Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
21. A Ilíada, Homero (século IX a.C.?)
É considerada como a obra fundadora da literatura ocidental, já que o segundo grande épico, “A Odisseia” (v. Post 117) é uma continuação da “Ilíada”. Ambos os livros eram estudados na Grécia Antiga e no Império Romano como parte fundamental da educação básica. “A Ilíada”, cuja etimologia vem de Ilium, nome da cidade de Troia em latim, narra os acontecimentos durante o penúltimo ano da Guerra de Troia. A batalha pela conquista da cidade durou dez anos. A obra é composta de quase 16.000 versos em hexâmetro dactílico (v. Post 117), que era a forma tradicional da poesia épica grega. Muitos estudiosos acreditam que os versos teriam sido cantados pelos aedos (artistas que declamavam epopeias) ao longo de alguns séculos e só posteriormente compilados em uma versão escrita, de possível autoria de Homero. O épico foi dividido em 24 cantos, cada um deles correspondendo a uma letra do alfabeto grego.
A Guerra de Troia deve ter sido um fato histórico ocorrido possivelmente em torno de 12.000 a.C. O conflito se iniciou quando os aqueus (gregos) atacaram Troia para vingar o rapto de Helena, a mulher mais bela da Grécia, esposa de Menelau (rei de Esparta e irmão de Agamenon, o comandante do exército grego). Dentre os guerreiros aqueus se encontrava o mitológico Aquiles, filho da ninfa Tétis, deusa do mar. Ela havia mergulhado o filho nas águas do rio Estige para que ele se tornasse invulnerável. Como a mãe o havia segurado pelos calcanhares na cerimônia do banho, esses se tornaram a única parte do corpo que deixava Aquiles vulnerável.
Das diversas traduções brasileiras, a de maior significado histórico é aquela feita pelo maranhense Odorico Mendes (1799-1864), com publicação póstuma em 1874. Nela diversas palavras são construídas para se ajustar à métrica da tradução, como por exemplo braciníveo (de braços brancos) ou dedirróseo (de dedos rosas). Em 1945 outro maranhense, Carlos Alberto Nunes (1847-1990), lançou uma nova tradução (Editora Atena), a qual foi republicada por diversas outras editoras. Merecem registro ainda as traduções feitas por Haroldo de Campos (1929-2003), pelo português Frederico Lourenço (1963-), publicada pela Companhia das Letras e a mais recente, de 2020, feita por Trajano Vieira e publicada pela Editora 34.
Outras línguas iranianas
Para finalizar a abordagem das línguas iranianas, vamos apresentar algumas outras variantes que possuem uma certa relevância idiomática.
Balúchi
É falado por nove milhões de pessoas na região do Baluchistão, atualmente ocupando partes do Paquistão (onde existe uma província com esse nome), Afeganistão e Irã. A língua não era escrita antes do século XIX. Esse idioma tem uma situação curiosa, pois a maioria dos falantes não é alfabetizada na língua, já que, nas escolas aprendem o urdu (para o caso do Paquistão) ou persa (no Afeganistão e Irã). Desta forma um número reduzido de pessoas sabe escrever em balúchi. Já se tem ciência de que esta é uma das principais etapas para aumentar a vulnerabilidade do idioma. Como grande parte do Baluchistão é uma região árida, o território é povoado majoritariamente por pastores nômades, que lá vivem desde o século X. Historicamente, têm sido registradas tentativas de se criar um estado independente do Baluchistão, o que, politicamente, parece ser pouco provável. Como não podia deixar de ser, existem também os dialetos, agrupados em Norte e Sul. Seguindo as características das línguas iranianas, o balúchi é um idioma ergativo, não possui gêneros e as frases obedecem à ordem SVO. Antes ele era escrito no alfabeto latino, mas, atualmente, é usada uma versão modificada do alfabeto árabe. Algumas expressões: Jawáin sawáh (bom dia) e Menatwaar (obrigado).
