Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
15. O morro dos ventos uivantes (Wuthering Heights), Emily Brontë (1818-48)
Trata-se de uma obra literária bastante conhecida em todo o mundo, tendo sido adaptada em diversas versões para televisão e cinema. O título original do livro indica o nome de uma colina no interior da Inglaterra, que é o pano de fundo de uma história trágica, permeada por traições, invejas e fortes componentes de violência psicológica. A história abrange um longo período na vida dos personagens. A figura central é Heathcliff, uma criança órfã que foi levada à casa da família para adoção. Com o passar do tempo, tal presença desperta ciúmes no filho legítimo e suscita paixões por parte da irmã. A trama segue com a realização de casamentos arranjados, mudanças de testamento e criação de planos de vingança. O romance tem uma narrativa não linear e intensa presença de flashbacks. Devido a tais características, ele foi mal recebido pelo público e pela crítica, só se tornando famoso algumas décadas após a morte da autora. Temos visto, ao longo destes Posts literários, como são frequentes estas situações de desprezo seguido de glória. No caso de Emily, o que mais impressiona é que esta foi a única obra escrita por ela. Na família Brontë havia três irmãs escritoras: Charlotte (1816-55), a mais velha, seguida de Emily e de Anne (1820-49). Mais à frente, na lista de melhores livros, surgirá a obra mais conhecida de Charlotte (Jane Eyre).
Seguindo-se o costume da época, as irmãs publicavam seus livros com pseudônimos masculinos no sentido de facilitar a aceitação por parte das editoras. Na publicação de “O morro dos ventos uivantes” (1847) Emily adotou o nome de Ellis Bell. Existem relativamente poucas informações sobre a biografia de Emily. Contribui para isso o fato de ela ter levado uma vida reclusa. Começou a trabalhar como professora, abandonou o emprego e, morando sozinha, se dedicou à catequese de crianças. Morreu, ainda jovem, por tuberculose. Uma curiosidade para quem gosta de idiomas é conhecer a origem do sobrenome Brontë, que parece ter uma tintura escandinava. Na verdade, o pai das três autoras, foi um padre anglicano, Patrick Brunty, natural da Irlanda. Não se sabe exatamente qual a razão para ele ter alterado o sobrenome. Como conhecia o idioma grego, uma das possibilidades era ter se inspirado na palavra “trovão” (βρογτη – bronté). Será? De qualquer forma, a pronúncia do novo sobrenome, que poderia gerar alguma dúvida, é fácil: Bronty.
A primeira tradução brasileira foi feita por Oscar Mendes e publicada pela Editora Globo em 1938. Essa versão difere do original em alguns trechos do livro, o que, obviamente, não é desejável. Em 1947 a Livraria José Olympio Editora lançou a tradução feita pela escritora Raquel de Queiroz. Existem várias outras. Em Portugal o livro foi traduzido como O monte dos vendavais, um título mais sucinto, todavia menos impactante. Das diversas adaptações feitas para o cinema, o destaque fica com o filme de 1939, dirigido por William Wyler (1902-81), recordista de indicações ao Oscar de Melhor Diretor (13 vezes, com três premiações) e tendo como ator principal aquele que é considerado como um dos maiores atores de todos os tempos, o britânico Laurence Olivier (1907-89).
Outras línguas túrquicas (3)
Altai
Existem duas modalidades do idioma altai, o do sul e o do norte. Contudo, de forma absolutamente curiosa, apenas o altai do sul pertence ao grupo das línguas túrquicas. Embora ainda haja controvérsias, estamos aqui apresentando um idioma com dois dialetos (não mutuamente inteligíveis) que pertencem a ramos linguísticos distintos. Absolutamente sensacional. A República de Altai localiza-se no sul da Rússia, fazendo fronteira com Mongólia, China e Cazaquistão. A língua oficial, que foi a base da forma escrita, é o altai do sul. Mais uma vez, torna-se difícil estimar um número exato de falantes (também não precisamos disso), pois muito usuários do dialeto do norte, por questões históricas ou familiares, entendem o dialeto do sul, mas se recusam a admiti-lo. A recíproca também é verdadeira. Para deixarmos um número, colocaremos aqui uma média muito aproximada de 60.000 falantes do altai do sul. Como ocorre com a maioria das línguas turcomanas, o alfabeto latino foi utilizado de 1928 a 38, sendo então substituído pelo cirílico, que vigora até hoje. Obviamente, houve a necessidade de inclusão de alguns diacríticos e da criação de letras inexistentes no cirílico normal. Vamos decifrar alguns desses acréscimos: J tem som de “dz”, Ӱ (ípsilon com dois pingos, soa como “ui”), Ҥ (letra “h” com um pequeno traço no canto superior direito, som de “ng”). Duas expressões: JAKШЫ ТАҤ(Dzakchi tang – Bom dia), БЫЙАН (Biian – Obrigado).
