Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
12. Lolita, Vladimir Nabokov (1899-1977)
Se vocês me perguntarem qual teria sido o escritor mais injustiçado pelo não recebimento do Nobel de Literatura, minha resposta viria em uma fração de segundo: Vladímir Nabókov (essa é a pronúncia). Claro que temos o esquecimento de Tolstói, conforme já comentamos, mas aí suspeito que tenha havido alguma ingerência de cunho político. Não sei e, mais do que isso, não é relevante saber depois de tanto tempo. Contudo, o caso de Nabokov é mais recente, quase que contemporâneo das nossas vidas. Como já disse, tento evitar a inserção de opiniões próprias nos complexos assuntos da literatura, mas, por vezes, isso se torna difícil. Então vamos direto ao ponto: o escritor russo-americano é das penas mais brilhantes no panteão dos grandes escritores. Sou fã dele.
Nabokov nasceu em São Petersburgo (lembremos que, em russo, a transliteração é Sankt Peterburg, ou seja sem a intromissão da letra “s” como partícula de ligação). Lá ele passou infância e juventude. No entanto, a Rússia pós-revolução de 1917 havia se tornado território muito hostil para os cidadãos aristocráticos. A família Nabokov buscou exílio na Inglaterra em 1919 e, no ano seguinte, em Berlim. Foi no ambiente culturalmente muito forte dos russos expatriados que Vladimir começou a escrever suas belas obras, as nove primeiras em russo. Quando, durante a Segunda Guerra Mundial, ele se muda para os EUA para trabalhar como entomologista (especialista em insetos), as cortinas foram se abrindo. O livro “Lolita”, considerado como sua obra-prima (tenho opinião distinta), foi escrito em inglês e publicado em Paris em 1955. Três anos mais tarde o próprio Nabokov traduziu o romance para o russo, sendo lançado em Nova Iorque em 1958. A obra, muito conhecida do público mundial, é narrada por H.H. (Humbert Humbert), um professor universitário de literatura que se sente atraído por uma garota de doze anos (Dolores Hazen), apelidada de Lolita, com a qual ele tem um envolvimento amoroso. É claro que a obra encontrou fortes protestos por parte do público conservador, tendo sido proibida inicialmente na Inglaterra e França, o que não durou mais que dois anos. Enquanto alguns críticos aplaudiam a criação de uma obra plena de ironia e sarcasmo, com um texto de altíssima qualidade literária, outros a consideravam como um “romance erótico” ou até mesmo “um livro pornográfico”. Cabe lembrar que o manuscrito havia sido anteriormente recusado por várias editoras. É lógico que cada leitor pode reagir da forma que julgar mais conveniente, talvez esse seja um dos maiores encantos das produções literárias. Passada a onda de revoltas, a obra foi encontrando seu lugar nas listas de melhores livros e é exatamente por isso que a estamos comentando aqui. Além do nome Lolita entrar para o léxico internacional como designação de uma menina sexualmente precoce, Nabokov ainda cunhou o termo “ninfeta”, usado aproximadamente na mesma conotação. Diversos filmes e peças de teatro surgiram como subprodutos de “Lolita”. No cinema, os destaques ficam por conta das adaptações feitas pelos diretores Stanley Kubrick (1928-99), em 1962, e Adrian Lyne (1941-), em 1977, ambas contando com a participação de Nabokov como um dos roteiristas. Para encerrar, sinto-me compelido a indicar obras de Nabokov que considero, em qualidade literária, como superiores a Lolita. Vamos ficar com duas: o magnífico relato autobiográfico “Fala, memória” (Speak, memory, 1967), e “O Dom”, publicado inicialmente em russo com o título ДАР (dar), 1938, e posteriormente traduzido para o inglês em 1963 como The gift., cujo enredo explora a vida de um exilado russo em Berlim. Fica aí o convite.
Outras línguas túrquicas (1)
Apresentamos a seguir as características de outras línguas túrquicas de menor relevância, por não se constituírem em idiomas oficiais. A maior parte das línguas que comentaremos seguem o padrão evidenciado nas línguas túrquicas já vistas aqui, ou seja, caráter aglutinante, portanto, com forte sufixação, ausência de gênero e de artigos, dois números (singular e plural) e seis casos gramaticais.
