Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
45. David Copperfield, Charles Dickens (1818-70)
Segundo o próprio autor, este é o seu “filho predileto”. Narrado em primeira pessoa (como “Grandes Esperanças”, Post 133) ele é considerado como a mais autobiográfica dentre as obras de Dickens. Como era comum na época, o romance foi publicado inicialmente em 19 capítulos, na forma de folhetim. A versão final, editada em um único volume, saiu em 1850. Conforme a diagramação da obra, ela pode ter até mais de mil páginas.
O romance descreve a trajetória de David Copperfield da infância à maturidade. Tendo nascido já órfão de pai (que morrera cinco meses antes), ele é criado pela mãe e pelo padrasto, com o qual não se dava bem. Após a morte da mãe, David se muda para Londres, onde consegue algum trabalho. Resolve empreender uma marcha para a cidade litorânea de Dover (mais de 100 km de Londres), onde morava uma tia sua, a única pessoa remanescente da família. Na passagem para a vida adulta, David vai encontrando uma galeria de personagens, soberbamente descritos por Dickens. Para alguns detalhes sobre a biografia do autor, por favor consultem o Post 133.
Existem diversas adaptações da obra feitas para o cinema e televisão. Dentre os filmes pode ser apontada uma película do cinema mudo (1911), de 39 minutos de duração, dirigida pelo norte-americano Theodore Marston (1868-1920), além da mais recente, de 2019, dirigida por Armando Iannucci (1963-) e estrelada pelo ator de origem indiana Dev Patel (1990-). Quanto às traduções brasileiras – não se abordando aqui as adaptações literárias – as mais conhecidas são a de José Rubens Siqueira em 2014 para a Cosac & Naify, republicada em 2018 pela editora Penguin, e a de Bruno Gambarotto, editada pela Zahar em 2021.
Línguas da Índia (14)
A língua caxemira (1)
Também conhecida como caxemiri e koshur, esse idioma indo-ariano é a língua oficial no estado indiano de Jamu e Caxemira e na Caxemira paquistanesa. Um pequeno apanhado histórico: o vale da Caxemira é uma região geográfica atualmente dividida entre Índia, Paquistão e China. Em 1947, quando o Império Britânico concedeu independência à Índia, com a consequente formação do Paquistão, a ONU propôs a realização de um plebiscito sobre uma eventual independência da região da Caxemira. Tal consulta nunca ocorreu. No ano seguinte, após um conflito bélico com o Paquistão, a maior parte da Caxemira (cerca de 2/3) foi incorporada à Índia e 1/3 ficou com o Paquistão. Em 1962, após negociações diplomáticas, uma pequena parcela passou a ser território chinês. Periodicamente a mídia nos informa sobre disputas armadas na Caxemira, já que o Paquistão, com alguma razão histórica, argumenta que a maior parte da população é muçulmana, preferindo se expressar em urdu, e que, portanto, a Caxemira deveria ser paquistanesa. Só que, mais recentemente, tem surgido grupos (naturalmente armados) que lutam pela independência completa da Caxemira. Vemos alguma solução? Como os leitores bem raciocinaram, o nome da lã “caxemira”, originária de cabras nativas da região, vem exatamente de lá.
O mencionado estado de Jamu e Caxemira é o único da Índia que possui maioria muçulmana (70%). Uma curiosidade é que esse estado, situado em região montanhosa na extremidade norte do país, possui duas capitais: Srinagar (um milhão de habitantes) é a capital de verão (maio a outubro), ao passo que a cidade de Jamu (250.000 habitantes) é a capital de inverno (novembro a abril). Vamos ao idioma.
Mais uma vez nos deparamos com uma digrafia, ou seja, uma mesma língua sendo escrita em dois alfabetos. Com o tempo, vamos nos acostumando. No presente caso, o caxemiri pode ser representado no clássico alfabeto devanágari (nosso velho conhecido) mas também no perso-árabe. Como já vimos, aqui entra a questão religiosa: enquanto os hindus preferem o primeiro tipo de escrita, os muçulmanos não abrem mão do segundo tipo. Para temperar mais o assunto, senão fica tudo muito fácil, existe um terceiro alfabeto, conhecido como sharada (nome de uma deusa), mas este só é usado em cerimônias religiosas. Uma peculiaridade do alfabeto perso-árabe utilizado para o idioma caxemiri é que aqui as vogais são representadas graficamente, o que não ocorre, por exemplo, no persa e no árabe. O texto literário mais antigo escrito em caxemiri data do século XIV.
Origem de nomes de estados brasileiros (5)
Rondônia: o antigo território de Guaporé foi renomeado em homenagem ao engenheiro militar, explorador, sertanista e marechal Cândido Rondon (1865-1958).
Roraima: a possibilidade mais aceita vem da língua ianomâmi, com o significado de serra verde (roro-verde + imã-serra), em referência ao Monte Roraima.
Santa Catarina: a ilha de Santa Catarina foi colonizada em 1675 pelo bandeirante paulista Francisco Dias Velho (1622-87). Lá ele construiu uma capela em honra a Catarina de Alexandria (287-305), religiosa decapitada por um imperador romano. Ela é considerada como um dos 14 “santos auxiliares da igreja”, isto é, a quem se recorre em caso de necessidades especiais. O nome da ilha foi transferido depois para o nome do Estado.
São Paulo: nome em homenagem ao colégio jesuíta São Paulo de Piratininga, fundado em 1554.
Sergipe: referência ao rio homônimo, do tupi “rio dos siris”.
Tocantins: o estado separou-se de Goiás em 1988. O nome vem do rio que corta o estado de sul a norte, este, por sua vez, derivado do tupi “bicos de tucanos” (tucana + tim).
Frase para sobremesa: Eu sabia que era melhor viver pelo nosso próprio absurdo do que morrer pelo absurdo dos outros (Ralph Ellison, 1914-94)
Até a próxima!