Post-131

Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)

25. O som e a fúria (The sound and the fury), William Faulkner (1897-1962)

O conhecido livro de Faulkner é considerado com uma das obras mais marcantes do gênero “fluxo de consciência” (stream of consciouness), no qual, em processo de narrativa geralmente não linear, ocorre um exame dos processos mentais dos personagens, semelhante a um monólogo interior. Em suma, trata-se da representação literária do fluxo de pensamentos. Tal modalidade narrativa é encontrada nas obras, por exemplo, de James Joyce e Virginia Woolf, nascidos e falecidos nos mesmos anos (1882-1941).

O romance, que tem presença constante nas listas de melhores livros, não teve um sucesso imediato na época do seu lançamento. Seu tema central é a história de uma família aristocrática no sul dos EUA, particularmente em relação ao declínio da reputação do clã. Torna-se difícil a apresentação de uma sinopse da obra, já que os mesmos episódios são relatados sob distintos pontos de vista. Talvez o destaque principal do livro seja a recriação dos padrões de pensamento da mente humana. Ele é dividido em quatro seções, conforme a perspectiva de narração de cada um dos principais personagens, a saber: um filho (Benjy) deficiente mental, possuidor de um estilo de comunicação bastante desarticulado; o irmão mais velho de Benjy; o irmão mais novo e um narrador que passa a explicar os detalhes mais relevantes da história. Convido o leitor a reler o Post 32, em que é apresentado um resumo da vida de Faulkner. Conforme comentado nesse texto, trata-se de uma obra de difícil leitura, o que é reforçado pelos saltos na cronologia da narração. Definitivamente, na minha visão, não é um livro para ser lido à beira da praia, cercado de palmeiras e contemplando o mar infinito. Melhor deixar a leitura, que, de qualquer forma, merece ser feita, para uma noite de inverno, ao pé da lareira. Sabemos que nem todas as grandes obras da literatura estão vinculadas a um prazeroso processo de fruição. Faulkner declarou que esse livro foi o que lhe causou mais sofrimento e angústia para ser escrito. Isto ocorreu quando, após ter alguns romances recusados por diversas editoras, ele resolveu criar uma obra que marcasse o ponto de virada no seu currículo de escritor.

Dentre as traduções brasileiras, destaca-se a mais recente, feita por Paulo Henriques Britto e publicada em 2004 pela editora Cosac & Naify, sendo reeditada pela Companhia das Letras em 2017. Duas adaptações cinematográficas são as mais conhecidas: a de 1959, dirigida por Martin Ritt (1914-90), com Yul Brynner (1920-85) no elenco e a de 2014, dirigida por James Franco (1978-) e com ele próprio no difícil papel de Benjy.      

A língua hebraica (1)

Assim como o árabe, a língua hebraica também pertence ao grupo dos idiomas semíticos. A Torá, a escritura religiosa que contém a lei mosaica (relativa a Moisés), formada pelos cinco primeiros livros da Bíblia, foi redigida, a partir de 3.300 a.C., no Hebraico Clássico, designado pelos judeus como sendo a “Língua Sagrada”. No entanto, após a destruição de Jerusalém pelos babilônios (587 a.C), o hebraico foi substituído, no uso diário, pelo idioma aramaico, ambos bastante semelhantes entre si. O Hebraico Clássico subsistiu apenas como língua litúrgica e literária. O idioma só renasceu como língua falada no final do século XIX, sob o nome de Hebraico Moderno, com mudanças fonéticas e gramaticais e recebendo empréstimos de diversos outros idiomas, a exemplo do árabe, russo e inglês. Existe uma corrente de opinião que considera a impropriedade de se usar o hebraico, uma língua sagrada, na comunicação do dia a dia, o que seria considerado como uma blasfêmia. Para se buscar a origem da língua hebraica temos de remontar à tribo dos cananeus, localizada na região de Canaã, que englobaria atualmente o estado de Israel e partes da Jordânia, Líbano e Síria. Do idioma cananita derivaram, dentre outros, o fenício (língua extinta) e o hebraico. Supõe-se que os hebreus são possivelmente originários do Nordeste da África, particularmente do Egito, migrando posteriormente para a mencionada região de Canaã.

A primeira evidência escrita da língua hebraica data do século X a.C., consistindo em um calendário elaborado durante os reinados de Davi e de seu filho Salomão.  O hebraico é a uma das línguas oficiais de Israel, juntamente com o árabe. Estima-se o número aproximado de 9 milhões de falantes do hebreu moderno, dentre os quais 5 milhões seriam nativos de Israel e o restante como membros da diáspora (dispersão) judaica ao redor do mundo. Fora de Israel, a língua vem perdendo sua importância entre as gerações mais jovens, que preferem falar as respectivas línguas nacionais, guardando o uso do hebraico especialmente para as cerimônias religiosas. Apenas nas comunidades de judeus ortodoxos nos países estrangeiros é que o ensino e a divulgação do hebraico são mais consolidados. Vimos no Post 68 dois idiomas utilizados atualmente pela comunidade judaica: o iídiche, que é a língua dos judeus oriundos da Europa e o ladino, falado pelos sefarditas, que são os descendentes dos judeus expulsos da Península Ibérica em 1492 e que se fixaram predominantemente na região dos Bálcãs.

(continua no próximo Post)

A febre dos pseudônimos

Temos visto, nessa sucessão de Posts literários, uma boa quantidade de autores que preferiram adotar pseudônimos. Obviamente, é o direito de cada um. Contudo, na minha visão, essa movimentação carece de uma base firmemente lógica, ou seja, para que mudar o nome? É uma pergunta sem respostas. Aproveitando o ensejo, seria conveniente deixarmos aqui a curiosa situação da trinca dos mais famosos políticos russos, nenhum deles conhecido pelo nome real:

  • Vladímir Ilyich Uliánov, vulgarmente designado como Lênin (1870-1924). Foi chefe de governo da Rússia Soviética entre 1917 e 24. Vale destacar que o uso de pseudônimos era uma prática frequente no seio dos revolucionários políticos. Como existem três versões mais divulgadas sobre o motivo da escolha do nome, fico aqui com aquela que parece ter um maior respaldo histórico: foi uma homenagem ao rio siberiano Lena, o décimo maior do mundo em comprimento (4.400 km). O fato de já haver um revolucionário com o codinome de Volguin (rio Volga) deve ter motivado a inspiração do jovem Vladímir.
  • Ioseb Besarionis dze Jughashvili, natural de uma aldeia na província da Geórgia. O georgiano era, portanto, seu idioma materno. Na juventude alterou o nome para a versão russificada de Joseph Vissarionovich Stalin (1878-1953). O último termo do sobrenome significa “feito de aço”. De fato, ele governou a União Soviética com punho de ferro, de 1922 até sua morte.   
  • Liev Davidovich Bronstein (1879-1940), organizador do Exército Vermelho e o maior rival de Stalin. Adotou o nome de guerra de Trotsky, possivelmente em homenagem ao carcereiro Trotsky, na sua temporada de prisão na Sibéria, com o qual mantinha “longas conversas sobre o sentido da vida”.  

Frase para sobremesa: Escrever é fácil. Você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca ideias (Pablo Neruda, 1904-73).

Bom descanso!

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