Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
65. Fogo pálido (Pale Fire), Vladímir Nabókov (1899-1977)
Voltemos ao grande escritor Nabókov, agora com uma de suas obras mais complexas e engenhosas. O livro “Fogo Pálido” é um poema de 999 linhas escrito por um poeta fictício – apresentando sua biografia – e sendo comentado por um analista também fictício. A obra é dividida em duas partes: na primeira é apresentado o longo poema contendo quatro cantos; a segunda parte é composta pelos comentários do analista do livro.
Após o sucesso editorial de “Lolita” (Post 119), o autor se encontrou em condições para se aposentar da carreira de professor nos EUA e viver exclusivamente de literatura. Para maior relaxamento, mudou-se para a Europa. O livro “Fogo Pálido” começou a ser escrito em 1960 em Nice (França) e foi finalizado em Montreux (Suiça) em1961, tendo sido publicado em 1962. O título da obra remete a um verso de Shakespeare na peça “Tímon de Atenas”. O livro pode ser considerado como um exemplo de metaficção, ou seja, possui um texto que revela propositadamente seus mecanismos de produção, lembrando frequentemente ao leitor que aquela é uma obra de ficção. Logo após o lançamento ele teve recepções variadas por parte da crítica, que mencionava as palavras “genialidade” e “lixo”, o que ocorre com a análise de obras muito controversas. No filme “Distúrbio” (Unsane) do diretor norte-americano Steven Soderbergh (1963-), o qual já havia ganho uma Palma de Ouro em Cannes com a precoce idade de 26 anos, a personagem principal cita o livro Pale Fire como seu favorito. Na conhecida obra “Versos Satânicos” de Salman Rushdie (v. Post 156), o autor insere uma linha retirada de Pale Fire: “My Darling, God makes hungry, the Devil thirsty”.
A versão do livro para o português (Companhia das Letras, 2004) teve a tradução conjunta de Jorio Dauster e S. Duarte. Destaca-se que Dauster (1937-) já traduziu outros livros de Nabókov, inclusive Lolita. Este experiente tradutor, possuidor de uma ampla carreira diplomática, foi também presidente da Vale.
Língua divehi (diveí, maldivense) (1)
É o idioma oficial das Ilhas Maldivas, um arquipélago situado a oeste da Índia e que vem se transformando em um dos expoentes do turismo mundial. Essas ilhas, que pertenciam ao Ceilão (atual Sri Lanka), adotaram a religião islâmica no século XII. De 1558 a 73 foram ocupadas pelos portugueses e em 1887 se tornaram um protetorado do Reino Unido, sob a forma de sultanato. Ficaram independentes em 1965 e em 1968 se transformaram em uma República. Elas possuem um índice de alfabetização de 98%, que é dos mais altos da Ásia. Algumas poucas palavras foram deixadas pela herança portuguesa, dentre elas lonsi, que, obviamente, significa “lança”.
O divehi é uma língua indo-ariana, muito próxima ao cingalês (Posts 166 e 167), sendo falada por aproximadamente 300.000 pessoas. Ambas derivam de um mesmo idioma ancestral, o prácrito, que era a língua falada há alguns milênios, em oposição ao sânscrito, que era apenas escrito. Pela localização geográfica das Maldivas, o divehi é o idioma indo-europeu falado mais ao Sul do planeta. Uma palavra desse idioma, conhecida em todo o mundo, é “atol”, proveniente de atolhu.
Ao se observar o mapa das Ilhas Maldivas, constata-se que o arquipélago é formado por diversas ilhas, não espalhadas, mas dispostas no sentido vertical. Tal configuração fez com que, em épocas passadas, fossem formados vários dialetos, cada um típico de uma ilha, e muitos deles não mutuamente compreensíveis. Na padronização do idioma oficial foi adotado o dialeto da capital Malé, que é a cidade mais densamente povoada do mundo. Como já vimos em outras línguas indo-arianas, o divehi expressa, na forma falada, as fortes diferenças de classe existentes no país. Todos os usuários da língua apresentam diglossia (duas línguas), já que os idiomas escrito e falado guardam muitas diferenças entre si.
Assim como os inuítes possuem dezenas de palavras para gelo e os berberes do Saara têm um enorme estoque de palavras para sede, a língua maldiva apresenta oito termos para “coco”.
Um dos aspectos mais singulares do idioma divehi, que reflete o comportamento das pessoas (como, aliás, o fazem todas as línguas) é o estranhíssimo fato de os maldivenses não possuirem o costume de cumprimentar e, também, de se despedir. Basta um sorriso. Portanto, o idioma segue essa característica e não possui expressões para “olá” e “até logo”. Mas o sorriso é importante.
Vencedores do Prêmio Camões de Literatura (1)
A maior premiação da língua portuguesa foi instituída pelos governos de Brasil e Portugal em 1988. Ela vem sendo atribuída anualmente desde 1989. Seu objetivo é premiar autores que, pelo conjunto da obra, contribuíram para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural da Língua Portuguesa. No Brasil, a organização fica a cargo da Fundação Biblioteca Nacional. O valor da premiação atual é de cem mil euros, quantia essa que vem a ser uma das maiores no âmbito de eventos literários internacionais. O júri é composto por seis membros com mandato de dois anos. Destes, dois são do Brasil, dois de Portugal e os outros dois escolhidos entre representantes dos países restantes de língua portuguesa: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste.
Frase para sobremesa: De Deus podemos dizer só o que não é; o que ele é, porém, não podemos dizer (Plotino, 204-270).
Bom descanso!