Post-154

Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)

48. A montanha mágica (Der Zauberberg), Thomas Mann (1875-1955)

Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1929 (v. Post 18), Thomas Mann é cultuado como um dos gigantes da literatura mundial. Sua obra mais conhecida (difícil de dizer se seria sua obra-prima) é “A montanha mágica”, um emblemático romance que tem a virtude de apresentar um mosaico de personagens, cada um deles brilhantemente descrito pela pena competente de Mann. A redação do livro foi iniciada em 1912, mesmo ano em que a esposa de Mann foi internada em um sanatório em Davos (Suiça) para tratamento de uma tuberculose. Como os gênios sabem captar as inspirações de forma muito natural, Mann utilizou o mesmo cenário para contar a história de Hans Castorp, um jovem estudante de Engenharia Naval em Hamburgo (Alemanha), que vai visitar um primo internado em um sanatório de Davos pouco antes do começo da Primeira Guerra Mundial. O que se segue é uma magistral apresentação dos outros internos, formando um conjunto de personalidades absolutamente distintas e fascinantes. Alguns críticos apontam que é “um livro sem enredo”, mas talvez aí esteja a sua magia. Castorp, fascinado pelas paisagens montanhosas, desliga-se do tempo, da carreira e da família, sendo atraído por reflexões sobre as doenças dos colegas e sobre a aproximação da morte. O que se vê é a história de um gradual amadurecimento nos campos da política, cultura, arte, religião e filosofia.

O livro só foi publicado em 1924, quando a guerra já estava terminada. Deve-se salientar que, embora Mann tenha exercido seu dom patriótico e apoiado a entrada da Alemanha na Primeira Guerra Mundial, no conflito seguinte ele mudou radicalmente de posição, passando a criticar o regime nazista. Como consequência foi forçado a buscar exílio na Suiça, onde, muitos anos depois, veio a falecer.  

O principal tradutor do livro, assim como de outras obras de Thomas Mann foi Herbert Caro (1906-91), alemão naturalizado brasileiro em 1941 e contratado incialmente pela Editora Globo em Porto Alegre. A Editora Nova Fronteira relançou a obra em 1980 e, mais recentemente (2016) a Companhia das Letras reeditou o livro. A edição da Pan-América, de 1943, teve a tradução de Otto Silveira. Em Portugal a tradução mais conhecida é a de Gilda Lopes, pela Editora Don Quixote.   

A única adaptação cinematográfica de obra tão hermética foi feita em 1982 por Hans Geissedörfer (1941-), contando com o ator alemão Christoph Eichhorn (1957-) no papel de Castorp e as presenças do norte-americano Rod Steiger (1925-2002) e do francês Charles Aznavour (1924-2018).

Línguas da Índia (17)

A língua concani (1)

O concani é um idioma indo-ariano falado por cerca de 2,5 milhões de pessoas, no estado indiano de Goa e em regiões vizinhas. Em homenagem às nossas aulas de História Geral no colégio, vamos relembrar que Goa foi durante mais de quatro séculos (1510-1961) a capital do Estado Português da Índia, que englobava ainda outros territórios, como Damão e Diu. Durante o período conhecido como a “Inquisição de Goa” (1560-1812) houve a perseguição aos adeptos da religião hinduísta, como tentativa de se implantar – nem que fosse à força – o cristianismo em terras asiáticas. Além da destruição de templos hinduístas, houve também a queima de livros impressos nos idiomas hindi e concani. Foi criado o conceito de “Cripto-hinduísmo” ou “hinduísmo oculto” para designar aquelas pessoas que se diziam cristãs, mas que, veladamente, no recôndito de seus lares, cumpriam o culto aos deuses do hinduísmo.

Em 1961 o exército indiano ocupou Goa e declarou sua anexação ao país. Após uma reação imediata da ONU, condenando o procedimento, semanas depois a maioria dos países do mundo reconhecia a nova situação. Portugal, de quem fora subtraída a colônia, na verdade um próspero entreposto comercial, só reconheceu a perda de Goa em 1974, após a Revolução dos Cravos que encerrou um período de quatro décadas de ditadura em Portugal.   

