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Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)

31. O homem invisível (The invisible man), Ralph Ellison (1914-94)

Surge aqui a primeira grande surpresa na lista de melhores livros. Uma obra muito pouca conhecida fora dos EUA e que passou a fazer parte das seleções em diversas listagens. O livro “O homem invisível”, publicado em 1952, recebeu o National Book Award no ano seguinte e projetou o nome do autor para esferas antes nunca imaginadas. O enredo do romance aborda a trajetória de uma pessoa negra (assim como era o autor) em busca de sua identidade e de uma posição na sociedade. A metáfora, que dá origem ao título da obra, considera que a cor negra, por tanto desprezo e afastamento, conferia à pessoa uma certa “invisibilidade”. No início do século XX, o personagem sai do Sul dos EUA, região amplamente racista, e parte para Nova Iorque, onde se fixa no bairro de negros do Harlem. Narrado na primeira pessoa, a obra transita por temas, além do racismo – que é o carro-chefe – do nacionalismo, marxismo e individualismo. Apesar do destaque e das premiações recebidas, o autor afirmava que não estava satisfeito com a versão final da obra. O ex-presidente dos EUA, Barak Obama (1961-) considerava que o livro “O homem invisível” foi um livro fundamental na sua formação intelectual.

Tem-se aqui o caso, não inédito, mas raro, de um escritor que se projeta em decorrência de um único livro escrito. Ellison, que se dedicava muito mais a escrever ensaios e contos, teve o manuscrito do seu possível segundo livro perdido em um incêndio na casa onde morava. Em 1999, portanto cinco anos após sua morte, houve a publicação de uma versão inacabada de Juneteenth. Uma outra publicação, ocorrida em 1964, quando Ellison já era conhecido nos círculos literários, foi a coletânea de ensaios Shadow and Act. É curioso observar que o livro “O homem invisível” tem o mesmo título de um romance do escritor britânico H.G. Wells (1866-1946), publicado em 1897, este sim, largamente conhecido em todo o mundo como uma marcante obra literária.  

Os documentos de Ralph Ellison indicam que ele nasceu em 1914, muito embora sua mãe e diversos parentes afirmem que o ano correto teria sido 1913, o tabelião é que havia feito um registro equivocado. Imaginem que isso aconteceu nos EUA em pleno século XX. Seu pai, o qual cultivava intensamente o hábito da leitura, desejava que, pelo menos, um dos três filhos se tornasse escritor. Neste aspecto ele foi atendido. Ralph, que teve diversos tipos de trabalho na juventude, também tocava trompete em bandas locais. Influenciado por um professor de inglês, no Instituto para negros onde estudava, ele começou a pensar em ganhar dinheiro com a literatura. Mudou-se para Nova Iorque em 1936 e ali estabeleceu contato com alguns escritores negros que ganhavam a vida dessa maneira. No começo da carreira, ele escrevia ensaios e contos, os quais recebiam muito pouco destaque. Em 1938 casou-se com Rose Poindexter, uma atriz de cinema (segundo sites na Internet ela fez apenas um filme), mas se divorciaram em 1945. Conforme as informações disponíveis em diversos sites, inclusive no prestigiado Imdb (Internet Movie Database), atualmente pertencente à Amazon, Rose, nascida em 1911, não havia falecido até a data da redação desse Post (outubro/23). Acompanhemos. Em 1946 Ellison voltou a se casar. No restante da vida que, como vimos, foi muito pobre em outras publicações, ele atuou basicamente como professor. Recebeu diversas medalhas de mérito artístico e um Doutorado honoris causa pela célebre Universidade de Harvard. Faleceu em 1994 devido a um câncer no pâncreas.

A primeira tradução de “O homem invisível” só foi publicada no Brasil em 1990, pela Editora Marco Zero, sob a responsabilidade de Maria Serra. Em 2013 a Editora José Olympio lançou uma nova tradução, feita por Mauro Gama, a qual foi reeditada em 2020.    

Outras línguas semíticas (2)

Língua tigré

Falada por aproximadamente 800.000 pessoas da etnia “tigré” na Etiópia, além de partes do Sudão, onde o idioma é conhecido como Xasa. É uma língua muito próxima do tigrínio (inclusive nas denominações tão semelhantes dos dois idiomas). Enquanto na Etiópia o tigré é escrito no clássico alfabeto abuguida, no Sudão, país islâmico, é empregado o alfabeto árabe. O tigré é a língua mais próxima do antigo Ge’ez, que ainda permanece como o idioma litúrgico da Igreja Ortodoxa Etíope.  

Cabe ainda um breve comentário sobre a língua oroma, que, como vimos, é a mais falada na Etiópia. No entanto, ela não pertence ao grupo semítico, embora seja da família afro-asiática. Vamos entender. Até o momento apresentamos nos nossos Posts idiomas das famílias indo-europeia, urálica, turcomana e, agora, a afro-asiática. Embora tais classificações não sejam estanques e admitam outras versões – à medida que a Linguística vai evoluindo – elas servem como ponto de partida para uma visão global da distribuição dos idiomas. A família afro-asiática é composta pelos seguintes grupos (ou ramos): semítico, berbere, chádico, egípcio e cuxídico. A língua oroma está alocada no grupo cuxídico, cujo nome é derivado de Cuxe, personagem bíblico e primeiro filho de Cam, portanto, neto de Noé. O oroma é a língua mais relevante desse grupo. Ela é falada por cerca de 30 milhões de pessoas, a maior parte delas na Etiópia (aproximadamente 25 % da população), mas também no Quênia, Somália e no Egito. Antigamente esse idioma era conhecido como Galla. Seu uso foi proibido na Etiópia durante o governo do líder etíope Haile Selassie (1892-1975), o qual durou de 1916 a 74. Ele foi deposto em um golpe de Estado conduzido por Mengistu Haile Mariam (1937-), que implantou um regime socialista, de 1974 a 91, além de ordenar o enforcamento de Selassie. Em novo golpe Mengistu foi derrubado, buscando exílio no Zimbábue, onde vive até hoje. Pois bem, a língua oroma foi proibida na Etiópia, desde o governo de Selassie até 1991, ano da queda de Mengistu. Neste mesmo ano uma comissão de intelectuais de etnia oroma se reuniu e decidiu que, doravante, a língua seria escrita no alfabeto latino e não no clássico abuguida. O idioma guarda algumas semelhanças com as línguas semíticas, na medida em que existe a geminação de consoantes (duplicação, com obtenção de nova palavra), existência de dois gêneros e característica pro-drop (alguns pronomes pessoais podem ser omitidos). Por outro lado, o oroma possui seis casos, que são formados por sufixação, como nas línguas indo-europeias. Seguem dois exemplos de expressões usadas diariamente: akkam bulte (bom dia) e galatoomi (obrigado).   

Palavras originárias de nomes de lugares ou povos (4)

Magnésia: óxido de magnésio (da cidade de Magnesia, situada na Ásia Menor, em região rica em ímãs naturais.

Maratona: da cidade grega de Marathon, para onde o soldado grego Fidípedes correu 42 km para comunicar que os persas haviam sido derrotados.

Musselina: tecido de seda originalmente fabricado em Mossul, cidade no atual Iraque.

Organdi: tecido, espécie de uma musselina leve, fabricado na cidade de Urganje, no atual Uzbequistão.

Persiana: cortina de placas, homenagem à Pérsia (antigo nome do Irã).

Pêssego: de persicum malum, maçã da Pérsia.

Frase para sobremesa: A poesia é ao mesmo tempo um esconderijo e um alto-falante (Nadine Gordimer, 1923-2014).

Até a próxima!

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