Tártaro
Língua oficial na República do Tartaristão, cuja capital é Kazan, a sexta maior cidade da Rússia. O idioma é escrito no alfabeto cirílico, após uma confusão jurídica, já que a república autônoma, apesar de ter proclamado em 1999 a utilização de um alfabeto latino modificado, foi suplantada por um decreto presidencial russo, em 2002, que obrigava o uso do cirílico. Torna-se evidente a má vontade do governo russo em concordar com a extinção do tradicional alfabeto cirílico nas suas províncias, o que, de alguma forma, significaria uma perda de poder. Em relação às antigas Repúblicas, que ficaram independentes em 1991, não há sustentação jurídica para obrigá-las a adotar o cirílico. Contudo, como visto no Post 117, há países, a exemplo do Quirguistão, os quais, em um aceno diplomático a Moscou, determinam a continuidade no uso do cirílico. A maior probabilidade é de que isso mudará ao longo do tempo.
Se vocês estão pensando que o nome do tradicional “molho tártaro” é associado aos tártaros, estão cobertos de razão. Na verdade, “tártaros” era como os europeus designavam os mongóis, cujo império, no seu auge, chegou a ocupar 20% das terras do planeta, avançando desde a costa oriental do Pacífico até a Hungria. Foi o maior império contíguo da humanidade (o Império Britânico foi ainda maior, mas não em territórios contíguos) com aproximadamente 20 milhões de km2. Não custa lembrar a lenda de que o líder Gengis Khan (1162-1227) teve mais de 500 esposas (pode isso?). Desta forma, estudos genéticos modernos estimam que cerca de 35% dos habitantes da Mongólia sejam descendentes diretos de Gengis Khan. Pois bem, os mongóis, que tinham a tradição de comer carne crua, inventaram um molho para temperá-la, ao qual os europeus deram o nome de “molho tártaro”. Voltemos ao idioma.
A língua tártara russa é falada por aproximadamente cinco milhões de pessoas. Ela não deve ser confundida com o tártaro da Siberia e com o tártaro da Crimeia, que não pertencem ao grupo túrquico de idiomas. Dentre as letras adicionais temos algumas já conhecidas, mas vamos revisá-las: Ң (som de ng), Ә (ä), Ә (ö). Algumas expressões: Xeyírlí ite (Bom dia), Räxmät (Obrigado).
Bashkir
Idioma falado por cerca de 1,2 milhão de pessoas na República russa do Bascortostão (ou Basquíria), além de bolsões em regiões vizinhas. A capital dessa república tem o discreto nome de Ufá, que significa “água escura” em bashkir. Devido à proximidade da Basquíria com o Tartaristão, os dois idiomas (bashkir e tártaro) são aproximadamente semelhantes. Contudo, no alfabeto cirílico modificado para o bashkir existem mais alguns sinais exóticos: Ғ (g), Ҙ (ö), Ҡ (k). Algumas expressões: Xәйерле ирте (Xäyyerlye irtye – Bom dia), Pәxmәt (Räkhmät – Obrigado).
Palavras originárias de nomes de pessoas (6)
Mecenas: indivíduo rico, protetor dos artistas (do estadista romano Caio Cilino Mecenas, 60 a.C. – 8).
Mentor: pessoa que serve como guia ou conselheiro (de Mentor, personagem da Odisseia de Homero, amigo e conselheiro de Ulisses).
Mercerização: processo de impregnar de soda cáustica os fios de algodão para dar ao tecido uma aparência brilhante e sedosa (do britânico John Mercer, 1791-1866, inventor do processo).
Nicotina: alcaloide encontrado no tabaco (de Jean Nicot, 1530-1600, embaixador da França em Portugal, que recebeu de presente sementes de tabaco e as enviou para Catarina de Médici, rainha consorte da França.
Pantagruélico: relativo a grandes quantidades de comida (do personagem Pantagruel, romance do escritor francês François Rabelais, 1494-1559).
Paparazzo: fotógrafo que persegue celebridades (personagem citado no romance “No Mar Jônio”, do escritor inglês George Gissing, 1857-1903, e que serviu de inspiração ao cineasta italiano Federico Fellini, 1920-93, para nomear os fotógrafos indiscretos no filme “A doce vida” – La dolce vita).
Pinel: pessoa louca ou amalucada (de Philippe Pinel, 1745-1826, psiquiatra francês)
Frase para sobremesa: Aquilo a que chamamos felicidade consiste na harmonia e na serenidade, na consciência de uma finalidade, numa orientação positiva, convencida e decidida do espírito, ou seja, na paz da alma (Thomas Mann, 1875-1955).
Bom descanso!