Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
69. Os demônios (Бесы – Biéssi), Fiódor Dostoiévski (1821-81)
Este é o quarto livro de Dostoiévski a aparecer na lista. No Post 120 apresentamos Os irmãos Karamázov e Crime e Castigo, trazendo inclusive uma breve biografia do autor. A obra O idiota é comentada no Post 160. O romance Os Demônios (em Portugal “Os Possuídos”) é uma das produções menos conhecidas do autor russo, mas, sem dúvida, uma das mais impactantes. O livro, lançado em 1872, se baseia no episódio verídico do assassinato político de um estudante por um grupo de fanáticos niilistas em 1869. Com base neste acontecimento, Dostoiévski apresenta um profundo estudo do pensamento político, social, filosófico e religioso da época. O narrador da história, ao mesmo tempo em que a observa, passa também a participar da mesma. A essência do livro é um protesto contra aqueles que queriam transplantar para a Rússia a realidade política e cultural da Europa Ocidental e contra o lema do “uso da violência para o bem da humanidade”. A emblemática frase de um dos personagens (Stepan Trofimovitch) retrata, filosoficamente, a turbulência política que dominava grande parte da Rússia: A verdade verdadeira é sempre inverossímil, você sabia? Para tornar a verdade mais verossímil precisamos necessariamente adicionar-lhe a mentira.
Embora haja muitos filmes com o nome da tradução em língua inglesa (The possessed), todavia se referindo a pessoas “possuídas” em termos religiosos ou psicológicos, a única real adaptação para o cinema foi a de 1988, sob direção do premiado polonês Andrzej Wajda (1926-2016) e tendo no elenco a francesa Isabelle Huppert (1953-) e o egípcio Omar Sharif (1932-2015), o eterno “Doutor Jivago”.
Para o leitor brasileiro existem ótimas traduções diretamente do russo: a de Paulo Bezerra em 2013 para a Editora 34, a de Oleg Almeida em 2021 para a Martin Claret e, a mais recente, em 2023, do casal Nina e Felipe Guerra – ela sendo russa – pela Editora Sétimo Selo.
Línguas chinesas: mandarim (1)
O mandarim, denominado localmente de putonghua (língua comum), é uma das variações da língua chinesa falada na maior parte do país. Neste capítulo tentaremos explicar não só a complexidade do idioma, como também as discussões sobre línguas/dialetos na China. A palavra “mandarim”, que não é adotada pelos chineses, tem sua origem no sânscrito mantri (conselheiro), sofrendo a alteração da letra “t” para “d” por influência do português “mandar”. Sabe-se que comerciantes portugueses atuaram durante séculos na China, deixando assim influências no léxico. Alguns linguistas entendem que o mandarim significaria a língua de quem é mandado, sendo traduzido, de forma mais elegante, por “fala dos funcionários”. Para estabelecimento da língua oral oficial da China, adotou-se como mandarim padrão aquele falado na capital Pequim (atual Beijing). Avalia-se que o mandarim seja a língua nativa de 1,2 bilhão de pessoas, sem qualquer dúvida, o idioma mais falado do planeta.
Não custa lembrar que a China, terceiro maior país do mundo em área (depois de Rússia e Canadá) e o segundo maior em população (tendo sido superado recentemente pela Índia), abriga 55 minorias étnicas, todas com o seu dialeto próprio.
O mandarim, idioma pertencente à família sino-tibetana, só se tornou a língua nacional da China em 1956. Ele é também a língua oficial em Taiwan e uma das quatro línguas oficiais em Singapura, além de ser falado por minorias étnicas em diversos países vizinhos.
Só o sistema de escrita chinês já mereceria e edição de vários Posts, o que, para tranquilidade dos leitores, não ocorrerá. No entanto, um pequeno resumo é imperativo para o entendimento da evolução do idioma. A civilização chinesa, que surgiu há quatro milênios às margens do Rio Azul (Yang-tsé), floresceu grandemente com a implantação do Império no século II a. C, época em que foi iniciada a construção da Grande Muralha. Até o século XIII os chineses, que denominavam seu país de Jueng Guo (Império do Meio, por se julgarem no centro do planeta), não tinham nenhum contato com o Ocidente. O nome “China” é derivado da dinastia dos Tsin, que governou o país de 249 a 206 a.C. É dessa época a criação do genial sistema de escrita por ideogramas, o qual permite que falantes de línguas diferentes leiam os mesmos textos. Em 1949 os comunistas proclamam a República Popular da China, liderada por Mao Tsé-tung. Seu principal adversário, Chiang Kai-chek foge para Taiwan e funda a República da China, até hoje não reconhecida oficialmente pela China continental e pela maior parte dos países do mundo. Neste mesmo ano de 1949 é criado o sistema de transliteração pinyin, que é o mais largamente utilizado na China e no cenário internacional.
Vencedores do Prêmio Camões de Literatura (5)
1992: Vergílio Ferreira (1916-96)
Escritor português que produziu 12 romances, dentre eles o aclamado “Aparição” (1959), que narra a vida de um professor que vai lecionar na cidade de Évora. De caráter fortemente autobiográfico, o livro aborda as complexas relações do homem com a sociedade, com Deus e consigo mesmo. Este é considerado como seu Magnum opus, ou seja, a obra maior. Vergílio frequentou o seminário na adolescência (dos 14 aos 20 anos), desistiu de ser padre e foi estudar Letras na Universidade de Coimbra. Escreveu poesias, que nunca foram publicadas, e lançou seu primeiro romance (“O caminho fica longe) em 1939. A partir de 1953 tornou-se professor permanente em Lisboa. Escreveu um diário sob o título de Conta-Corrente, que abrange sua vida de 1981 a 94. Em sua homenagem foi instituído o Prêmio Vergílio Ferreira, concedido anualmente pela Universidade de Évora a escritores de destaque na língua portuguesa.
Frase para sobremesa: Escrevo mais para me livrar de mim do que para me expressar (Jon Fosse, 1959-).
Até a próxima!