Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
70. …E o vento levou (Gone with the wind), Margaret Mitchell (1900-49)
Talvez seja um dos poucos títulos de livros famosos cuja tradução em português começa com reticências. Em Portugal foram menos inventivos: “E tudo o vento levou”. O romance histórico da jornalista norte-americana Margaret Mitchell foi sua única obra literária (da mesma forma que O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë). Essa é uma impressionante característica de determinadas escritoras. Estima-se que, desde seu lançamento em 1936, o livro já tenha vendido mais de 50 milhões de exemplares. Sucesso imediato desde o início (no entanto, com uma recepção fria por parte da crítica), a obra angariou dois conceituados prêmios em 1937: Pullitzer e National Book Award.
E tudo começou com um problema no tornozelo de Margaret. Forçada a ficar em casa por alguns meses, ela leu muito, cansou-se de ler e passou a escrever o livro, que durou quase dez anos para ser finalizado. Por influência de sua atividade profissional de jornalista, ela começou a obra com a redação do último capítulo. Os outros iam sendo escritos conforme a inspiração, sem um rigor cronológico. Sua ideia era a de apresentar uma redação simples, posteriormente ajustada para uma rigorosa sequência cronológica. A primeira edição tinha mais de mil páginas. Vários analistas e escritores contemporâneos afirmavam se tratar, no máximo, de “um bom livro”. De fato, “…E o vento levou” nunca chegou a ser considerado como uma obra-prima. Mas aí entrou em cena algo que os norte-americanos sabem fazer muito bem: a adaptação cinematográfica. O filme teve três diretores: inicialmente George Cukor, 1899-1983, demitido pelo poderoso produtor David Selznick; em seguida a direção ficou a cargo de Victor Fleming (1889-1949), o qual foi, ocasionalmente, substituído por Sam Wood (1883-1949) durante as licenças médicas de Fleming. No elenco a celebrada presença da britânica Vivien Leigh (1913-67) no papel de Scarlet O’Hara, a principal personagem. No lado masculino houve a presença do maior galã de Hollywood na época: Clark Gable (1901-60). O filme também contou com a atuação de uma das mais longevas atrizes norte-americanas, Olivia de Havilland (1916-2020), falecida após completar 104 anos de idade. A película, com quase quatro horas de duração, ganhou oito Oscars em 1940. Considerando-se os ajustes da inflação, este foi o filme mais bem sucedido da história do cinema.
A trama do livro se passa no sul dos EUA, parte dela durante a Guerra Civil Americana (1861-5). São relatados doze anos da vida de Scarlet O’Hara, filha de um rico dono de plantações de algodão. Scarlet, que fica viúva aos 16 anos, tenta se aproximar de alguns pretendentes e rechaçar outros, tudo isso tendo como pano de fundo o regime de escravidão ainda vigente no país. Margaret Mitchell faleceu ainda jovem (49 anos) como consequência do atropelamento por um táxi.
A primeira tradução do livro no Brasil foi feita por Francisca de Basto Cordeiro, em 1940, pela Editora Irmãos Pongetti e depois, também pela Itatiaia e Círculo do Livro. Merecem menção ainda as traduções de Marilene Tombini (Record, 2012), de Adalgisa Campos da Silva e Regina Lyra (Nova Fronteira, 2020) e Amália Moura (Principis, 2021) esta última sendo uma adaptação da obra para leitores cegos. Até hoje este é o maior romance já transcrito em Braille.
Mandarim (2)
Na verdade, a língua chinesa não possui alfabeto, mas um conjunto de ideogramas ou logogramas, que são símbolos que representam conceitos. Eles não transcrevem os sons da fala (cada dialeto tem sua própria fonética), apenas os significados. Como muitos desses ideogramas são semelhantes àqueles utilizados na língua japonesa, torna-se possível (um pouco precariamente) a condução de uma conversa entre um chinês e um japonês na forma escrita, nunca na forma oral. Estima-se que haja cerca de 50.000 caracteres (denominados hanzi), sendo que um falante normal, alfabetizado e com um certo nível de cultura reconhece aproximadamente 5.000 e a mídia escrita utiliza em torno de 3.000. A representação gráfica dos ideogramas é feita na forma de colunas verticais, lidas de baixo para cima e da direita para a esquerda.
