Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
58. O mundo se despedaça (Things fall apart), Chinua Achebe (1930-2013)
É curioso observar que o primeiro livro africano que aparece na lista dos “melhores do mundo” não é obra de nenhum dos seis escritores africanos (até 2023) galardoados com o Prêmio Nobel de Literatura. No entanto, as produções do nigeriano Achebe são bastante conhecidas no mundo literário, estando traduzidas para mais de 50 línguas. Em Portugal o livro se chamou “Quando tudo se desmorona”. O romance, lançado em 1958, foi a primeira publicação de Achebe. Ele faz parte de uma trilogia sobre o imperialismo britânico na África, particularmente na Nigéria. Esse primeiro volume narra a história de um agricultor da etnia Ibo (a mesma do autor) e os impactos da colonização sobre a vida das pessoas. Dentre eles destaca-se o aspecto religioso, quando os nativos foram forçados a acreditar em um único Deus, o que contrariava toda a herança cultural da população nigeriana. No total, Achebe escreveu cerca de 30 livros, dentre romances, contos, poesias, ensaios e literatura infantil.
O autor criticava como os escritores estrangeiros retratavam a África, especialmente na obra “Coração das Trevas”, de Joseph Conrad (v. Post 130). Achebe mudou-se em 1990 para os EUA para atuar como professor, vindo a falecer na cidade de Boston aos 82 anos de idade. Sua premiação mais relevante foi o International Man Booker Prize em 2007.
A edição brasileira foi lançada pela Companhia das Letras em 2009, com tradução de Vera Queiroz da Costa e Silva.
Outras línguas da Índia (27)
A língua santali
Santali é a única língua da família austro-asiática (onde estão o vietnamita e o cambojano) falada em maior escala na Índia. Ela pertence ao ramo Munda. No total, são oito milhões de usuários, na Índia, Bangladesh, Nepal e Butão. Possui alfabeto próprio, desenvolvido em 1925. Contudo, em Bangladesh o santali é escrito no alfabeto bengali. Ressalte-se o baixo índice de alfabetização da etnia sandali, na faixa de 10 a 30%. A língua, que foi originada há três ou quatro milênios, conserva ainda o dual, além do singular e do plural. Ela possui oito vogais e, adicionalmente, seis nasais. Só não são nasalizadas as vogais “e” e “o”. Abaixo é dado um exemplo da beleza estética do alfabeto santali.
ଜତ ଲେକାନ ମୋନ ଆର ଅଧିକାର ରେଯାକ ଆଧାର ରେ ମୁଚୋତ ଧାବିଚ ସୱତନତର ଆର ସୁମାନ କୋ ହୁଯୁକଆ। ଉନକୋ ହୋ ବୁଦଧି ଆର ବୁଝହୌ କୋ ଆଗୁ ତୋରା ବାକା ଦାନେଚ ଆର ମିକ ହଡ ଆର ଦୋସାର ହଡ ର ଆପନାର ରେଯାକ ୱଯୱହାର ହୁଯୁକ ଜୋରୁଡା। (Artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos) Fonte: Omniglot
Números de 1 a 10: mit, bar, pe, pon, moone, turui, eyae, iral, are, gel. É diferente de tudo que já vimos até agora.
As línguas adamanesas
São faladas no Arquipélago de Adaman, que constitui uma das regiões mais remotas da Índia e, até mesmo, do planeta Ele situa-se no Oceano Índico, entre a Índia e o Sudeste Asiático. A maior parte da população é formada por pessoas de baixa estatura, de cor negra, bem distinta da coloração dos indianos ou de povos do Sudeste Asiático. Acredita-se que, há cerca de 60.000 anos tenha ocorrido uma grande migração vinda da África. Como o nível do mar era bem mais baixo, antes da mais recente Era do Gelo, havia uma península que ligava as ilhas ao continente, na região da Birmânia (atual Myanmar). Quando os britânicos se estabeleceram no arquipélago (século XIX), havia cerca de 5.000 pessoas, distribuídas em dez tribos distintas, falando idiomas diferentes, mas intimamente relacionados. A população foi drasticamente reduzida com a criação de uma colônia penal britânica e a chegada de colonos imigrantes. Após a independência da Índia (1947), o hindi passou a sera língua mais utilizada por aproximadamente metade da população. A outra metade se comunicava em uma espécie de língua koiné, que designa um idioma formado pela fusão de diversas línguas.
Como não é possível uma classificação mais rigorosa das línguas adamanesas, elas são consideradas como pertencentes a uma família independente. Trata-se de um idioma aglutinante, que possui uma classe de substantivos distintivos, ou seja, eles estão relacionados com formas de partes do corpo humano. Além disso todos esses componentes devem estar obrigatoriamente acompanhados de pronomes possessivos. Assim, por exemplo, não se pode dizer unicamente “cabeça”, mas “minha cabeça, tua cabeça etc”. Apesar de o índice de analfabetismo ser muito elevado, existem representações escritas, tanto no alfabeto latino quanto no devanágari.
A questão dos numerais é sensacional: só são designados os números de 1 a 3. Para quantidades maiores são usados valores adicionais, como três mais um, mais dois e por aí afora. Como viver é tão simples!
Um capítulo à parte deve ser dedicado à ilha Sentinela do Norte, pertencente ao arquipélago de Andaman. Ela é habitada por um número desconhecido de pessoas, todos caçadores-coletores, que vivem de forma isolada, evitando qualquer contato com a população. Portanto, nada se sabe sobre o idioma sentinelês. Nas raríssimas comunicações com habitantes das outras ilhas, verificou-se que as falas não são mutuamente compreensíveis. Conforme noticiado largamente pela mídia, um missionário norte-americano foi morto a flechadas em 2018, quando tentava, sozinho, se aproximar da costa. A estimativa mais recente do governo indiano é de que existam de 100 a 300 habitantes nessa ilha. Assim é o nosso planeta.
Palavras únicas em português e duplas em outras línguas (1)
Apresentamos a seguir alguns exemplos de termos geralmente expressos em uma só palavra em português, mas que, em outros idiomas, possuem mais de uma possibilidade:
- “Finalmente” pode ter o significado de “ao final” ou então exprimir uma sensação de alívio. A língua alemã, por exemplo, faz a distinção entre essas duas conotações: schliesslich (ao final) e endlich (até que enfim), ambas traduzíveis como “finalmente”.
- A palavra “orgulho” pode significar um sentimento de satisfação sobre algo honrável ou então uma atitude prepotente. Na língua artificial esperanto, que será mostrada em um Post futuro, há uma clara separação: fiero para o primeiro caso e orgojlo para o segundo. A língua francesa também faz a distinção: fierté e orgueil.
- Situação semelhante ocorre com o adjetivo “curioso”, que pode se referir a uma atitude positiva (vontade de aprender) ou então negativa (indiscrição). Na língua russa é feita a distinção entre a primeira situação (любознательный – liubaznatielni) e a segunda (любопытный – liubaptni).
- A palavra “outro” pode referenciar alguém ou algo diferente, fora do âmbito do falante e do ouvinte, ou então simplesmente “um de dois”. No latim a distinção é clara: alius e alter. Também no russo é feita a diferenciação: йной (inói) e другой (drugói). Até no sânscrito, o idioma patriarca da família indo-europeia, existe a separação: anya e anyatara.
Frase para sobremesa: Um homem nunca deveria ter vergonha de confessar que errou, pois na verdade é como dizer, por outras palavras, que hoje ele é mais sábio do que foi ontem (Jonathan Swift, 1667-1745).
Bom descanso!