Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
8. Hamlet, William Shakespeare (1564-1616)
O título completo da obra, escrita provavelmente entre 1599 e 1601, é The tragedy of Hamlet, Prince of Denmark. É a maior, e, portanto, a mais longa peça teatral de Shakespeare, levando mais de quatro horas na sua exibição completa. A trama é ambientada na Dinamarca, abordando a vida do Príncipe Hamlet e as tentativas de se vingar do tio Claudius, que havia assassinado o pai de Hamlet. Em termos de dramaturgia, a peça é, possivelmente, a mais conhecida em todo o mundo. Existem indicações de que a obra foi baseada na lenda escandinava de Amleto ou Amleth, uma figura mitológica descrita por Saxão Gramático, um historiador dinamarquês (1150-1220). Na verdade, existem três versões que sobreviveram ao passar dos séculos: os chamados First Quarto (1603), Second Quarto (1604) e First Folio (1623), esta última naturalmente em caráter póstumo.
Shakespeare, considerado como o maior escritor em língua inglesa e o mais influente dramaturgo do mundo, iniciou sua carreira literária com poemas, depois comédias e, finalmente, tragédias. Como pouco se sabe sobre os detalhes de sua vida, existem suposições de que Shakespeare fosse o pseudônimo de algum escritor da época ou, talvez, um grupo de autores. Os analistas avaliam que as últimas obras, de menor qualidade, tenham sido escritas por outras pessoas. Embora o nome de Shakespeare já fosse respeitado durante sua vida, a grande reputação como dramaturgo só surgiu no século XIX. Sabe-se que era casado com Anne Hathaway e teve filhos. Se vocês tiverem a curiosidade de pesquisar na Internet sobre a vida da esposa, só vão encontrar referências a uma atriz de cinema homônima. O monólogo de Hamlet “to be or not to be that is the question” é seguramente o mais conhecido no mundo, até crianças na pré-escola sabem recitá-lo. Poucas obras da literatura foram tão traduzidas quanto Hamlet. Uma das primeiras traduções para o português foi feita em 1861 pelo rei Luís I de Portugal (1836-89). Como era comum na época, os versos foram transformados em prosa, de leitura mais fácil. Ainda em Portugal destaca-se a tradução realizada pela poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), ganhadora do Prêmio Camões de Literatura em 1999. No Brasil existem pelo menos 15 traduções, a maioria delas em prosa e uma menor parte em versos. Dentre os escritores que se aventuraram a cumprir tal meritória tarefa, podem ser citados Paulo Mendes Campos (1922-91) e Millôr Fernandes (1923-2012).
9. Odisseia, Homero (século VIII a.C.?)
A Odisseia é um poema épico que narra o regresso de Ulisses (Odisseu), herói da Guerra de Troia, ao reino de Ítaca. Ali, sua esposa Penélope e o filho Telêmaco sofrem assédio de pretendentes ao trono, os quais julgavam Ulisses morto. A viagem de Ulisses, plena de perigos e aventuras, é relatada na métrica poética de hexâmetros dactílicos, ou seja, versos de seis pés (um pé é a unidade do verso, constituída de duas ou mais sílabas) na forma de um dedo (dáctilos em grego), vale dizer, uma sílaba longa seguida de duas curtas. A real existência de Homero é um desafio que, provavelmente, jamais será resolvido. Muitos historiadores creem que o longo poema foi elaborado ao longo de séculos de tradição oral, sendo Homero uma personificação coletiva de toda a memória grega antiga. Em diversos idiomas o adjetivo “homérico” se refere a algo grandioso, extraordinário. A obra “Odisseia” é a sequência da “Ilíada”, a produção mais antiga da literatura ocidental. Na minha passada de olhos pelo site “The greatest books”, verifiquei que, brevemente, nos encontraremos com a “Ilíada”, posicionada em 210 lugar. Conforme Erastótenes (276-194 a.C.), o primeiro grande polímata da humanidade, a Guerra de Troia teria ocorrido de 1194 a 1184 a.C. Se vocês pensaram, quem é esse moço para nos passar datas assim tão exatas, lembrem-se de que ele foi o primeiro cientista a medir a circunferência da Terra, mediante um engenhoso sistema de cálculos geométricos. Ele estimou o valor em 39.700 km, ao passo que a circunferência exata, obtida dois milênios depois, é de 40.008 km.
O estilo da narrativa da Odisseia, plena de flashbacks, relatando amizades, traições, interferência dos deuses, influenciou autores, como o latino Virgílio, autor da Eneida, Camões e seu Lusíadas e, mais modernamente, como já vimos, Joyce e seu Ulisses. Existem pelo menos seis traduções da Odisseia editadas no Brasil, umas bem diferentes das outras, conforme sejam adotados versos livres ou rimados, se em poesia ou em prosa. Pelo seu caráter pioneiro merece destaque a tradução feita diretamente do grego antigo pelo maranhense Odorico Mendes (1799-1864) em versos decassílabos (com dez sílabas métricas), só publicada em 1928.