Atualmente Goa, que é o menor dos estados indianos, é aquele que possui o maior PIB per capita. Além de suas atrações turísticas naturais, como cachoeiras e praias, Goa possui diversos monumentos listados como patrimônio da humanidade. Um deles é a Basílica Bom Jesus de Goa, onde, em um mausoléu, está o corpo de São Francisco Xavier (1506-52), falecido na China e transportado até Goa. Sabemos que este santo foi cofundador da Companhia de Jesus, juntamente com Inácio de Loyola (1491-1556). Voltemos ao idioma.

De todas as línguas indo-arianas da Índia, o concani é aquela que mais se aproxima do sânscrito antigo. Apenas em 1987 ela foi reconhecida como idioma oficial do Estado de Goa. Em épocas passadas o concani praticamente desapareceu do contexto linguístico indiano, pois aos cristãos era imposto o uso do português, enquanto os hindus, após o término da Inquisição portuguesa, só utilizavam o idioma hindi. Os primeiros escritos na língua remontam ao século XII, ao passo que o primeiro livro impresso, de caráter religioso, data de 1651. Só no século XX foram iniciadas tentativas para ressurgimento da língua concani. Para muitos especialistas e a própria população, o concani era tão somente um dialeto do marati. Após diversos estudos de filólogos, em 1975 o concani foi estabelecido oficialmente como uma língua separada do marati. Mesmo assim, muitos pais preferiam se comunicar em inglês com os filhos, entendendo que, desta forma, eles teriam uma maior facilidade na escola. De todas as etnias existentes na Índia, os concani são aqueles que apresentam o maior caráter de multilinguismo.   

Origem de nomes das capitais dos estados brasileiros (3)

Cuiabá: aqui entram em cena algumas etimologias da palavra, conforme sua possível raiz indígena. No idioma bororo ou bororó, do tronco linguístico macro-jê, a origem do nome da cidade viria da palavra ikuiapá, ou seja, lugar da ikuia (flecha). Existe ainda a sugestão de que o topônimo provenha do idioma guarani, com o termo kyaverá (rio da lontra brilhante), evoluído sucessivamente para cuyaverá, cuiavá e, finalmente, cuiabá. A terceira indicação está ligada à palavra kuiaba, a qual, em tupi, significa “cuia” ou o fruto da cuieira. Sim, é aquele recipiente ovoide feito do fruto após secagem e desprovido de polpa. Lembremo-nos do chimarrão, o mate quente dos gaúchos. São três possíveis etimologias, pois antes sobrar do que faltar.

Curitiba: a origem permanece incerta (é o que ocorre com muitas etimologias, principalmente as de base indígena), podendo vir do tupi ku’ri (pinheiro) + tyba (muito) ou do guarani kuri’yty (pinheiral). De qualquer forma a palavra-chave aí são os pinheiros, vegetação típica da região. Lembremos que o aeroporto de Curitiba (Aeroporto Internacional Afonso Pena) se localiza na vizinha cidade de São José dos Pinhais.       

Florianópolis: a antiga vila de Nossa Senhora do Desterro foi elevada à condição de cidade no ano da Independência do Brasil (1822) com o nome simplificado de Desterro, que remete à fuga da Sagrada Família para o Egito. No entanto, a palavra tem também o significado de “estado de isolamento” ou de “pena que obriga o réu a permanecer em determinado local”. Como consequência, começou a surgir, no final do século XIX um movimento para alteração do nome da cidade. Hercílio Luz (1860-1924), que foi governador de Santa Catarina por três mandatos, engenheiro e construtor da bela ponte metálica que leva seu nome, decidiu comemorar o fim da Revolução Federalista de 1894, mudando o nome da cidade para homenagear o presidente Floriano Peixoto (1839-95), conhecido como o “Marechal de Ferro”. 

Frase para sobremesa:  Para se ter talento é necessário estarmos convencidos de que o temos (Gustave Flaubert, 1821-80).

Até a próxima!

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