Post-171

Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)

67. Enquanto agonizo (As I lay dying), William Faulkner (1897-1962)

Este é o terceiro livro de Faulkner a aparecer na lista. Anteriormente tivemos O som e a fúria (Post 131) e Absalão, Absalão (Post 136). O leitor pode também revisitar o Post 32, quando apresentamos a biografia do autor e comentários sobre o recebimento do Nobel de Literatura em 1949.

O livro “Enquanto agonizo” (em Portugal: “Na minha morte”) foi lançado em 1930, no ano seguinte à sua obra mais conhecida, “O som e a fúria”. Ele relata os incidentes da viagem que uma família empreende para levar o caixão da falecida matriarca até a cidade onde será enterrado. Os mesmos acontecimentos são narrados e percebidos de maneiras distintas por cada membro da família. São 15 narradores que surgem em 59 capítulos, de tamanhos diversos. Um deles, por exemplo, contém cinco palavras: My mother is a fish. Nesta obra, Faulkner abandona suas costumeiras descrições sobre as características da aristocracia norte-americana e passa a se dedicar às pessoas comuns e humildes. O próprio autor relata que o livro foi escrito em seis semanas, quando trabalhava na usina elétrica da Universidade do Mississipi. Ele aproveitava o período entre meia-noite e quatro da madrugada, quando a demanda de atividades era menor, para escrever a obra que foi consagrada pela crítica. Já para o público, como ocorreu nas outras obras de Faulkner, as reações são extremamente variadas, do “amei” ao “detestei”. O título do livro faz referência a um verso do Livro XI da Odisseia, o qual, na tradução inglesa, se inicia com As I lay dying….

Foi feita uma adaptação cinematográfica, lançada em 2013, que, no Brasil, recebeu o nome de “Último desejo”. O filme teve como diretor e ator James Franco (1978-), que, no ano seguinte, fez a mesma dobradinha em uma outra obra de Faulkner, “O som e a fúria”.

Dentre as traduções fazemos menção à mais antiga (1973) de Hélio Pólvora pela Editora Exped e à de Wladir Dupont, tanto pela Editora Mandarim (2001) quanto pela L&M Pocket (2010).

Língua romani (1)

O romani é o idioma falado pela comunidade cigana ao redor do mundo. Na verdade, na ausência de uma língua única e formalizada na sua versão escrita, o que existe são diversos dialetos, por vezes não mutuamente compreensíveis. Neste Post apresentaremos algumas palavras e expressões consideradas como sendo de compreensão básica para a etnia cigana.

A semelhança do romani com várias línguas do norte da Índia levanta a possibilidade de que os ciganos sejam originalmente um povo que vivia no subcontinente indiano e que, por volta do século X, tenha emigrado para o oeste para fugir das invasões mongóis. Neste trajeto em direção à Europa, eles foram se estabelecendo, em longas permanências, em regiões da Pérsia, Armênia, Grécia, desta forma enriquecendo o vocabulário com empréstimos dos idiomas locais. A partir do século XIII os ciganos se espalharam por praticamente toda a Europa, constituindo minorias em 42 países europeus. As migrações para o continente americano já são mais recentes, provavelmente a partir do século XIX. De forma aproximada, estima-se que haja no mundo de 6 a 11 milhões de ciganos. No Brasil essa população pode chegar a 800.000. Cabe ressaltar, no entanto, que talvez a metade desse contingente mundial não se comunique corretamente na língua romani. Principalmente entre os jovens são utilizadas as chamadas “línguas de contato’, que são uma mistura dos idiomas locais com palavras e expressões em romani.

O nome “ciganos” é um exônimo, ou seja, um termo pelo qual um nome próprio é conhecido em outra língua. Eles próprios se autodenominam de rom (singular) ou roma (plural), palavra essa que significa “homem”. O termo cigano é proveniente do grego atsinganos, que significa “intocáveis”, o que nos dá uma ideia da secular discriminação sofrida por essa etnia. Em inglês o termo é gipsy, similar ao gitan do francês e ao gitano do espanhol, todos eles derivados do nome do país Egito, de onde, erroneamente, se acreditava serem originários. O termo com o qual os ciganos designam aqueles que não são ciganos é gažo (pronúncia gajo) que é a origem desta palavra em português.      

Mas quem são os ciganos? De início, deve ser destacado que é muito difícil o recenseamento do número de ciganos que vivem em cada um dos países. Isto porque, até hoje, essas populações são vistas de forma negativa pelos cidadãos dos países para onde se deslocaram, estando associados a bebedeiras, furtos e roubos, brigas frequentes, além da atividade mais pacífica de “leitura das mãos”. Tais estereótipos, falsos em sua maioria, levam a que muitos ciganos prefiram não responder corretamente as pesquisas sobre sua origem. Ou seja, acredita-se haver um número maior de ciganos do que os levantamentos indicam. Na Alemanha, sob o regime nazista, eles foram a comunidade mais perseguida depois dos judeus. No Post 125 comentamos que os curdos formam a maior etnia do mundo sem serem uma nação. Em segundo lugar viriam os Roma. Mas há uma enorme diferença conceitual: enquanto os curdos reivindicam fortemente a possessão de um território, os Roma já não o fazem, ou seja, nunca se espera que o mundo tenha um ”país cigano”. 

Vencedores do Prêmio Camões de Literatura (3)

1990: João Cabral de Melo Neto (1920-99)

Considerado como um dos maiores poetas brasileiros, o pernambucano João Cabral passou a infância em Recife, mudou-se na adolescência para o Rio de Janeiro e ingressou na carreira diplomática em 1945. No início dos anos 50 ele, junto com mais três colegas, dentre eles o enciclopedista Antônio Houaiss (1915-99), foram acusados de criar uma célula comunista no Itamaraty, sendo afastados por despacho do presidente Getúlio Vargas. No entanto, puderam retornar um ano depois após terem um recurso aceito pelo STF. Sua obra mais famosa, “Morte e Vida Severina”, é um belo exemplo de poesia regionalista. Ela aborda a trajetória de um retirante em busca de vida melhor na cidade de Recife. Pelo seu cálculo e objetividade na construção de poemas, recebeu a alcunha de “poeta-engenheiro”. É dele a conhecida frase “escrever é estar no extremo de si mesmo”. João Cabral foi o autor brasileiro que mais se aproximou de ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, o que, provavelmente, ocorreria no ano em que faleceu (1999), já estando cego há uma década. No entanto, em 1992 recebera o renomado Prêmio Neustadt, considerado como o “Nobel americano”. 

Frase para sobremesa: Dose dupla de Voltaire (1694-1778): 1) Uma discussão prolongada significa que ambas as partes estão erradas; 2) Deve-se consideração aos vivos; aos mortos deve-se apenas a verdade.

Até a próxima!

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