Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
23. Ardil-22 (Catch-22), Joseph Heller (1923-99)
Trata-se de um clássico satírico ambientado em uma base americana na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. O curioso nome original de Catch-22 faz referência a uma fantasiosa norma burocrática do exército norte-americano, a qual, no seu artigo 22, prescreveria que “um homem é dado como louco se continuar a participar voluntariamente em perigosos voos de combate, contudo, se apresentar um pedido formal de dispensa, é declarado mentalmente são e aí a dispensa é negada”. Tais características de absoluto non-sense são apresentadas em situações diversas, narradas na forma de associações livres, onde uma ideia leva à outra. O texto tem uma estrutura fragmentada, em que determinados eventos são repetidos, mas sob a ótica de um outro personagem. O objetivo do autor é claramente evidenciar o caráter absurdo das guerras, lançando mão de aspectos de ironia e comicidade. A questão que subjaz, pelo menos na minha visão, é se os cruentos conflitos militares deveriam servir de pano de fundo para comédias.
A obra foi levada em 1970 ao cinema pelo diretor Mike Nichols (1931-2014), tendo o ator Alan Arkin (1934-2023) no papel principal. Joseph Heller participou do roteiro do filme. Conforme relato do próprio autor, o livro seria intitulado Catch-18, mas, à mesma época, o escritor norte-americano Leon Uris (1924-2003) havia lançado uma obra, também de temática militar, com o nome de Mila-18, que era um endereço na Varsóvia ocupada. Para não haver coincidências numéricas, Heller mudou o título para Catch-22. Por que 22? Não sabemos. O fato é que essa expressão entrou no vocabulário de gírias na língua inglesa com o sentido de “uma situação sem saída ou uma armadilha”. O livro foi lançado em 1961, sem nenhum grande sucesso, mas o tempo cuidou de ir acomodando a obra ao gosto do público norte-americano. Heller, cuja produção literária é restrita (apenas 7 romances) só voltou a publicar um outro livro (o segundo) 13 anos depois do lançamento do primeiro. O autor, nascido nos EUA, era filho de um judeu russo. Durante a Segunda Grande Guerra participou de 60 missões de combate pilotando um bombardeiro norte-americano. No restante da vida trabalhou como publicitário e, também, como professor em diversas universidades dos EUA.
A língua árabe (2)
O Árabe Antigo, que surgiu por volta do século II, evoluiu gradativamente para uma padronização no século VI. Desta forma, acredita-se que Maomé (571-632), se tivesse a oportunidade de retornar ao nosso planeta, compreenderia sem muitas dificuldades o árabe litúrgico, ou seja, aquele utilizado nas cerimônias religiosas, mas nunca o Árabe Padrão Moderno. Na língua litúrgica, por uma questão de respeito, não são admitidas mudanças na morfologia e na sintaxe, em suma, na gramática em geral. O que pode ocorrer é a adição de novos vocábulos, os quais não comprometem a estrutura linguística. Muitos estudiosos do Alcorão defendem o ponto de vista de que o Livro Sagrado não deva ser traduzido, pois tal ação poderia contaminar a pureza dos ensinamentos transmitidos.
A ocupação árabe na Península Ibérica, a qual perdurou por mais de sete séculos (711-1492), deixou um rico legado de termos árabes no vocabulário do espanhol e do português, além de outras línguas românicas faladas na região do Mediterrâneo. Toda criança brasileira em idade escolar sabe, por exemplo, que a maioria das palavras iniciadas por al (artigo definido) é de origem árabe. Durante todo o período da Idade Média (476-1453) o idioma árabe se constituiu em relevante veículo de divulgação da cultura na Europa, notadamente nos campos da Matemática, Filosofia e Ciências em geral.
O alfabeto árabe é derivado da antiga escrita aramaica. Como o árabe é um idioma consonantal, as vogais curtas (a, i, u) não são representadas, como já vimos para a língua persa. Os sinais gráficos mudam de formato conforme sua posição na palavra (início, meio ou fim). A escrita, assim como no persa e no hebraico, é feita da direita para a esquerda. A argumentação para tal característica é que povos antigos, que registravam as letras sobre superfícies de pedra ou argila, tinham mais facilidade em segurar o substrato com a mão esquerda e utilizar o cinzel com a direita, o que tornava mais lógico que a direção da escrita se iniciasse no lado direito. Se não for verdade, é pelo menos bem imaginado (si non é vero é ben trovato). Em Israel o árabe é escrito no alfabeto hebraico e em algumas regiões da África, como em partes da Mauritânia, é usado o alfabeto latino.
(continua no próximo Post)
Verbos ser e estar
Todos nós que já convivemos com pessoas estrangeiras que estudam o português e, ainda por cima, visitam o Brasil, notamos as dificuldades e embaraços na utilização dos dois verbos mais simples da língua: ser e estar. O que ocorre é que os estrangeiros (à exceção dos espanhóis e occitanos) só conhecem um verbo único para designação desses dois tipos de estado. Como consequência, eles misturam descaradamente os dois significados, ainda mais se estiverem impulsionados pelas alegrias temporárias do álcool:
- Ser: indica uma característica própria, ou seja, um atributo permanente;
- Estar: designa uma situação passageira, um estado não permanente, as atitudes e sentimentos. Ademais, esse verbo funciona como auxiliar nas frases gerundiais, como por exemplo “as crianças estão brincando lá fora”.
Facílimo para a gente, mas um calvário para os amigos ingleses, franceses, alemães, holandeses e mundo afora. Talvez, neste aspecto, mais sábios sejam os russos, chineses e árabes, que, simplesmente, não utilizam essa dupla de verbos, pelo menos na conjugação do tempo presente.
Frase para sobremesa: Toda obra, seja ela literária, política ou científica, deve estar respaldada por uma conduta (Miguel Angel Asturias, 1899-1974).
Bom descanso!