Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
20. Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland), Lewis Carroll (1832-1898)
Uma das obras mais consagradas na literatura infantil, ela também apresenta um conteúdo de jogos linguísticos, tiradas filosóficas e enigmas matemáticos que podem ser direcionados ao público adulto. Como o livro pertence ao gênero literário de nonsense, talvez este seja um dos motivos da calorosa recepção por parte das crianças. A menina Alice, que cai numa toca de coelho, é transportada para lugares fantásticos, habitados por fascinantes criaturas antropomórficas (modo de pensamento que confere características humanas a animais e elementos da natureza), a exemplo do Coelho, Rato, Lagarto, Gato, Tartaruga e personagens curiosos, como o Chapeleiro Maluco. O texto contém um bom número de paródias (releituras cômicas) de histórias infantis ensinadas nas escolas inglesas. Deve ser destacada a alta qualidade das ilustrações, feitas pelo cartunista inglês John Tenniel (1820-1914). Inicialmente o título proposto para o livro havia sido “Alice debaixo da terra” (Alice’s adventures under ground). Por sugestão do editor a obra foi revista, dobrou de tamanho e adquiriu o título com o qual ficou famosa em grande parte do mundo. Desde o lançamento do livro, em 1865, até os dias de hoje já houve mais de 100 edições só na língua inglesa e inúmeras adaptações para o cinema e televisão. Lewis, que era um exímio contador de histórias, tanto de forma oral quanto escrita, se inspirou na filha de um amigo da Universidade de Oxford – onde o autor dava aulas de Matemática – que se chamava Alice Pleasance Liddel (1852-1934) para designar o título do livro. Em uma determinada época, que os biógrafos não sabem precisar exatamente quando, houve um rompimento da amizade entre Lewis e Alice. Como parte dos diários de Lewis foi perdida, fica desconhecido também o motivo da desavença. As especulações para tal são muitas, inclusive a de ele ter proposto a garota em casamento. Na verdade, tudo fica no ar e não nos cabe aqui dar espaço a suposições. Em 1871 foi lançada a continuação da obra, agora com o nome de “Alice do outro lado do espelho” (Through the Looking-glass), a qual teve um número ainda maior de exemplares vendidos.
Charles Lutwidge Dogson, este era o nome real de Lewis Carroll. Conforme sua própria explicação, a versão latina do nome seria Carolus Ludovicus, ou seja, se anglicizada seria Carroll Lewis. De novo, por sugestão do editor foi feita a troca, aparentemente mais sonora. Além de professor de Matemática, Lewis era bibliotecário, fotógrafo, mágico e, ainda por cima, reverendo anglicano. Suas outras obras, principalmente poemas de vanguarda, quase desaparecem perante a magnificência dos dois livros citados. Como todos nós, ele também tinha suas manias: registrava o número de cartas que recebia e escrevia, o qual chegou, no final da vida, a impressionantes 100.000 missivas. Lewis era afetado por uma gagueira crônica, assim como dois de seus outros irmãos. Era surdo de um ouvido e epiléptico. Mas, acima de tudo, um escritor muito criativo. Morreu na casa de sua irmã, vitimado por uma pneumonia.
A língua pachto
O idioma pachto, também escrito como pashto e pastó(este em Portugal), pronunciado como pakhtô, é uma das duas línguas oficiais do Afeganistão. A outra é o dari, apresentado no Post 124. O pachto também é falado em algumas regiões do Paquistão, cujo idioma oficial é o urdu, que será abordado em um Post futuro. As estimativas são de que entre 40 e 60 milhões de pessoas sejam usuárias do pachto. Um número mais exato é bastante difícil de se determinar, dado que a língua pode ser dominada tanto por aqueles que a utilizam como idioma principal quanto por afegãos que a têm como segunda língua. Dentro do Afeganistão os idiomas dari e pachto ocupam, cada um, a metade da população. Destaca-se que, mesmo sendo ambos do grupo iraniano, não existe uma inteligibilidade mútua. O pachto é aparentado com uma língua caucasiana, o osseto, apresentada no Post 112. Para matar a curiosidade daqueles que questionam em qual língua é escrito e cantado o hino nacional afegão, motivos históricos levaram à adoção do pachto.
Esse idioma possui grande número de dialetos, mas, que surpreendentemente, são compreensíveis entre si. As principais diferenças estão no aspecto fonológico. O pachto, como a maioria das línguas iranianas, segue o sistema SOV, é ergativo e apresenta dois gêneros. A conjugação dos verbos é altamente complexa, já que existe um número maior de tempos verbais, como o futuro e o modo subjuntivo, os quais estão ausentes em diversos idiomas do grupo. Por sua localização geográfica e pelo contexto histórico, a língua recebeu fortes influências do persa e do urdu. Ao contrário da maioria dos idiomas iranianos, nos quais a estrutura sintática das frases é DNA (determinante-nome-adjetivo), no caso do pachto ela é DAN. Assim, por exemplo, enquanto os persas falam (e escrevem) “essa casa grande”, um falante do pachto utiliza “essa grande casa”. Uma curiosidade do vocabulário é que os adjetivos “azul” e “verde” são uma mesma palavra (šin). De maneira similar, em quase todas as línguas iranianas, os vocábulos para “pé” e “perna” costumam ser o mesmo. E como alguém faz para explicar, por telefone, uma contusão ao ortopedista? Não nos preocupemos, os falantes devem ter criado mecanismos para solucionar esses pequenos entraves.
Os pronomes pessoais são: zě, tě, dai (masculino)/dě (feminino)/haga (invisível), muž, taso, duy (visível, tanto masculino quanto feminino)/haguy (invisível). Pela primeira vez, nessa nossa viagem pelo mundo das línguas, encontramos pronomes específicos para pessoas ou objetos que não vemos. A criatividade não tem limites. Números de 1 a 10: yew (pronúncia “ieu”), dwa, dre, čalor, pinže, špež, uwa, ate, neh, les. Algumas expressões: Salaam (olá), Sahr pikheir (bom dia), Makha de khad (até logo), Za na poheegum (não entendo), Za la ta sara meena kawom(eu te amo; para que tantas palavras?), Bakhhena ghwaarum (desculpe), Lotfan (por favor; idêntico ao persa), Manana (obrigado).
Origem de nomes dos meses do ano (5)
Nada se compara em extravagância à reforma dos nomes dos dias da semana e dos meses no idioma turcomeno, falado no Turcomenistão (país situado às margens do Mar Cáspio), transformação essa conduzida pelo presidente Niyazov e que vigorou de 2002 a 2008. No recente Post 118 já mostramos alguns exemplos, mas vamos ampliá-los. Além de dar ao mês de janeiro o título honorífico como o presidente era conhecido (“pai dos turcomenos”) e conferir a abril o nome de sua mãe, ele transformou fevereiro, o mês do seu aniversário, em “mês da bandeira do Turcomenistão”. Os meses restantes foram renomeados homenageando poetas clássicos e figuras mitológicas. Mas o desvario, que não conhecia limites, abarcou também os dias da semana, rebatizados como “dia jovem”, “dia favorável”, “dia espiritual” e várias outras inspiradas denominações. Talvez a história do planeta jamais tenha assistido a uma manifestação de poder que se atrevia, por força de um decreto, a modificar as regras de um idioma.
Frase para sobremesa: A sabedoria suprema é ter sonhos bastante grandes para não se perderem de vista enquanto os perseguimos (William Faulkner, 1897-1962).
Até a próxima!