Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
29. As vinhas da ira (The grapes of wrath), John Steinbeck (1902-68)
O livro, publicado em 1939, é a obra-prima do escritor norte-americano John Steinbeck. Por favor, consultem o Post 45, no qual é detalhada a vida e a produção literária do vencedor do Nobel de Literatura em 1962. A obra ganhou ainda o Prêmio Pullitzer de Ficção no ano seguinte ao seu lançamento, assim como uma celebrada adaptação cinematográfica sob a competente direção de John Ford (1894-1973). O livro narra a migração para a Califórnia da família dos Joads, expulsos da fazenda em Oklahoma onde trabalhavam como meeiros. A trama se passa durante a época da Grande Depressão nos EUA, que se estendeu de 1929 até a Segunda Guerra Mundial. O personagem principal, Tom Joad, regressa à casa depois de libertado da prisão. Encontra um cenário de desespero, fome, angústia e de desemprego generalizado. Dispostos a buscarem melhores condições de vida, eles compram um caminhão velho e partem em destino a terras mais promissoras. Em texto de linguagem franca e comovente, são relatadas as vicissitudes encontradas no caminho, os precários acampamentos temporários, a exploração da mão de obra, a opressão exercida pelas famílias mais ricas, tudo isso compondo um cenário desolador para as famílias migrantes. São discutidos no texto os valores universais, as injustiças e as gigantescas dificuldades na obtenção de empregos dignos.
O título do livro foi sugerido pela esposa de Steinbeck, retirado de um verso da letra do Battle Hymn of the Republic. A precisa abordagem do contexto histórico de uma das piores crise sofridas pela classe pobre norte-americana, faz com que a obra ainda hoje seja adotada nas aulas de Literatura em todo o país.
A língua amárica (1)
O amárico (não confundam com o aramaico, apresentado no Post anterior), língua oficial da Etiópia, é um idioma do ramo meridional das línguas semíticas. Depois do árabe, é o segundo maior idioma semítico em número de falantes: são 32 milhões de pessoas que o têm como língua materna e mais 25 milhões como segunda língua, totalizando aproximadamente 57 milhões de usuários. Algum leitor mais devotado às questões demográficas pode argumentar: “Ora, mas a Etiópia tem quase 100 milhões de habitantes, por que apenas 32 milhões o usam como língua materna?” A resposta chega em dois tempos: antes de tudo, vamos relembrar que a linguística não é uma ciência exata, daí vem o seu encanto; ademais, a língua mais falada na Etiópia não é o amárico, idioma oficial, mas o Oromo, empregado por 36 milhões de pessoas. Trata-se de uma língua não semítica e que será apresentada em um Post seguinte. Lembremos que a etnia amhara não se espalha por todo o país, estando mais concentrada no noroeste da Etiópia. Voltemos ao amárico. O mais atraente nesse idioma é, sem dúvida, seu alfabeto, criado há dois milênios. Absolutamente diferente e complexo (no final do texto mostraremos algumas expressões na escrita amárica), cada letra é formada por uma consoante e uma vogal. São 34 consoantes básicas, cada uma delas variando em sete formas, conforme a vogal que a acompanha. Somando-se ainda algumas dezenas de representações especiais para a letra “w”, chega-se a um total aproximado de 280 letras. Desta maneira, a apresentação do alfabeto amárico (denominado de abuguida) não consiste em uma simples listagem de letras, como ocorre em quase todas as línguas do mundo, mas em uma ampla tabela, com consoantes no eixo vertical e vogais no horizontal, um pesadelo para os estrangeiros e um gigantesco esforço mental para os pobres alunos de escolas primárias, que são obrigados a decorá-la.
A língua amárica é derivada da antiga língua semítica Ge’ez (século IX a. C.) esta, por sua vez, proveniente do antigo árabe do sul, falado na região do atual Iêmen. É um idioma no qual ocorre com frequência o processo de geminação, isto é, a duplicação de sons consoantes. Por exemplo: alä (ele disse), allä (há). Só que tal característica não tem notação no alfabeto, ou seja, a pessoa tem que tentar entender pelo contexto da frase. Tanto a possessão quanto a marcação do artigo definido são feitos por meio de sufixos. Assim: bet (casa, muito semelhante ao árabe), bete (minha casa), betu (a casa). Como todas as línguas semíticas, o amárico possui os dois gêneros clássicos. A separação entre eles é tão forte que, não apenas há a distinção na segunda pessoa do singular, como acontece em outras línguas semíticas, mas, vejam só, também no objeto! Portanto, na singela frase “eu tenho um livro”, a palavra “livro” variará conforme o falante for masculino ou feminino. O amárico é um idioma pro-drop, que, como já sabemos, indica que os pronomes pessoais podem ser omitidos sem prejuízo à compreensão da frase. A propósito, eles são: ǝne, antä (m)/anchi (f), ǝssu/ǝsswa, ǝnna, ǝnnantä, ǝnnässu.
A formação da frase negativa com o verbo “ser” é completamente distinta daquela da frase afirmativa, algo que não é usual nas línguas. Por exemplo: näw (ele é…), aydälläm (ele não é …). Este sinal da letra “a” com trema não é pronunciado como “é”, como ocorre com os idiomas indo-europeus, mas sim como “ô”. Outra transliteração muito frequente é a letra “ǝ” (um “e” de cabeça para baixo), que corresponde ao som aproximado de “ê”. Embora a maioria das línguas semíticas siga preferencialmente a sequência V-S-O, no amárico é mais comum a ordem S-O-V. Na fonética do amárico, que não possui consoantes laringalizadas, como aquele “R” gutural do árabe e do hebraico, se observa o uso intenso de consoantes ejetivas, que são aquelas que soam como “lançadas” ou “explosivas”, como no “P”, “K” e “T”.
(continua no próximo Post)
Palavras originárias de nomes de lugares ou povos (2)
Bengala: bastão de madeira originalmente feito de cana de bengala (de Bengala, antigo reino na Índia).
Beócio: simplório, ingênuo, pouco cultivado; características atribuídas pelos atenienses aos beócios (de Beócia, região histórica da Grécia antiga).
Berlinda: brincadeira de crianças; estar na berlinda: estar em exibição (nome de carruagem de quatro rodas e provida de vidros, a qual era muito usada em Berlim para transporte da realeza).
Biquine: maiô de duas peças, de tamanho reduzido; nome inspirado no Atol de Bikini, localizado no Pacífico – onde foram realizados em 1946 testes com bombas nucleares – considerando-se que o novo vestuário seria “uma invenção explosiva” (etimologia curiosa, mas aceita nos dicionários clássicos).
Capadócio: pouco inteligente, burro (de Capadócia, região histórica, de delimitações muito variáveis ao longo do tempo, atualmente dentro do território da Turquia).
Charleston: ritmo de música e de dança, criada originalmente na cidade norte-americana de Charleston, na Carolina do Sul.
Frase para sobremesa: O concreto é o que é interessante. A descrição dos objetos, paisagens, personagens ou ações; fora disso, nada importa (Claude Simon, 1913-2005).
Até a próxima!