Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
33. O processo (Der Prozess), Franz Kafka (1883-1924)
Josef K., bancário de profissão, no dia do seu aniversário de 30 anos acorda com policiais na porta do apartamento. Sem saber o motivo, ele é processado por um crime não especificado. A evolução da investigação passa por um angustiante labirinto de medidas burocráticas, onde sequências de sonhos e pesadelos são mescladas com acontecimentos reais. A obra “O processo” tem sua trama impregnada de absurdos, cenas de distopia e de sensações claustrofóbicas. Foi este livro que levou à criação do neologismo “kafkiano” para designar uma atmosfera de incongruências dentro de um cruel contexto burocrático que foge a qualquer aspecto de lógica ou racionalidade. Kafka afirmava que a primeira parte que ele escreveu da obra “O processo” foi exatamente o seu final. Ele se proclamava como grande admirador do escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-81), notadamente nos seus escritos sobre alienações e brutalidade física e psicológica.
O livro permaneceu inacabado até 1920, quando foi entregue a Max Brod (1884-1968), para que o texto fosse queimado após a morte do autor. Este pedido era estendido a outros manuscritos não finalizados como O desaparecido e O castelo. Brod, em decisão que priorizou a Arte, não seguiu o desejo do autor. “O processo” teve publicação póstuma em 1925, “O desaparecido” em 1926 e “O castelo” em 1927. Na verdade, o hoje celebrado escritor Franz Kafka só ficou famoso após a sua morte. Em 1998 o manuscrito de “O processo” foi arrebatado em leilão pelo Ministério da Cultura alemão, que desembolsou 1,5 milhão de euros. Atualmente ele se encontra na biblioteca da cidade de Marbach am Neckar, próxima a Stuttgart, e conhecida por ser a terra natal de Friedrich von Schiller (1759-1805), um dos maiores romancistas alemães. A adaptação cinematográfica mais conhecida é The trial (1962), dirigida por Orson Welles (1915-85) e contando com o ator Anthony Perkins (1932-92) no papel principal.
Franz Kafka nasceu em Praga, à época pertencente ao Império Austro-Húngaro (1867-1918), e faleceu em uma cidade do território austríaco. Era o mais velho dos seis filhos de uma família judaica. Três de suas irmãs morreram em campos de concentração. Sua língua materna, e na qual ele escreveu todas as suas obras, era o alemão, embora também fosse fluente no idioma tcheco. Formou-se em Direito e começou a trabalhar em uma companhia de seguros, o que lhe permitia ter algum tempo livre para os seus escritos. Conforme apontamos, ele teve muito poucas obras publicadas em vida, dentre elas o conhecido conto A metamorfose. No aspecto pessoal era conhecido como mulherengo e assíduo frequentador de bordeis. Ficou noivo várias vezes, mas nunca chegou a se casar. Em 1917 foi diagnosticado com tuberculose e passou os sete últimos anos de sua vida internado em vários sanatórios. Como a enfermidade afetou gravemente sua laringe, não havia possibilidade de alimentá-lo, dado que a nutrição parenteral não tinha ainda sido desenvolvida. Dentre as diversas traduções feitas para o português, a maior parte delas vertida do inglês ou do francês, merecem destaque as duas mais recentes, traduzidas diretamente do alemão: a de Modesto Carrone, editada em 1997 pela Companhia das Letras e a de Mariana Ribeiro de Souza, publicada em 2020 pela editora Via Láctea.
Línguas da Índia (2)
A língua hindi (2)
A língua possui os gêneros masculino e feminino, as palavras na frase seguem o modelo S-O-V e as conjugações verbais variam conforme número, gênero, modo e tempo, seguindo o padrão dos idiomas indo-europeus. O hindi é um idioma ergativo (lembram-se? é quando o sujeito de verbos transitivos recebe uma declinação). Uma particularidade, quase inexistente em idiomas indo-europeus, é a presença de um marcador do objeto direto, que é a partícula ko, mas apenas para seres animados. Assim em hindi teríamos; “eu (que seria declinado no caso ergativo) leio um livro”, “João (também declinado) ama ko Maria). Estranho, mas elegante. À semelhança do que vimos com o persa, existe no hindi uma grande quantidade de verbos compostos, com a segunda partícula significando “fazer” (karnaa). Por exemplo, não existe usar, mas fazer uso, começar é fazer começo, tentar é fazer tentativa e amar, logicamente, é fazer amor. O verbo “ter” no sentido de “possuir” é expresso, como no russo, por “junto a mim”. Assim, eu tenho um irmão, é construído como junto a mim um irmão.
Dias da semana em hindi: somavar, mangalavar, budhavar, brihaspativar, shukravar, shanivar, ravivar.
Pronomes pessoais: main (eu), tu (você – muito informal) / tum (você – informal) / aap (o senhor, a senhora – formal), yah/vah (terceira pessoa; a distinção aqui não é pelo gênero, mas pelo distanciamento; eles equivalem aos pronomes demonstrativos “esse” e “aquele”), ham (nós), tum (vós), ye/ve (esses, aqueles).
Numerais de 1 a 10: १ (ek), २ (dô), ३ (tin), ४ (tchar), ५ (pantch), ६ (tchach), ७ (saat), ८ (aath), ९ (nau), १० (das). Os numerais acima de 20, por exemplo 21, 22.., são expressos por novas palavras e não, como na maioria das línguas, pela combinação dos termos vinte + um, vinte + dois….
A seguir, algumas expressões:
नमस्ते (namastê, olá e até logo), &शुभ प्रभात (shubh prabhaat, bom dia),
मैं समझा नहीं (maim samajha naheen, eu não entendo), माफ़ कीजिये (maaf keejie, desculpe), धन्यवाद (dhanyavaad, obrigado), मैं तुमसे प्यार करता हुँ (main tum se pyaar kartaa hun, eu te amo – homens falando; a tradução literal é “eu você amor fazendo estou”), मैं तुमसे प्यार करती हुँ (eu te amo – mulheres falando). Fonte: Omniglot.
A lista de Swadesh
Trata-se da elaboração de um vocabulário básico, teoricamente comum a todos as línguas, para comparação quantitativa entre dois idiomas de um mesmo grupo linguístico, com o objetivo de se obter uma data aproximada de separação. Ela foi criada originalmente pelo linguista norte-americano Morris Swadesh (1909-58), especialista na ciência da “glotocronologia”, ou seja, a datação das divergências linguísticas. A lista de Swadesh possui 225 significados, isto é, palavras básicas aparentemente resistentes a empréstimos de outros idiomas. Elas referem-se a partes do corpo, produtos da cultura humana, animais, utensílios básicos, adjetivos, verbos e pronomes mais relevantes. Todavia, diversas simplificações foram sugeridas, dentre elas a conhecida lista elaborada pelo linguista israelense Aharon Dolgopolsky (1930-2012), com base em estudo comparativo de 140 idiomas. Na sua proposição, estas 15 palavras são as menos prováveis de serem substituídas por outras no desenvolvimento de um idioma. Elas são apresentadas em ordem de estabilidade (ou de menor probabilidade de substituição): eu, dois, você, quem/o quê, língua, nome, olho, coração, dente, não, unha, piolho, lágrima, água, morto.
Frase para sobremesa: Para controlar o medo, você tem que isolá-lo. E, para isso, tem que definir o seu objeto com precisão (Kenzaburo Oe, 1935-2023).
Até a próxima!