Post-172

Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)

68. A cor púrpura (The color purple), Alice Walker (1944-)

Este é mais um caso em que, provavelmente – pelo menos para o público de fora dos EUA – a fama do filme precede àquela do livro. A conhecida adaptação cinematográfica, dirigida por Steven Spielberg (1946-), teve no papel principal Whoopi Goldberg (1955-), premiada como melhor atriz no Globo de Ouro de 1986. O livro retrata a vida das mulheres negras na área rural do estado da Geórgia durante a década de 1930, particularmente uma garota de 14 anos que é abusada sexualmente pelo pai e tem dois filhos dele. Para ajudar na superação do trauma, a menina passa a escrever cartas para Deus e para sua irmã, as quais, no entanto, nunca foram enviadas. Trata-se, portanto, de um romance epistolar, como é a designação dada às obras cuja história é desenvolvida por meio de cartas. A trama do livro abraça as questões da discriminação racial, do patriarcado, do amor e da amizade. A obra, lançada em 1982, ganhou o Prêmio Pullitzer no ano seguinte.

A escritora Alice Walker é autora de romances e poesias. Na infância, devido a um acidente doméstico, ficou cega do olho direito. Pelo fato de ser negra, Alice sempre teve de estudar em escolas separadas daquelas dos brancos. Na vida adulta passou a ser uma ativista pelos direitos dos negros. Casou-se em 1967 com uma pessoa branca, sendo o primeiro caso, no estado do Mississipi, de matrimônio entre pessoas de cores distintas.

Em 2021, na comemoração dos 40 anos (na verdade, 39) do lançamento do livro, foi preparada uma edição especial da obra pela Editora José Olympio, a qual contou com uma trinca de tradutoras (o que não é usual): Peg Bodelson, Betulia Machado e Maria José Silveira.      

Língua romani (2)

Por favor não confundam a língua romani com o romeno, idioma oficial da Romênia (Post 71) ou com o romanche (uma das quatro línguas faladas na Suiça, Post 69). Além disso, a mencionada palavra Rom, que designa a etnia cigana, não se relaciona com a cidade de Roma. O país do mundo que, em termos absolutos, abriga o maior número de Roma é, por coincidência, a Romênia, mas os dois termos não têm nenhuma ligação etimológica. Os ciganos que se estabeleceram na França são conhecidos como manouches e os que migraram para a Península Ibérica e para o Brasil são os caló. Este termo, que significa “preto” em romani, deu origem à palavra “calão” em português, para designar uma fala rude, proveniente de pessoas de baixa condição social. Os dicionaristas apontam que a expressão “de baixo calão” é uma redundância, posto que todo calão, por si só, já é baixo. Para completar as curiosidades, a palavra “chulé” é originária de chuló, um termo do idioma caló. Parece confuso, mas não é. Vamos ao idioma.    

O romani é uma língua indo-ariana, não ergativa, com dois gêneros e oito casos gramaticais. Os primeiros escritos são do século XVI. Até lá o romani era um idioma exclusivamente de comunicação oral. Curiosamente, os artigos definidos são copiados das línguas nacionais dos países que receberam a migração cigana. Não existe no romani o verbo “ter”. Assim, a frase “eu tenho um livro” é construída como “é me um livro”.  

Pronomes pessoais: me, tu, ov (ele)/oj (ela), amen, tumen, on.

Dias da semana: luya, marci, tetradi, zhoya, parashtuy, savato, kurko.

Números de 1 a 10: ekh, duj, trin, štar, pandž, šov, ifta, oxto, inja, deš. Marcamos em negrito os números de 7 a 9, pois, ao contrário dos outros, são derivados diretamente da língua grega.

Algumas expressões: Me tut kaamaw (eu te amo; o verbo é derivado do sânscrito kaama – amor, donde kama sutra, i.e., “dissertação sobre o amor”), Sastipe (olá), Lačhi či tahrin (bom dia), Dja devlesa (até logo, falado por quem parte), Achh devlesa (até logo, falado por quem fica), Či hačarav (eu não entendo), Nais (obrigado).  

Podemos fazer um pequeno resumo das famílias linguísticas vistas até agora, sempre lembrando que as classificações não são muito rígidas, já que existem atualizações vindas dos mais recentes estudos filológicos e opiniões diversas sobre o enquadramento de muitos idiomas: família das línguas indo-europeias, família das línguas fino-úgricas (ou urálicas), família das línguas caucasianas, família das línguas túrquicas (ou turcomanas), família das línguas afro-asiáticas (parcialmente, pois vimos apenas o tronco das línguas semíticas) e família das línguas dravídicas. No próximo Post iniciaremos a abordagem de outra grande família, a sino-tibetana.     

Vencedores do Prêmio Camões de Literatura (4)

1991: José Craveirinha (1922-2003)

Craveirinha é o poeta mais conhecido de Moçambique, sendo o primeiro africano a receber o Prêmio Camões de Literatura. Jornalista de profissão, escreveu usando diversos pseudônimos. Esteve preso durante cinco anos (1965-69) devido à sua atuação a favor da independência de Moçambique, a qual acabou ocorrendo em 1975. Logo após a sua morte foi criado o Prêmio José Craveirinha de Literatura, destinado a autores moçambicanos. Sua obra mais conhecida é Karingana ua Karingana que, na língua ronga (etnia de sua mãe) é a expressão utilizada para se iniciar o relato de uma história, o que equivale aproximadamente a “era uma vez”. O poema relata o dia a dia dos moçambicanos na sua luta contra a ocupação colonial portuguesa.  

Frase para sobremesa: Tempos difíceis exigem danças furiosas. Cada um de nós é prova disso (Alice Walker).

Bom descanso!

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