Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
13. Os irmãos Karamazov, 14. Crime e Castigo, Fiódor Dostoiévski (1821-81)
Como as duas obras selecionadas são do mesmo autor, é razoável que sejam abordadas conjuntamente. Vamos primeiro ao escritor. Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski tem presença garantida na galeria dos maiores literatos e pensadores da humanidade. Bastariam os dois romances acima mencionados para lhe garantir a homenagem, que se torna ainda mais justa pela quantidade de outras majestosas obras de arte saídas da pena do genial escritor. Nascido em Moscou, em família pouco abastada, ele se formou como engenheiro na Academia Militar de São Petersburgo. Ainda novo começou a participar de grupos políticos contrários ao czar Nicolau I, até que foi preso sob a acusação de ter lido em público uma correspondência entre dois intelectuais, a qual criticava duramente o czar. Esse foi o seu crime. Após oito meses de prisão na Fortaleza de São Pedro e São Paulo, em São Petersburgo, ele foi condenado à morte, junto com outros detentos. O czar que já havia, há alguns dias, comutado a pena para exílio na Sibéria – mas não divulgado a decisão – determinou que fosse feita uma falsa execução para servir de exemplo aos traidores do império. De olhos vendados, os condenados ouviram os tiros disparados para o alto. Esta passagem – que modifica a vida de qualquer pessoa – é retratada no livro Recordações da Casa das Mortos, obra essa considerada por Liev Tolstói como o melhor livro da literatura moderna. Dostoiévski passou cinco anos preso na Sibéria. Sobre esse período ele escreve que muito o impressionou a divisão de classes existente dentro dos muros do presídio. Ao término da pena, ele ainda foi obrigado a servir no exército russo por mais quatro anos, em uma base militar na província do Cazaquistão. Quando já era bastante conhecido, e aclamado, como escritor, ele viajou com a segunda esposa durante quatro anos por alguns países da Europa (Alemanha, Suiça, Itália). Morreu de hemorragia pulmonar antes de ter completado o último livro, Os irmãos Karamázov (Братья Карaмазовы – Brátia Karamázov, 1879).
Esta obra foi considerada pelo psiquiatra austríaco Sigmund Freud (1856-1939) como “a maior obra da história”. Em uma narrativa que conversa com o leitor e indica os pensamentos dos inúmeros personagens, é retratada a história de uma família em uma pequena cidade russa. O pai Fiódor, ausente, mesquinho, vingativo, tem três filhos: Dmitri, do primeiro casamento, e Ivan e Aliêksei, do segundo matrimônio. Este último, chamado pelo diminutivo carinhoso de Aliócha, é o personagem mais marcante do livro. Místico, ele entra para um mosteiro pelo resto da vida. A possível continuação do gigantesco livro, que não ocorreu devido à morte do autor, seria dedicada a uma análise mais aprofundada da personalidade de Aliócha. A obra, de altíssima densidade psicológica, é permeada por episódios de brigas familiares, traições, disputas por heranças, triângulos amorosos, assassinato, discussões religiosas, em suma, ali estão todas as vicissitudes do mundo. Caso alguém tenha muita pressa (o que não combina com a degustação da obra), leia, pelo menos, o capítulo O Grande Inquisidor, o mais famoso do livro, que descreve o encontro de Jesus com um líder da Inquisição Espanhola. Se vocês me perguntarem se esse é, na minha opinião, um dos três melhores livros aos quais eu aludi na introdução dessa série de Posts sobre as grandes obras, a resposta é afirmativa. A primeira tradução diretamente do russo foi feita por Boris Schnaiderman (1917-2016) em 1944, publicada pela Editora Vecchi. A mais recente (2008) é a de Paulo Bezerra (1940-), publicada pela Editora 34.
O livro Crime e Castigo (Преcтуплeние и Наказание- Prestuplenie i Nakazanie, 1866), originalmente pensado como um conto e depois publicado, em doze fascículos mensais, por uma revista russa, é outra obra para a qual os elogios não alcançam atingir a real magnificência do livro. Em breve sinopse, o jovem advogado Raskolnikóv, é levado, por um dever de consciência, a matar uma conhecida agiota, mulher já idosa. Na sequência, como a irmã da agiota presencia acidentalmente o crime, ela também é morta. As centenas de páginas que se seguem analisam, até o âmago da alma, as reações do assassino, principalmente em relação a um perene sentimento de culpa. Quando um inocente é preso, após ter confessado, sob tortura física e psicológica, a responsabilidade pelo ato, Raskolnikóv não aguenta suportar o peso do remorso e se dirige à delegacia para esclarecer o que, de fato, ocorrera. Não é livro para fila de banco ou de vacina, nem para observar o pôr do sol na praia ou nas montanhas. Uma obra desse quilate exige uma certa dedicação. A primeira tradução vinda diretamente do russo também é de Paulo Bezerra (2001) pela mesma Editora 34.