Mazandarani
Dentre as línguas iranianas vivas é aquela que tem os registros escritos mais antigos (século X). Ela é falada por cerca de 3 milhões de pessoas no norte do Irã, às margens do Mar Cáspio (que, como vocês todos sabem, é um lago de água salobra, o maior do mundo, com os sedimentos ricos em petróleo). A língua é escrita no alfabeto persa, embora o latino também seja usado. O antigo xá do Irã, Reza Pahlavi (1919-80), derrubado em 1979, era um falante do idioma mazandarani.
Guiláki
O idioma guiláki, queapresenta similaridades com algumas línguas iranianas do Cáucaso, é mutuamente inteligível com o mazandarani. Ele é falado na Província de Gilan, situada também na região persa do Mar Cáspio. Estima-se de três a quatro milhões o número de falantes. Como curiosidade, segue a grafia da palavra “árvore” nos três idiomas vistos até agora: daar (em “guiláki”), dār (“mazandarani”) e dāar (“balúchi”). Ora, então é tudo a mesma língua? Não caiamos nessa armadilha, pois a similaridade de palavras não implica na unicidade de idiomas.
Zaza ou zazaqui
É um idioma falado por 1,5 a 2,5 milhões de pessoas pertencentes a uma minoria étnica instalada no leste da Turquia. Embora haja filólogos que o considerem como sendo um dos dialetos do curdo, a maioria dos especialistas classifica a língua zaza como um idioma à parte. O primeiro registro escrito data de 1899. Ao contrário da maior parte das línguas iranianas, o zaza possui os gêneros masculino e feminino. Ela utiliza um alfabeto latino modificado, semelhante ao do turco. Duas expressões: Sodir be xêr bo (bom dia) e Sipas (obrigado; termo simpático e fácil de ser pronunciado).
Talish
Língua falada por 800.000 pessoas em províncias do norte do Irã e na região sul do Azerbaijão. Ela é escrita no alfabeto azeri no Azerbaijão e no persa nos territórios iranianos. É interessante observar a tendência desse idioma em simplificar alguns termos do persa. Por exemplo (a primeira palavra é em persa e a segunda em talish):“irmã” (khahâr/khâ), “pai” (pedar/pé), “filho” (pesar/zá). Ele é um idioma pro-drop, ou seja, os pronomes pessoais podem ser dispensados sem prejuízo à compreensão do texto. Essa característica também existe em português e espanhol: “(eu) como a maçã”. Já os ingleses, franceses e alemães, coitados, não dispõem dessa facilidade.
Como fechamento desses Posts sobre as línguas iranianas, cabe destacar que, em todas elas, os numerais são muito semelhantes aos do persa. Da mesma maneira, nas línguas túrquicas, eles são parecidos com o turco. Constata-se assim que uma das maneiras mais fáceis de se avaliar o pertencimento de uma língua a um determinado grupo de idiomas é mediante o estudo dos numerais.
Classificação da UNESCO para vulnerabilidade de idiomas
A UNESCO – “Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura” (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) – é uma agência especializada da ONU, fundada em 16/11/1945 e com sede em Paris. Periodicamente ela publica um atlas sobre a vulnerabilidade das línguas do planeta. São adotadas as seguintes classificações:
- Línguas estáveis: tudo está OK;
- Línguas vulneráveis (vulnerable): a maioria das crianças fala, mas em domínios restritos (em casa, por exemplo);
- Línguas seriamente em perigo (critically endangered): os falantes mais jovens já são avós e falam a língua parcialmente e com pouca frequência;
- Línguas severamente em perigo (severely endangered): a geração dos pais entende, mas eles não se comunicam com os filhos;
- Línguas absolutamente em perigo (definitely endangered): as crianças não aprendem mais em casa;
- Línguas extintas: não existem mais falantes desde a década de 1950.
São ainda utilizados os conceitos de language revival, ou seja, a tentativa de ressurreição de uma língua extinta, sem falantes nativos, e de language revitalization, quando se busca o salvamento de uma língua moribunda.
Frase para sobremesa: Poderíamos dizer que o romance é o gênero que mais predispõe uma pessoa ao profundo discernimento da vida à nossa volta, em vez de apresentar nosso próprio pequeno ego como o centro do universo (Mikhail Sholokhov, 1905-84).
Bom descanso!