A língua quirguiz
O idioma quirguiz (kirgiz tili) é mais um do grupo túrquico ou turcomano. É falado por aproximadamente cinco milhões de pessoas, tanto no próprio Quirguistão quanto em regiões de países vizinhos. A questão do alfabeto segue a mesma história que já vimos com o uzbeque e o cazaque, mas o final é distinto. Até 1928 era usado o alfabeto árabe (ainda utilizado por minorias quirguizes na China), que foi substituído pelo latino no período 1928-40. Quando Stalin determinou que todas as repúblicas soviéticas adotassem o alfabeto cirílico, este sofreu complementações para se ajustar à fonética de cada idioma. No entanto, ao contrário do que já mostramos para o Uzbequistão e o Cazaquistão, após a ruptura da União Soviética, em 1991, o Quirguistão decidiu continuar com o uso do cirílico, em claro sinal de aproximação política com Moscou. Houve protestos por parte de partidos da oposição, que não surtiram qualquer efeito. O mais grave é que o idioma quirguiz vai perdendo terreno para o russo entre as gerações mais jovens, o que, sabidamente, é meio caminho andado para um futuro desaparecimento da língua.
As características morfológicas e gramaticais do idioma quirguiz são semelhantes às das outras línguas túrquicas já vistas aqui (turco, uzbeque, cazaque). Contudo, o quirguiz tem suas peculiaridades na construção de orações complementares. Por exemplo, a frase “eu não sei o que vi” em quirguiz é construída como “eu não sei meu tendo visto o que”. Aceitemos sem protestos.
Para nos distrairmos um pouco, vamos ver as complementações do alfabeto cirílico, especificamente no uso do idioma quirguiz: Ң (letra h com um rabinho, tem o som de “ng”), Ө (similar à letra grega teta, possui o som de “ô”) e a estrela do baile – por favor ponham os óculos – a letra ү (não é o ípsilon, muito menos o v). Este curiosíssimo sinal serve para representar o som “ü”, como no alemão ou no “u” francês. Vamos aos pronomes pessoais: мен (men), сен (sen), ал (al – serve para “ele” e “ela”), биз (biz), силер (siler), алар (alar). Números de 1 a 10: бир (bir), эки (eki), үч (ütch – aqui temos o elegante sinalzinho), төрт (tört), беш (besh), алты (alti), жети (jeti), сегиз (segiz), тогуз (toguz), он (on). Dias da semana: дуйшенби (duishenbi), шейшемби (sheishembi), шаршемби (charshembi), бейшемби (beishembi), жума (jumá), ишемби (ishembi), жекшемби (jekshembi). Algumas expressões: салaм (salam – olá), саламаттa бар (salamata bar – até logo), кутмандуу таңыңыз менен (kutmandu tangyngyz menen – bom dia; nunca vi termo tão longo para uma expressão tão simples), тушунгөн жокмун (tüshügön jokmun – não entendo), мен сени сүйөм (men seni süyöm (eu te amo), кичи пейилдик үчүн (kitchi peyildik üchün – por favor), кечириӊиз (ketchiringiz – desculpe), рахмат (rakhmat – obrigado).
Palavras originárias de nomes de pessoas (4)
Dolomita: carbonato duplo de cálcio e magnésio (de Déodat Dolomieu, 1750-1801, naturalista francês que descobriu a rocha).
Galvanizar: estimular fisiologicamente pela ação da corrente elétrica (do físico italiano Luigi Galvani, 1737-98, que descobriu o fenômeno).
Gandula: aquele que apanha as bolas no futebol ou no tênis (de Bernardo Gandulla, 1916-99, jogador de futebol argentino da equipe do Vasco da Gama no final da década de 30 e que tinha o hábito de buscar rapidamente as bolas que saiam do campo).
Gari: funcionário que trabalha na varrição de ruas (do francês Aleixo Gary, diretor da empresa que cuidava da limpeza pública no Rio de Janeiro entre 1870 e 1875; os trabalhadores eram conhecidos como “os homens do Gary”).
Gilete: lâmina de barbear (do seu criador, o empresário norte-americano King Camp Gillette, 1855-1932).
Grifo: representação gráfica conhecida como “itálico” (do ourives bolonhês Francesco Griffo, 1450-1518).
Guilhotina: instrumento para decapitar condenados à morte (de Joseph-Ignace Guillotin, médico francês que recomendava o uso dessa máquina para abreviar o sofrimento dos condenados; curiosamente, ele era contrário à pena de morte).
Holerite: sinônimo de contracheque (do engenheiro norte-americano Hermann Holerith, 1860-1929, criador da máquina computadora de cartões perfurados).
Frase para sobremesa: 1) Há duas tragédias na vida. Uma é a de não obter tudo que seu coração deseja. A outra é a de obter. 2) Não existe amor mais sincero do que aquele pela comida. (George Bernard Shaw, 1856-1950).
Bom descanso!