tradução brasileira da obra, feita por Lino Vallandro e Vidal Serrano foi lançada em 1941 e reeditada em 2009 pela Editora Globo. Em 2014 a Biblioteca Azul lançou a tradução de Vidal de Oliveira. Em 2022, na comemoração dos 90 anos de publicação da obra, foi preparada uma edição comemorativa por essa mesma editora, cuja tradução coube a Fábio Fernandes.    

Línguas chinesas: cantonês (1)

O idioma cantonês é falado no sul da China, particularmente na província de Cantão (Guangdong), cuja capital é Guangzhou. Ele é usado também nas regiões administrativas de Hong-Kong (antiga colônia britânica) e de Macau (antiga colônia portuguesa), além de ser o idioma chinês preponderante no mundo ocidental. Embora seja da mesma família do mandarim (sino-tibetana), ambos não são mutuamente inteligíveis devido a diferenças fonológicas, ou seja, as duas línguas são próximas entre si, mas a pronúncia das palavras é bastante diferente. O cantonês é um idioma conservador, sendo aquele que mais se aproxima das formas do chinês arcaico. Por exemplo, as poesias antigas, cuja pronúncia original é desconhecida, rimam melhor se forem lidas em cantonês e não em mandarim. O cantonês é o único idioma chinês, além do mandarim, que tem uma forma escrita. Ele emprega vários caracteres que não existem em mandarim e reutiliza outros com significados diferentes.   

O número total de falantes nativos do cantonês supera 85 milhões. Cabe lembrar que, como a cidade de Cantão já foi o maior porto da China (atualmente é Xangai, aliás, o maior do mundo) seu dialeto foi aquele que mais interagiu com o mundo ocidental. Gramaticalmente existem muitas semelhanças entre mandarim e cantonês. Embora ambas sejam línguas tonais, o cantonês apresenta uma diversidade maior de tons, entre 3 e 6, conforme a palavra. No mais, à semelhança do mandarim, não são feitas determinações de gênero, número e grau, havendo ainda ausência de tempos e conjugações verbais. O uso dos classificadores (palavras sem função gramatical, posicionadas, por exemplo, antes dos numerais conforme a natureza do objeto, como vimos em Posts anteriores) é ainda mais intenso em cantonês, além de ser formado por partículas distintas. Em cantonês existem também marcadores (ou classificadores) para os diversos aspectos do verbo: perfeito (ação terminada), experencial (ação terminada em um passado indeterminado), progressivo (ação cujo resultado ainda pode ser alterado), durativo (ação contínua, sem mudança de estado), delimitativo (ação de curta duração), habitual, incoativo (início de uma ação), continuativo (continuação de uma ação).

A construção de frases onde aparecem objeto direto e indireto é distinta entre o cantonês e o mandarim. Por exemplo, a oração dê-me um livro é construída em mandarim como dar eu um livro e em cantonês como dar livro eu. Para as perguntas binárias (que são aquelas cuja resposta é sim ou não, em contraposição às perguntas de conteúdo, p.ex. “onde você está?”) o cantonês usa um arranjo muito curioso, como no exemplo a seguir: Você sabe não sabe falar cantonês?, ou seja, a pergunta é feita com o verbo afirmativo seguido do verbo negativo.

Vencedores do Prêmio Camões de Literatura (8)

1995: José Saramago (1922-2010)

Saramago foi o primeiro e, até agora (2023) único escritor de língua portuguesa a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, em 1998. Sua vasta obra abrange 18 romances, que eram sua forma preferida de escrita, além de livros de contos, poesias e memórias. Atuou também por alguns anos como jornalista, tendo redigido crônicas diárias em dois jornais de Lisboa. A partir de 1975 passou a se dedicar exclusivamente à literatura. Seu primeiro romance de sucesso foi Levantado do chão, publicado em 1980, no qual é descrita a árdua vida dos agricultores portugueses. A ele seguiram notáveis livros de ficção, aclamados dentro e fora do país. Quando sua obra O Evangelho segundo Jesus Cristo foi proibida por alguns anos em Portugal, ele decidiu se mudar para Lanzarote, nas Ilhas Canárias, território pertencente à Espanha. Foi lá onde faleceu aos 87 anos de idade, em decorrência de uma leucemia. O corpo foi levado para Lisboa, cremado e as cinzas enterradas em um jardim defronte à sede da Fundação Saramago. Para maiores informações sobre a vida deste gigante da literatura, por favor consultem o Post 83.

Frase para sobremesa: Quando o sofrimento bate à sua porta e você diz que não há lugar para ele, o sofrimento fala para você não se preocupar pois ele trouxe o próprio banquinho (Chinua Achebe, 1930-2013).

Até a próxima!

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