Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
6. Moby Dick, Herman Melville (1819-91)
A famosa história da perseguição feita pelo misterioso capitão Ahab à baleia que lhe decepara a perna vem encantando as diversas gerações como um emblemático romance de aventuras. Todavia, quando o livro foi lançado em 1951, se tornou um enorme fiasco comercial. Melville, que já havia conquistado os leitores com duas obras anteriores, Typee (1846) e Omoo (1948), teve uma gélida recepção da crítica no lançamento de Moby Dick. Até hoje não se sabe exatamente por qual fenômeno de comunicação de massas ocorreu o declínio de um romancista que acabou morrendo esquecido, com os editores recusando a publicação de suas obras posteriores. Somente no início do século XX o romance foi redescoberto por grupos de intelectuais norte-americanos, alguns alçando o livro à condição de “melhor romance já escrito em língua inglesa”. Não são curiosos os caminhos de construção e desconstrução de um sucesso?
O próprio Melville havia sido marinheiro durante alguns anos no início da vida adulta. Singrou os mares do planeta e, em uma ocasião, chegou a abandonar o navio e ficar algum tempo em uma das ilhas da Polinésia Francesa. Lá foi preso, mas logrou escapar. Um ponto que merece destaque no livro Moby Dick é que sua frase de abertura, Call me Ishmael (Me chamem de Ismael) foi eleita pela American Book Review, a melhor de cem frases introdutórias selecionadas pelos leitores e pela crítica. Obviamente, os visitantes do Blog não concordarão com a maioria delas, imagino eu, mas o resultado pode ser visto no site https://americanbookreview.com. Para quem não se der por satisfeito, foi feito também o ranqueamento das cem melhores frases de fechamento dos livros.
7. Guerra e Paz (ВОЙНА И МИР- Voiná i mir), Liev Tolstói (1828-1910)
Uma das mais monumentais obras da literatura mundial, o livro “Guerra e Paz” foi publicado, em capítulos, em um periódico russo entre 1865 e 69. Aclamado pela crítica e pelo público, é considerado como o marco inicial da ficção realista. Quando ocorreu a concessão do primeiro Prêmio Nobel de Literatura, em 1901, a grande aposta era que Tolstói, o maior escritor vivo da época, seria naturalmente o contemplado. Isto não aconteceu nesse ano e nem nos anos seguintes. Pode ser que existam justificativas para tal fato, possivelmente de ordem política, mas uma clara explicação nunca foi dada. Tolstói, que pertencia a uma família aristocrática russa, entrou na Universidade de Kazan. Um de seus professores registrou que ele era um “aluno incapaz e sem interesse pelo aprendizado”. Ele abandonou a faculdade e ingressou no exército em 1851. Realizou duas longas viagens pela Europa, iniciadas em 1857 e 1860. Em Bruxelas teve contato, em 1861, com o conhecido anarquista e socialista Pierre Proudhon (1809-65), que havia acabado de lançar o livro La guerre et la paix. Tolstói já havia iniciado a redação do seu grande livro, que teria o título de “A Guerra e o Mundo”. Cabe lembrar que as palavras paz e mundo são as mesmas em russo (МИР). Mas na cabeça do autor foi resolvido que o título, nas traduções estrangeiras, seria “Guerra e Paz”.
A obra, cuja sinopse ocuparia várias páginas, descreve a vida de cinco famílias aristocráticas à época das guerras napoleônicas (início do século XIX). O sucesso na Rússia foi grandioso. As primeiras traduções para o português foram feitas por via indireta, baseadas nas versões espanholas ou francesas. A primeira delas foi lançada em 1942 pela Editora Globo. Na referida época russa, era frequente que a nobreza se comunicasse em francês, a língua da aristocracia. O problema é que as versões em português incorporavam também a tradução das frases francesas, o que retirava do livro a sutileza das comunicações verbais no âmbito da nobreza russa. Em 2011 a Editora Cosac e Naify publicou a versão completa (2.600 páginas) traduzida diretamente do russo pelo conhecido escritor e tradutor Rubens Figueiredo (1956-). Nela, as frases em francês foram mantidas, com tradução no rodapé.
Tolstói considerava-se como um anarquista cristão e pacifista. Defendia a resistência à violência, ocorrendo inclusive trocas de correspondência entre ele e Gandhi. A esposa, que lhe deu 13 filhos, era também sua secretária pessoal, editora e gerente financeira. Ao final da vida Tolstói rejeitou a herança que lhe cabia e abriu mão dos valores relativos aos direitos autorais. Vitimado pela pneumonia, ele faleceu sozinho em uma remota estação de trem, amparado apenas pelos funcionários. Triste fim para um glorioso escritor.