Uma das mais marcantes características da língua chinesa (e da maioria dos idiomas orientais) é a existência de variações tonais. No mandarim são apenas quatro, mas ainda veremos outros idiomas em que esse número é maior. Vejamos o conhecido exemplo da palavra maa: no tom alto e constante significa “mãe”, no tom alto e ascendente já é “cânhamo”, no tom caindo e subindo é “cavalo” e no tom caindo fortemente é o verbo “xingar”.
Esqueçam a estrutura das línguas ocidentais, com os conceitos de substantivos, adjetivos, verbos. Em chinês é tudo diferente. No idioma, não há praticamente nenhuma flexão (à exceção de sufixos formadores do plural), não há tempos verbais, vozes e números gramaticais. O chinês é uma língua analítica, em que a maior parte dos morfemas é livre. Ao contrário, as línguas sintéticas se compõem de morfemas aglutinados ou fundidos. A grande maioria das palavras em chinês é dissílaba. Ele é um idioma prodrop (em que muitos pronomes podem ser eliminados) e costuma seguir nas frases a ordem S-V-O (como em português). Ainda em relação aos pronomes pessoais, listados abaixo, não há diferença entre sujeito e objeto, além deles também funcionarem como possessivos.
Pronomes pessoais: wŏ, nĭ, taa, wŏmen, nĭmen, taamen.
Na língua chinesa, que não possui preposições e posposições, além de desconhecer o que sejam artigos e gêneros, as partículas interrogativas (que, quando, quem, por que, onde, como) não são frontalizadas, ou seja, não ficam no início das frases, como ocorre na maioria dos idiomas. Para a formação de novas palavras, a língua reúne conceitos afins. Por exemplo, “televisão” é visão elétrica, “computador” é cérebro eletrônico e “celular” é máquina manual.
Vencedores do Prêmio Camões de Literatura (6)
1993: Raquel de Queiroz (1910-2003)
A escritora cearense foi a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras (1977) e, também, a receber o Prêmio Camões (1993). Além de oito romances, ela escreveu uma enorme quantidade de crônicas, a maioria delas para a conhecida revista semanal O Cruzeiro, durante 30 anos. Destacou-se também como tradutora, tendo vertido para o português 38 livros, alguns deles por via indireta, ou seja, baseada não na obra original, mas em uma tradução para o inglês ou francês, como, por exemplo, quatro obras de Dostoiévski.
Quando ela tinha cinco anos de idade a família mudou-se para o Rio de Janeiro, para escapar da Grande Seca de 1915, a qual é relatada no seu primeiro grande sucesso literário O quinze (1930). Esta obra, que mostra a luta do povo nordestino contra a seca e a miséria, recebeu uma impressionante acolhida internacional. Tornando-se membro de partidos de esquerda, ela passou a ser perseguida, o que provocou a mudança temporária para Maceió em 1935. No entanto, anos mais tarde, ela alterou sua orientação política, chegando a apoiar a ditadura militar instalada no Brasil em 1964. Uma outra obra que obteve grande sucesso foi o romance Memorial de Maria Moura (1992), transformado em minissérie de televisão e divulgado em diversos países de vários continentes. Em 1998, Raquel escreveu um volume de memórias com o pertinente título de Tantos anos.
Frase para sobremesa: Não se adquire um bom vocabulário com a leitura de livros escritos conforme uma ideia do que seja o vocabulário da faixa etária do leitor. Ele vem da leitura de livros acima da sua capacidade (J.R. Tolkien, 1892-1973).
Bom descanso!