Línguas túrquicas do grupo siberiano:
Iacuto
A República da Iacútia, localizada na Sibéria, ocupando a área de 3,1 milhões de km2, é a maior região autônoma do planeta. Sua capital é a cidade de Iakutsk. O vasto litoral da Iacútia permanece congelado de nove a dez meses por ano. Nessa região, 25% da população fala a língua iacuta, vinculada ao grupo siberiano dos idiomas turcomenos. Se alguém, em rasgo de inspiração, está tentando associar a Iacútia àquele leite fermentado, com lactobacilos vivos, com o nome comercial de Iakult, já esclareço que não há nada a ver. O produto lácteo, de origem japonesa, teve seu nome derivado de jahurto, que é uma das formas do nome “iogurte” em Esperanto, a língua artificial que veremos em Post futuro. Mas, e o nome “iogurte”, de onde viria? Do verbo turco yoğurmak, que significa “espessar”. Voltemos ao idioma.
A língua iacuta, falada por cerca de 460.000 pessoas, apresenta muitos empréstimos do mongol e, obviamente, do russo. Ela é escrita no alfabeto cirílico, naturalmente com algumas complementações gráficas, como por exemplo o Һ (a letra “h” um pouco mais gordinha, soa como o “h” do inglês), o nosso já conhecido Ҥ (som de ng), Ө (ô) e Ƽ (primeira vez que aparece aqui, som de g). Ao contrário dos outros idiomas turcomenos, o pronome pessoal na terceira pessoa do singular não é único. Ele tem um termo para seres humanos (Кини – kini) e outro para não humanos (Ол – ol). Ademais, encontramos no iacuto a construção partitiva (como no francês du pain, de la bière), caso único no grupo turcomeno. Duas expressões: Утуө сарсыарданан (utyö sarsiardanan- Bom dia), Махтал (Makhtal – Obrigado).
Tuvano
É o idioma falado por 300.000 pessoas na República russa de Tuva, capital Quizil, situada na parte central da Sibéria. É uma língua tonal (variações de tom mudam o significado de uma palavra). A gramática apresenta o raro caso alativo, que indica “em direção a”, como na frase “aproximou-se da casa”. Como nunca foram islâmicos, não há a influência das línguas árabe e persa, como ocorre com os outros idiomas túrquicos. O povo tuvano cultiva uma incrível tradição musical, que é cantar pela garganta (throat singing), quando notas agudas e graves se misturam em uma única tonalidade vocal. Deem uma olhada no YouTube, é uma experiência que vale a pena conhecer. Duas expressões: Эртенгинин мендиз-биле (ertenginin mendizi-bile, que significa simplesmente “bom dia”), Четтирдим (tchettirdim – obrigado).
Palavras originárias de nomes de pessoas (8)
Quixotesco: generosamente impulsivo e sonhador (do personagem Dom Quixote, na obra de Miguel de Cervantes, 1547-1616).
Sacripanta: velhaco, patife, falso beato (nome do personagem Sacripanta no poema “Orlando Furioso” de Ludovico Ariosto, 1474-1533).
Sadismo: perversão caracterizada pelo prazer sexual mediante sofrimento de outra pessoa (do filósofo francês Marquês de Sade, 1740-1814).
Salmonela: bactérias em forma de bastonetes, causadoras, entre outras enfermidades, da meningite e da febre tifoide (de Daniel Elmer Salmon, 1850-1914, patologista norte-americano).
Sátira: composição poética jocosa ou indignada (do semideus latino Satyrus).
Saxofone: de Adolphe Sax (1814-1894), instrumentista belga que inventou o instrumento.
Sífilis: doença infecciosa transmitida pelo contato sexual (de Syphillus, pastor castigado pela enfermidade, personagem de um poema escrito pelo médico e poeta italiano Girolamo Fracastoro, 1483-1553; aparece também no livro Metamorfoses, de Ovídio, 43 a.C.-18).
Silhueta: desenho que representa o perfil de uma pessoa ou objeto (de Étienne de Silhouette, 1709-67, político francês que planejava promover grandes reformas, as quais não levavam a nada; criou-se a expressão à la Silhouette para designar algo de caráter mesquinho e inacabado).
Simonia: compra ou venda ilícita de coisas espirituais (de Simon, o Mágico, que ofereceu dinheiro aos apóstolos para receber o dom de curar pelas mãos).
Winchester: carabina de repetição; do seu inventor, o norte-americano Oliver Fischer. Winchester (1810-80)
Frase para sobremesa: Os olhos de alguém mostram o que essa pessoa é, a boca mostra aquilo em que se tornou (John Galsworthy, 1867-1933).
Bom descanso!