Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
34. O vermelho e o negro (Le Rouge et le Noir), Stendhal (1783-1842)
O romance, de cunho histórico, é considerado como uma das primeiras obras do Realismo (reação à artificialidade do Romantismo, com a inserção de problemas sociais). Ele é passado durante o tempo da Restauração, localizado entre a queda de Napoleão (1814) e a as Revoluções na década de 1830, as quais se espalharam por grande da Europa Ocidental. São várias as interpretações para a escolha das duas cores do título, nunca esclarecida a contento pelo autor. De uma forma simplificada, a maioria dos analistas estabelece a associação do Vermelho com o Exército e do Negro com o clero.
O enredo do romance se baseia na vida de Julien Sorel, um jovem de origem humilde, filho de carpinteiro, e que tenta subir na vida burguesa. Consegue emprego como tutor de uma família abastada, quando desperta paixões e traições amorosas. Ele muda-se para Paris, onde, apesar de seu sangue plebeu, consegue frequentar a alta sociedade. O título originalmente previsto era “Julien”, o qual foi abandonado em favor do impacto e mistério contidos na designação “O vermelho e o negro”. A obra aborda as diversas oposições na vida dos cidadãos, como o conflito entre viver em Paris ou na província, a dualidade entre nobreza e burguesia e, sob o aspecto teológico, o confronto entre a Igreja Jesuíta e os jansenistas. Os adeptos do jansenismo pregavam uma austeridade extrema, a rigidez nos costumes e o rigor na aplicação de preceitos religiosos. O nome deriva do teólogo holandês Cornelio Jansen (1585-1638). A obra “O vermelho e o negro” chegou a ser proibida no Brasil nos anos que se seguiram à Revolução de 1964.
Dentre as diversas adaptações para o cinema, merecem registro a primeira delas, um filme mudo italiano de 1920 e a mais conhecida, lançada em 1954, com a direção do francês Claude Autant-Lara (1901-2000) e estrelada por Gérard Philippe (1922-59), um dos mais icônicos atores franceses, morto prematuramente de câncer aos 36 anos.
O autor do livro, nascido como Henri-Marie Beyle, adotou o pseudônimo de Stendhal em memória a uma cidade alemã (de grafia Stendal), localizada na região da Saxônia, onde ele viveu de 1807 a 8 como oficial do exército napoleônico no reino da Vestfália. Um outro motivo para o pseudônimo, conforme explicação do próprio autor, seria homenagear o alemão Johann Joachim Winckelmann (1717-68), fundador da Arqueologia Clássica e natural da referida cidade. Em 1814 Stendhal se exilou na Itália – que ele considerava como sua pátria afetiva – por sete anos, retornando a Paris em 1821. Seu comportamento sedutor fez com que mantivesse inúmeras relações com mulheres da alta sociedade parisiense. Morreu subitamente, de um ataque de apoplexia (ou AVC), quando caminhava por uma rua em Paris.
Stendhal é reputado pela crítica e pelo público como um dos maiores romancistas franceses, embora tenha escrito apenas dois romances completos: “O vermelho e o negro” e “A cartuxa (convento) de Parma”. Este último, finalizado em apenas 53 dias, é apontado por alguns especialistas como o maior romance francês. Imagino que o encontraremos mais à frente nessa ampla listagem de melhores obras. Ambos são romances psicológicos, nos quais os personagens são desnudados e apresentados em constantes conflitos, principalmente entre as verdadeiras intenções e as máscaras sociais que são obrigados a usar. Sabidamente, Stendhal tinha alguma dificuldade em terminar suas obras, o que não é raro entre escritores. Por outro lado, alguns têm problemas em iniciá-las. A fama de Stendhal só ocorreu, efetivamente, cerca de cinco décadas após a sua morte, como ele próprio havia previsto. Além dos dois romances citados, sua produção literária é composta por cartas, novelas e peças de teatro, muitas delas como publicações póstumas.