A língua cazaque
O idioma cazaque (qazaqşa) é mais uma língua da família túrquica, falada por aproximadamente 13 milhões de pessoas no Cazaquistão e em países vizinhos. Como o Cazaquistão, que havia sido dominado pelos árabes a partir do século XI, começou a fazer parte do Império Russo no século XVIII, ainda hoje os idiomas oficiais no país são o cazaque e o russo. No processo de desmembramento da antiga União Soviética, ocorrido ao longo de 1991, o Cazaquistão foi a última república a se tornar independente. A língua cazaque é muito próxima do idioma quirguiz (falado no vizinho Quirguistão), que veremos em um Post seguinte, existindo entre ambos uma forte inteligibilidade mútua. Também a maioria dos dialetos do cazaque, falados conforme a região geográfica de sua utilização, são mutuamente compreensíveis. No entanto, entre as línguas cazaque e quirguiz existem os chamados falsos cognatos (palavras que vêm de uma mesma raiz), também conhecidos como “falsos amigos”. Por exemplo, o nome tizbe significa “cadeia” em cazaque e “lista” em quirguiz; balaǧat é repreensão/maturidade, azamattik é cidadania/ousadia. Imagino que possa ser divertida uma animada conversa entre cazaques e quirguizes em mesas de bar. Todavia, como tais situações devem ser raras, já que ambos os países têm maioria islâmica na população, vamos transferir o cenário para a bebida de chás em movimentados cafés.
Como ocorre com a maioria das línguas túrquicas, a questão do alfabeto é sempre um capítulo à parte. No Cazaquistão, até 1929 era usado o alfabeto árabe, que ainda é utilizado pelos cazaques que vivem na China, Afeganistão e Irã. De 1929 a 1940 foi introduzido o alfabeto latino, o qual, na sequência, foi substituído pelo cirílico. Com a independência do país, voltou o uso do alfabeto latino, mas modificado com letras e diacríticos para se ajustar à fonética da língua. Desde então esse novo alfabeto vem sendo atualizado, com a última revisão tendo ocorrido em 2021. O governo entende que a complexa transição do cirílico para o latino deva ser gradual, tamanha a carga burocrática na emissão de documentos, trocas de placas e as necessárias adaptações escolares. O prazo fixado para o domínio completo do alfabeto latino foi 2031. Por enquanto todos vão convivendo pacificamente com as duas versões.
O cazaque é uma língua aglutinante, com a ordem das frases sendo SOV (sujeito-objeto-verbo). Ele é um idioma pro-drop, o que significa que os pronomes pessoais podem ser omitidos nas frases. Eles são: men, sιz, ol, bιz, sιzder, olar. Verifica-se que não há marcação de gênero, portanto ol pode ser “ele” ou “ela”. Esse “i” sem ponto, já é agora nosso velho conhecido, com a difícil pronúncia entre “â” e “ê”. Os seis casos gramaticais são o nominativo, acusativo, genitivo, dativo, locativo e ablativo (também já nos foram apresentados). Embora a língua cazaque possua os aspectos verbais perfeito e imperfeito (nossos amigos de longa data), eles não vêm em dupla, como ocorre nos outros idiomas, mas mediante a inserção de verbos auxiliares e de sufixos.
Dias da semana: Düysenbi, Seysenbi, Särsenbi, Beysenbi, Juma, Senbi, Jeksenbi. Números de 1 a 10: bιr, ekι, üş, tört, bes, alty, jeti, segιz, toǧyz, on. Algumas expressões: Sälem (Olá), Kayιrlι tań (Bom dia), Keşιrιńιiz (Desculpe), Raxmet (Obrigado), Saw bol (Até logo), Men seni jaqsi köremin (Eu te amo), Ötinemiz (Por favor), Men tüsinbeymin (não entendo).
Palavras originárias de nomes de pessoas (3)
Chauvinismo: patriotismo fanático (de Nicholas Chauvin, 1780-?, soldado francês que exaltava as glórias do país).
Cicerone: pessoa que atua como guia de turistas (do orador e político romano Cícero, 106-46 a.C., famoso pela eloquência).
Colômbia: homenagem ao navegador italiano Cristóvão Colombo (1451-1506).
Colt: revólver, derivado do nome do seu inventor, o norte-americano Samuel Colt (1814-62).
Coquetel Molotov: arma química incendiária, em alusão depreciativa a Vyacheslav Molotov (1890-1986), Ministro de Relações Exteriores de Stalin.
Dantesco: diabólico, medonho (referência às obras do escritor italiano Dante Alighieri, 1265-1321).
Despautério: despropósito, disparate (do gramático flamengo Jan van Pauteren, 1480-1520, cujas obras sobre Gramática pareciam confusas).
Diesel: combustível utilizado principalmente por veículos pesados (do engenheiro alemão Rudolf Diesel, 1858-1913, inventor do motor de combustão interna).
Frase para sobremesa: 1) O poema é o ato social de uma pessoa solitária. 2) Espalhei meus sonhos aos seus pés. Caminhe devagar, pois você estará pisando neles. (William Yeats, 1865-1939).
Até a próxima!