Post-160

Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)

54. O idiota (Идиот – Idiot), Fiódor Dostoiévski (1821-81)

No Post 120 já foram abordadas as duas obras mais conhecidas do escritor russo: “Os irmãos Karamázov” e “Crime e Castigo”. Escrevemos também um resumo sobre a vida do autor. O livro “O idiota”, que tem um forte componente autobiográfico, recebeu grande sucesso de público e crítica. Ele começou a ser escrito em 1867 em Genebra, tendo sido finalizado em Florença dois anos depois. Na época da criação do romance, Dostoiévski se encontrava em uma precária situação física e emocional. Além das frequentes crises de epilepsia, ele sofria pela morte prematura da pequena filha Sônia, estava mergulhado em dívidas, que tentava cancelar pelo vício do jogo (tema de outro brilhante livro: “O jogador”) e ainda sofria a pressão dos editores. A obra “O idiota” foi publicada inicialmente em folhetim na revista “O mensageiro russo”.

O romance tem como personagem principal o Príncipe Míchkin, que retorna a São Petersburgo após um período de vários anos internado em um sanatório suíço para tratamento da epilepsia. A personalidade do Príncipe é de uma pessoa humanista, pura e ingênua, sendo considerado por muitos como um ser superior. Todavia, na sociedade corrompida de São Petersburgo é visto como um “idiota”, uma mescla de Cristo e Dom Quixote. Para complicar, entram em cena os conflitos advindos da forte atração que ele sente por uma linda mulher. A obra está impregnada das características do niilismo, ou seja, a negação de crenças e convicções.

Existem primorosas traduções do livro diretamente do russo para o português. Temos aqui a presença de trinca de ouro dos mais renomados tradutores: Boris Schnaiderman (1917-2016), Editora José Olympio, 1960. Boris, ucraniano de nascimento, faleceu um dia após ter completado 99 anos; Paulo Bezerra (1940-, Editora 34, 2010); Rubens Figueiredo (1956-), Editora Companhia das Letras, 2022. É também muito conhecida a tradução feita por José Geraldo Vieira (1897-1977) para a Editora Nova Fronteira (2019). No entanto ela foi vertida da edição francesa do livro.   

Línguas da Índia (23)

Língua tâmil (2)

Seguindo as características das línguas dravídicas, o tâmil é um idioma aglutinante, com ordem S-V-O das palavras na frase, sem artigos e com dois gêneros. No pronome da primeira pessoa do plural (nós) existem termos distintos para a inclusividade ou exclusividade do interlocutor. É bastante frequente a criação de onomatopeias (reprodução de um som associado à palavra), como ocorre com a maioria das línguas africanas.Em português essa presença é mais reduzida, mas existem exemplos como tique-taque e atchim. É comum também o uso de pronomes reflexivos como ênfase ao sujeito da frase. Seria como se, em português, usássemos a expressão ele se veio ao invés de simplesmente ele veio.

No tâmil é encontrado o raro caso associativo para designação de um acompanhamento social, como no exemplo eu fui com ele. Já a frase cortei o pão com a faca é típica para o uso do caso instrumental. Na conjugação dos verbos, a forma negativa é idêntica para todos os tempos e pessoas. Finalmente, apresentamos mais uma daquelas saborosas curiosidades idiomáticas: no imperativo do tâmil a conjugação do verbo varia, conforme seja uma ordem positiva ou negativa. Assim, em não faça isso o verbo é conjugado de forma distinta ao oposto, faça isso.     

Dias da semana: thingat-kizhamai, sevvaai—kizhamai, budhan—kizhamai, vyaazhaa—kizhamai, velli—kizhamai, sani—kizhamai, nyaayitru–kizhamai

Números de 1 a 10: ௧ (olru), ௨ (irantu), ௩ (muunru), ௪ (naanku), ௫ (aintu), ௬ (aaru), ௭ (eelu), ௮ (ettu), ௯ (onpatu), ௰ (pattu).

O tâmil difere da maioria das línguas na medida em que os numerais 10, 100, 1000…não são formados pelo conjunto de 1+0, 1+00, 1+000… A propósito, não custa lembrar que o número zero (0) foi criado na Índia no século V.

Algumas expressões (na versão tâmil formal ou culta):

வணக்கம்! (vaṇakkam, olá), காலை வணக்கம் (kaalai vanakkam, bom dia), போய் விட்டு வருகிறேன் (poy vittu varugiren, até logo), புரியவில்லை (puriyavillai, não entendo), என்னை மன்னிக்க வேண்டும் (ennai manniththu vidungal, desculpe), நன்றி (nandri, obrigado), நான் உன்னை காதலிக்கிறேன் (naan unnai kaadhalikkiren, eu te amo). Fonte: Omniglot

Origem de nomes das capitais dos estados brasileiros (9)

Rio de Janeiro: é uma das etimologias mais conhecidas: quando uma expedição portuguesa comandada por Gaspar de Lemos chegou ao local em janeiro de 1502, o navegador julgou que a baía onde estava (atual Baía de Guanabara) seria a foz de um grande rio. A confusão já foi resolvida, mas o nome permaneceu.

Salvador: foi a primeira capital do Brasil (1549-1763), sendo sucedida pela cidade do Rio de Janeiro (1763-1960) e, finalmente, por Brasília. O que poucos conhecem foi um arroubo propagandista do Governo Militar que, de 24 a 27/03/1969, estabeleceu a cidade de Curitiba como capital brasileira. O primeiro nome de Salvador foi São Salvador da Baía de Todos os Santos, já que os navegadores Gaspar de Lemos (português) e Américo Vespúcio (italiano) haviam denominado a baía como “de todos os santos” pela sua descoberta em 01/11/1501, dia de Todos os Santos. Desta forma vemos que o nome da cidade é um hierotopônimo, ou seja, um topônimo que homenageia um ou vários santos. 

São Luís: foi fundada por franceses em 1612, invadida por holandeses e colonizada por portugueses. O nome da cidade é uma homenagem ao Rei da França Luís XIII (Luís, o Justo) (1601-43), cujo reinado se estendeu de 1610 a 1643. Observa-se que ele ascendeu ao trono com apenas nove anos de idade, pela morte de seu pai Henrique IV. A mãe de Luís XIII, Maria de Médici, atuou então como regente até a maioridade do filho. O pobre rapaz, mal conhecendo o enredo de um matrimônio, foi obrigado a se casar, aos 14 anos, com Ana d’Áustria, filha do rei Felipe III da Espanha. Assim é a realeza.

Frase para sobremesa: Realmente, eu não gosto da natureza humana, a menos que esteja temperada com arte (Virginia Woolf, 1882-1941).

Bom descanso!

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