Línguas da Índia (3)
A língua urdu
Inicialmente vamos conceituar o idioma hindustani, a partir do qual se desenvolveram as línguas urdu e hindi. Na época do imperador Akbar (1542-1605), o maior governante do Império Mogol, seu exército havia incorporado diversos vocábulos do ambiente militar ao hindustani. Akbar então resolveu dar a denominação de urdu (exército)àquela língua tão rica em empréstimos. Esta é uma das possíveis etimologias da nossa palavra “horda”. Sob o ponto de vista linguístico, o hindustani foi o idioma a partir do qual se formaram as línguas hindi e urdu. Na essência, esses dois idiomas são um só, tanto na gramática, como na morfologia e no léxico, só diferindo no alfabeto. Enquanto, como já vimos, o hindi utiliza a escrita devanágari, para o urdu é adotada a escrita árabe. Ou seja, é a mesma língua, que emprega dois alfabetos. Na explanação sobre os idiomas eslavos, tivemos o caso semelhante do sérvio (alfabeto cirílico) e do croata (alfabeto latino). Mas todos os nossos leitores já têm experiência suficiente para saber que as línguas, assim como os seres vivos, podem tomar caminhos distintos após uma separação. Em resumo, hindi e urdu são, conceitualmente o mesmo idioma, mutuamente compreensíveis na forma falada, mas que continuam se afastando um do outro, como dois irmãos que se separam.
Um pouco do conhecimento de história nos ajudará a compreender melhor o processo ocorrido. Até 1947, ano da independência da Índia, o território do atual Paquistão também pertencia ao Império Britânico. A antiga colônia foi então partilhada em dois Estados, um muçulmano (Paquistão) e outro hinduísta (Índia). Criou-se um acrônimo para a designação do novo país formado. Embora ainda haja alguma controvérsia, o nome Paquistão é formado pelas iniciais de Punjab (província no norte do atual Paquistão e no noroeste da Índia), Afeganistão (país onde vivem muitos paquistaneses), Kashmir ou Caxemira, região onde existe um permanente conflito territorial entre Paquistão e Índia e o sufixo da província do Baluchistan, que ocupa 44% da superfície do Paquistão (apresentamos o idioma baluchi no Post 127). Por coincidência, forçada ou não, a palavra Pak significa “puro” em urdu, portanto, Paquistão é a “terra da pureza”.
Logo após 1947 iniciou-se uma conturbada movimentação de milhões de pessoas, tanto muçulmanos da Índia se dirigindo ao novo Paquistão, como hinduístas se deslocando em direção à Índia. Quando as multidões se encontravam, algo inevitável, a consequência eram banhos de sangue. Desta maneira os aspectos religiosos e políticos selaram a formação definitiva dos dois idiomas (hindi e urdu). Merece menção a criação, também em 1947, do Paquistão Oriental, completamente separado do Paquistão por 1600 km. Essa região tornou-se independente em 1971 com o novo nome de Bangladesh.
O urdu é falado por 230 milhões de pessoas, a maior parte no Paquistão, mas também em certas regiões da Índia. Alguns exemplos de expressões em urdu que são muito semelhantes às do persa: subha baakhair (bom dia), salaam (olá), khuda hafiz (até logo). Já a palavra “obrigado” é shukrya, quase idêntica ao árabe.
Cidades e países que mudaram de nome (1)
Será apresentada em Posts seguintes uma listagem de topônimos que sofreram mudanças nas últimas décadas, tanto para nomes de países, quanto de cidades mais conhecidas. Obviamente não temos espaço para registrar as centenas de mudanças na denominação de municípios brasileiros – e essa nem seria a nossa intenção – feitas, normalmente, para homenagear personalidades políticas, em detrimento dos sonoros nomes originais de rios, serras, pássaros e outros topônimos de origem tupi. Tampouco cabe aqui a monótona enumeração de localidades que sofreram adaptações à nomenclatura dos novos idiomas, principalmente após períodos de guerra. Um exemplo é a cidade polonesa de Gdánsk, anteriormente conhecida por Danzig quando estava situada em território alemão. Seria também fastidiosa a recuperação dos nomes históricos dos países da América Latina, os quais passaram por diversas modificações de nome ao longo dos últimos séculos.
Europa:
- País Holanda mudou em 2020 para Países Baixos.
- País Macedônia para Macedônia do Norte (2019).
- País República Tcheca para Tchéquia (2016).
- Cidade de Bizâncio, conhecida no Ocidente como Constantinopla (homenagem ao imperador Constantino (272-337), capital do Império Romano de 330 a 395, capital do Império Bizantino ou Império Romano do Oriente de 395 a 1204 e de 1261 a 1453, capital do Império Latino de 1204 a 1261), capital do Império Otomano (1453-1922), a partir de 1930 mudou o nome para Istambul.
Frase para sobremesa: A comédia faz com que a subversão do estado das coisas existentes seja possível (Dario Fo, 1926-2016).
Bom descanso!