Post-170

Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)

66. Antígona, Sófocles (c. 496 a.C. – c. 405 a.C.)

Antes de tudo, se porventura alguém ainda não conhece a abreviatura ”c.”, ela vem do latim circa e tem o significado de “aproximadamente”, com uso frequente para o caso de datas. No Post 157 já tínhamos apresentado a peça “Édipo Rei” seguida de alguns comentários sobre a vida de Sófocles. “Antígona” é o último volume da chamada trilogia tebana (de Tebas, na Grécia antiga). Os outros dois são o mencionado “Édipo Rei” e “Édipo em Colona”, que é a cidade natal de Sófocles. A clássica tragédia grega “Antígona”, até hoje montada em teatros de todo o mundo, foi escrita por volta de 442 a.C. A peça mostra acontecimentos da vida de Antígona, filha de Édipo. Quando seus dois irmãos Etéocles e Polinice se matam em uma luta pelo trono de Tebas, acaba subindo ao poder Creonte, um familiar por parte da mãe. Este governante, conhecido pelos atos de tirania, determina que o corpo de Etéocles seja enterrado com todas as honras, ao passo que o cadáver de Polinice, que já havia tentado um golpe para ascender ao poder, seja abandonado para que os animais o dilacerassem. Antígona se rebela e desobedece às ordens de Creonte ao preparar os ritos funerários para o irmão Polinice. Como consequência ela é condenada à morte por aprisionamento em uma caverna.

O enfoque filosófico e jurídico da peça de teatro está relacionado à questão da desobediência civil, principalmente para decisões unilaterais de governantes autoritários. Neste aspecto, a peça é atual até o último fio de cabelo. Existem diversas traduções feitas diretamente do grego para o português, algumas em versos livres, outras em prosa. A tradução mais popular no ambiente da dramaturgia brasileira é aquela feita pelo escritor Millôr Fernandes (1923-2012), todavia de forma indireta. Em 2022 a Editora Madamu lançou uma edição bilingue, comemorativa dos 50 anos da clássica tradução de Guilherme de Almeida (1890-1969).

Língua divehi (2)

Ao longo da história, desde dois milênios atrás, o divehi foi escrito com diversos alfabetos. A partir do século XVIII ele passou a ser grafado na escrita thaana, que consiste em um dos alfabetos mais peculiares do mundo. Ele é escrito da direita para a esquerda, o que ocorre com um número muito restrito de línguas, como árabe, hebraico, persa, urdu e alguns poucos idiomas africanos. No entanto, o mais curioso é que ele é o único alfabeto do planeta que não segue uma ordenação convencional das letras, ou seja, parece que tudo está fora de ordem (pelo menos para a gente). Por exemplo, as nove primeiras letras (nesse alfabeto consideradas como de h a v) são derivadas de numerais do alfabeto árabe, ao passo que as nove seguintes (m-d) procedem de números hindus. As demais letras só são usadas em palavras de origem estrangeira. Além disso, o divehi talvez seja a única língua do planeta grafada com quatro alfabetos: o thaana, o árabe (em algumas das ilhas), o devanágari (na costa sudoeste da Índia) e a transliteração para o latim, visando facilitar a vida dos cobiçados turistas.    

Uma curta amostra do alfabeto divehi. Os pequenos sinais gráficos sobre as letras são diacríticos usados para indicar a presença de determinadas vogais:  

އެޑޫއާޑޯ ފޮން ސްޕަރލިންގ ލިޓަރޭޗަރ އެންޑް ލެންގުއޭޖްސް ވެބްސައިޓަށް ޒިޔާރަތްކުރާ ފަރާތްތަކާ ސަލާމް ކުރައްވަނީ

Tradução: Eduardo von Sperling cumprimenta os visitantes do site Literatura e Idiomas

Fonte: Google Tradutor

Pronomes pessoais: aharen, kaley, eyna (ele e ela), aharumen, kaleymen, emeehun (eles e elas)

Dias da semana: hoama, angaara, budha, buraasfathi, hukuru, honihiru, aadhittha.

Números de 1 a 10 (os números são escritos nos algarismos ocidentais): ekeb, dhey, thineh, hathareh, fa’heh, há’eh, há’theh, a’sheh, nuvaeh, dhihaeh. (Lembremos que o sinal – apóstrofo – indica uma ligeiríssima pausa na pronúncia da palavra).

Algumas expressões:

ބައްއަޖޖެވުރި ހެނދުނެހް (Ba’ajjeveri hendhuneh – bom dia), އަހަނނަކަހ ނޭނގުނު (Ahannakah neyngunu – eu não entendo), މަޢާފް ކުރޭ (Ma’aaf kurey – desculpe), އަދެސ ކޮހފަ (Adhes kohfa – por favor), ވރަހ ލޯބިވޭ (Varah loabivey – eu te amo), ޝުކުރިއްޔާ (Shukuriyyaa – obrigado). Fonte: Omniglot

Vencedores do Prêmio Camões de Literatura (2)

1989: Miguel Torga (1907-95)

Um dos mais reconhecidos escritores portugueses, Miguel Torga é o pseudônimo de Adolfo Correia da Rocha, poeta, contista, romancista, dramaturgo e memorialista. Filho de trabalhadores rurais, ele escolheu o pseudônimo para homenagear dois grandes escritores espanhóis, Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno. Já torga é o nome de um arbusto nativo do Oeste da Europa. Miguel emigrou para o Brasil com 13 anos de idade para trabalhar na fazenda de um tio no interior de Minas Gerais. Estudou no ginásio da cidade de Leopoldina, regressando a Portugal com 18 anos. Em 1928 ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, onde se graduou como médico em 1933. Suas obras literárias refletem a rebeldia contra as injustiças e o abuso de poder. Dentre os mais de 50 livros publicados, o destaque fica para A criação do mundo, uma obra monumental sob todos os aspectos, escrita em seis volumes no período de 1937 a 81.

Frase para sobremesa: Sociedades livres são sociedades em movimento e, com o movimento, vem a tensão, a dissidência, o atrito. Pessoas livres soltam faíscas e essas faíscas são a melhor prova da existência da liberdade (Salman Rushdie, 1947-).

Bom descanso!

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