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Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)

32. O sol é para todos (To kill a mockingbird), Harper Lee (1926-2016)

E as surpresas não param. Esta é, praticamente, a única obra escrita pela norte-americana Harper Lee, na verdade, um livro de grande impacto. Expliquemos o advérbio “praticamente”. Em 2015, um ano antes da morte da autora (com 89 anos), a qual vivia em uma casa de repouso, foi descoberto no cofre da residência onde ela morava, o manuscrito de um romance intitulado “Vá, coloque um vigia” (Go, set a watchman), que é uma citação bíblica. Ao contrário do que a editora desejava, o manuscrito não era uma sequência do seu famoso livro, mas uma introdução, pois várias passagens estão repetidas nos dois romances. Parece ainda que o lançamento ocorreu sem a prévia autorização da autora, já senil, o que causou uma série de desconfortos jurídicos. De qualquer forma, a obra foi lançada e se constituiu em um sucesso de vendas. Há ainda outros casos similares na literatura mundial de alguém ser reverenciado pela produção de uma única obra, ou então duas, se quisermos ser mais rigorosos. Acompanhem os Posts futuros. No mais, Lee escreveu três artigos em revistas femininas.

O livro “O sol é para todos” é uma obra de indiscutível beleza, com um trato refinado dos problemas de racismo e desigualdade social no sul dos EUA. A trama gira em torno da atuação de um advogado (Atticus Fitch) que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca. Quando o advogado assume o caso, grande parte da população da pequena cidade se volta contra sua família, tanto de forma verbal quanto com tentativas de agressão física. O curioso título original do livro é uma metáfora de que a condenação de um inocente equivale a matar um pássaro, também inocente. A palavra mockingbird pode ser traduzida como tordo, rouxinol ou então cotovia, como preferiram em Portugal. O livro, narrado pela filha do advogado e lançado em 1960, ganhou no ano seguinte o cobiçado Prêmio Pulitzer de Ficção. Mais ainda, em 1962 saiu um grandioso filme, com os mesmos correspondentes títulos em português e inglês, dirigido por Robert Mulligan (1925-2008) e com Gregory Peck (1916-2003) no papel principal. Na maior parte do mundo o sucesso do filme, no qual os conflitos raciais são apresentados de forma arrebatadora, é que levou à curiosidade em se conhecer quem era o autor. A referida película recebeu o Oscar de melhor roteiro adaptado. Aí o kit estava completo, com o livro e o filme, ambos de grande sucesso. As estatísticas de venda de livros nos EUA indicam que, até hoje, são comercializados por ano mais de um milhão de exemplares da obra magna.

A biografia de Harper Lee não apresenta muitos sobressaltos, sendo que a autora pôde usufruir por mais de 50 anos a satisfação pela popularidade da obra. Harper sempre viveu de forma mais reclusa e detestava dar entrevistas. Ela ingressou na Faculdade de Direito da Universidade do Alabama, mas abandonou o curso quando estava no último semestre. Cada um tem as suas razões para tomar decisão tão marcante.  Morreu aos 90 anos, de causas naturais, no lar de idosos onde morava.       

Línguas da Índia (1)

Neste Post iniciaremos um longo capítulo sobre os idiomas falados na Índia, país com enorme diversidade linguística. Naturalmente serão abordados apenas os idiomas mais relevantes e com maior número de falantes, já que seria impossível, no contexto desse Blog, a apresentação das quase 500 línguas vivas utilizadas no país asiático, escritas em 70 alfabetos distintos. Alguns dos idiomas desse grande grupo são falados também em países vizinhos, como Paquistão, Nepal, Bangladesh, Butão e Sri Lanka. 

Existem duas famílias principais à qual pertence a maioria das grandes línguas da Índia: a família indo-europeia, como é o caso do hindi, urdu, bengali, punjabi, marati, gujarati, bihari, rajestani, assamês, caxemir, nepali, cingalês, bili, romani, maldívio e a família dravídica, representada pelo telugu, canarês, malaiala, tâmil.

A língua hindi (1)

O hindi pertence ao tronco indo-iraniano (ou indo-ariano) da família indo-europeia, estando alocado no ramo índico. Ele é derivado diretamente do sânscrito védico, que á a forma mais arcaica do sânscrito, utilizada nos escritos religiosos vedas – relacionados ao hinduísmo – entre os anos 1.700 a. C e 600 a.C. O hindi é a mais antiga língua conhecida do tronco indo-iraniano. Ele foi sucedido, a partir de 600 a.C., portanto ainda na Idade do Ferro, pelo sânscrito clássico. Junto com o inglês, o hindi é um dos dois idiomas oficiais da Índia, sendo os outros idiomas considerados com línguas regionais. Além disso, ele é língua minoritária em Fiji (onde é conhecido como Awadhi), na Guiana, Suriname, Trinidad e Tobago, Nepal, África do Sul, Cingapura, Ilhas Maurício e em todos os países que receberam a diáspora indiana. Estima-se um número total de falantes de aproximadamente 650 milhões, o que torna o hindi o quarto idioma mais falado no mundo (após mandarim, espanhol e inglês). Ele é utilizado como primeira língua por 70% da população indiana (principalmente no norte, centro e oeste do país) sendo que o restante o emprega como segunda língua, ou seja, o hindi se constitui no grande idioma indiano.   

Ele é escrito no alfabeto devanágari, cuja etimologia vem de “morada do divino”. Esse alfabeto, usado em mais de 120 idiomas, foi desenvolvido no período entre os séculos I e IV. Possui 47 caracteres primários (14 vogais e 33 consoantes), sendo escrito da esquerda para a direita, sem a existência de letras maiúsculas. Um detalhe marcante é a presença de uma linha horizontal (shirorekhaa) que corre ao longo do topo das letras, ou seja, qualquer criança no mundo, antes da sua alfabetização, já consegue identificar a beleza e harmonia desse alfabeto.

A língua hindi adquiriu prestígio durante o poderoso Império Mughal (de ascendência mongol), que abrangeu o período de 1526 a 1857. No entanto, as questões administrativas do império eram registradas no idioma persa, que exerceu forte influência no vocabulário do hindi. Também a língua portuguesa deixou sua contribuição por meio dos colonizadores e missionários. Alguns exemplos: paadri (padre), baalti (balde), tchabi (chave), girjaa (igreja), almaari (armário) e aspataal (hospital).

Palavras originárias de nomes de lugares ou povos (5)

Solecismo: erros em relação à norma culta de uma língua (de Soles, colônia de atenienses na Ásia Menor, os quais falavam um dialeto pouco compreensível).

Spa: da cidade belga de Spa, onde existem estâncias hidrominerais desde a época dos romanos.

Tarântula: aranha de corpo felpudo (da cidade portuária de Taranto, no sul da Itália onde tais aracnídeos eram encontrados com frequência. Havia a crença de que, para se eliminar o veneno após a picada, a pessoa deveria dançar freneticamente, pois a peçonha sairia pelo suor. Esta dança recebeu o nome de “tarantela”).

Topázio: da ilha Topazos, situada no Mar Vermelho.

Tosco: grosseiro, rústico, inculto (de Tuscus, um bairro etrusco da Roma antiga, com baixa reputação de moralidade).

Veneziana: janela feita de lâminas de madeira ou metal, homenagem à cidade de Veneza.

Frase para sobremesa: O que são os homens? Crianças que duvidam (Derek Walcott, 1930-2017).

Bom descanso!

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