Outras línguas túrquicas (2)
Chuvache
Junto com o russo, é a língua oficial da Chuváchia, república vizinha ao Tartaristão. Possui aproximadamente 1,7 milhão de falantes. De todas os idiomas do grupo túrquico, este é o mais anômalo, com palavras e expressões que não se assemelham às raízes túrquicas. Isto pode ser observado na contagem de números, a qual, nas outras línguas já vistas, sempre segue um padrão semelhante ao do turco, mas não aqui: пӗҏ (per), иккӗ (ike), виççе (viche), тăвaттă (tavata – o “t” minúsculo no cirílico é representado por “m”), пиллӗк (pilek), улттă (ulta), çиччӗ (shitche), cakkăp (sakar), tăххăҏ (takhar), bynnă (vuna). Bastante diferente. O curioso é que essas designações são para a contagem dos números (1,2,3 etc). Quando se contam coisas, existe uma versão mais curta das palavras. Possivelmente o chuvache seja o único idioma do mundo com tal característica (não sei, vamos esperar aquelas línguas dos índios norte-americanos ou algumas africanas). Diversos linguistas chegaram a atribuir ao chuvache uma origem fino-úgrica, como no finlandês e húngaro, mas tal suposição é atualmente descartada. Os chuvaches que emigraram para EUA e Europa usam uma versão latinizada do alfabeto. Algumas expressões: Ыра кун пултăр (Ira kun pultär – Bom dia), Тав (Tav – Obrigado; finalmente uma expressão curta!).
Uigur
É o idioma falado na Região Autônoma de Xinjiang, localizada no extremo oeste da China. Os uigures, que constituem uma das 56 nacionalidades reconhecidas pelo governo chinês, formam 45% da população de Xinjiang, cuja capital é Ürümqui. O contingente de falantes de uigur é avaliado na faixa de 8 a 11 milhões de pessoas. Existem relatos sobre as restrições impostas pela China à disseminação da língua uigur, inclusive com a prisão de pessoas que se dedicassem ao ensino do idioma, punição a crianças que se expressassem em uigur nas escolas e retirada de nomes de ruas e cartazes públicos escritos nessa língua. O mundo já assistiu, em todos os continentes, a diversos episódios de proibição no uso de determinadas línguas, em flagrante agressão aos direitos individuais. Normalmente tais abusos não têm vida longa, mas deixam tristes marcas de revolta e discriminação. Portanto, é meritória a iniciativa do Google Tradutor de incluir a língua uigur desde 2020. Em épocas passadas o idioma era escrito em um alfabeto próprio, no qual todas as consoantes, ao estilo do árabe e do persa, tinham três grafias, conforme estivessem no início, meio ou fim da palavra. Este alfabeto foi desativado e substituído pelo alfabeto árabe.
Uma das características mais marcantes do uigur é a notação vocálica plena, isto é, as vogais também são representadas graficamente, o que não ocorre em nenhum outro idioma de escrita árabe, já que todos eles são estritamente consonantais. Muitos verbos têm conjugações em três graus de respeito ou formalidade, o que é sempre uma questão muito delicada. Curiosamente o “uigur moderno” não é derivado do “uigur antigo”, pois outros fatores interferiram no diacronismo (evolução histórica) do idioma. Duas expressões, na grafia laitinizada: Häyirlik sähär (Bom dia) e Rähmät (Obrigado – vocábulo semelhante em muitas línguas túrquicas).
Caracalpaque
Idioma falado por 600.000 pessoas no Caracalpaquistão, que é uma província do Uzbequistão. Todavia, o idioma é mais próximo do cazaque, pois a geografia linguística não gosta de seguir regras muito fixas. O significado de caracalpaque é “chapéu preto” (qara – preto + qalpaq – chapéu). Podemos imaginar várias teorias para explicar o atributo, mas todos concordamos que a mais lógica é que a população usa (ou usasse) chapéus pretos, simples assim. O alfabeto, antes escrito no cirílico, está passando para uma gradual adaptação ao latino. Um exemplo: Raxmet (Obrigado).
Palavras originárias de nomes de pessoas (7)
Plantas: a nomenclaturade grande número de plantas é derivada de nomes de cientistas, principalmente botânicos:
– Begônia: do francês Michel Bégon, 1638-1710.
– Bromélia: de Olaf Bromel, 1639-1705, botânico sueco.
– Camélia: de Georg Joseph Kamel, 1661-1706, botânico tcheco.
– Dália: de Anders Dahl, 1751-89, botânico sueco.
– Fúcsia: de Leonhard Fuchs, 1501-66, botânico sueco.
– Gardênia: de Alexander Garden, 1730-91, botânico escocês.
– Magnólia: de Pierre Magnol,1638-1715, botânico francês.
– Sequóia: homenagem ao índio Cherokee George Guess Sequoya (1760-1843).
Frase para sobremesa: Digam os poetas, os oradores e os sábios o que quiserem, a velhice não deixa de ser velhice (Sinclair Lewis, 1885-1951).
Até a próxima!