Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
4. Cem anos de solidão (Cien años de soledad), Gabriel Garcia Márquez (1927-2014)
Não deixa de ser uma grande surpresa para a maioria de nossos leitores a inserção deste livro em colocação tão destacada. No Post 111 apresentamos, de forma introdutória, as metodologias existentes para a difícil tarefa de se selecionar obras de realce literário. Mais do que uma dispensável exatidão no ranqueamento dos melhores livros, acreditamos que o mais relevante seja o fato de eles participarem das grandes listas. Não se trata aqui de uma competição, mas sim de um sarau literário, onde podemos apreciar o majestoso desfile de grandes autores e suas maravilhosas obras. Isto posto, continuamos com a surpresa, obviamente positiva, de encontrarmos um escritor latino-americano como o primeiro ganhador do Nobel a fazer parte desta listagem específica.
No Post 67 já fizemos a breve descrição biográfica de Garcia Márquez. O livro “Cem anos de solidão”, publicado em 1967, envolve o cenário de ascensão e queda de um povoado fictício na Colômbia por meio da história de sete gerações da família Buendía. O romance compõe uma envolvente crônica sobre a vida, a morte e a permanente tragicomédia da humanidade, principalmente na esfera da América Latina.
5. O grande Gatsby (The great Gatsby), F. Scott Fitzgerald (1896-1940)
Também não seria esperada para esse livro uma colocação tão relevante, sobrepujando a de outros famosos clássicos da literatura. Relaxemos. O autor recebeu o mesmo nome de um primo, famoso por ter escrito a letra do hino norte-americano (The Star-Spangled Banner). De origem irlandesa, como indica o sobrenome com a raiz Fitz (“filho de”), Scott publicou apenas quatro romances e mais de uma centena de contos. Antes de “O grande Gatsby”, ele já ficara conhecido por duas obras de sucesso: This side of Paradise (1920) e The beautiful and the damned (1922). Quando “O grande Gatsby” foi lançado, em 1922, ele teve um baixo número de vendas. Na própria opinião de Fitzgerald “aquele livro era um fracasso”. Curiosamente, e aí entra o destino com seus caprichos, a obra foi distribuída gratuitamente para soldados americanos que lutavam no exterior, por ocasião da Segunda Guerra Mundial, se constituindo imediatamente em leitura favorita de milhões de cidadãos norte-americanos. Fitzgerald, que já havia falecido, não pôde usufruir desse êxito. Alcoólatra durante toda a vida adulta, ele veio a morrer, com apenas 44 anos, em consequência de um ataque cardíaco.
O livro, narrado em primeira pessoa por um dos personagens, retrata a vida de amigos milionários, dentre eles “o grande Gatsby”. As festas, amores, traições, jogos, tendo como pano de fundo a contagiante música de jazz, formam o embotado reflexo do American Dream, ansiado e tristemente inatingido.
A língua uzbeque
O idioma uzbeque (o’zbekcha) é o segundo mais falado na família das línguas túrquicas, após o turco, visto no Post anterior. Avalia-se que cerca de 30 milhões de pessoas usem o idioma, tanto no Uzbequistão (a grafia correta é essa, com a letra “z”) quanto nos países vizinhos. Ele recebeu, ao longo de sua formação, uma grande quantidade de empréstimos do persa e do árabe e, no século XX, do russo. Como nação, o Uzbequistão existe desde 1924, quando diversos territórios na Ásia Central se reuniram para formar a República Socialista Soviética Uzbeque. A língua uzbeque guarda fortes semelhanças com o uigur, falado no extremo oeste da atual China, cujas características idiomáticas serão apresentadas em um Post futuro. As dezenas de variantes da língua uzbeque podem ser agrupadas em dois dialetos principais: o norte, falado no próprio Uzbequistão, no Quirguistão, Cazaquistão, Tadjiquistão, Turcomenistão e China e o dialeto sul, empregado no Afeganistão e no Paquistão. Para quem não está familiarizado com a complexa geografia política da Ásia Central, uma olhadinha no mapa abaixo pode ser instrutiva.
Uma curiosidade geográfica, que não muda em nada as nossas vidas, mas confere um tempero à leitura, é o fato de o Uzbequistão, junto com o Liechtenstein (na Europa), serem os únicos países do mundo que só fazem fronteira com nações sem costa marítima. Até 1924 (data da criação do país), a língua uzbeque era escrita no alfabeto árabe. De 1924 a 40 foi utilizado o alfabeto latino (com a inserção de diacríticos). A partir de 1940, por determinação de Stalin, todos os idiomas das diversas Repúblicas Soviéticas deveriam usar o alfabeto cirílico. Com o fim da União Soviética, em 1991, e a consequente independência das repúblicas que a compunham, a língua uzbeque voltou a ser escrita no alfabeto latino. Contudo, tais mudanças não se processam da noite para o dia. Existem as tradições, a alfabetização da população, as documentações oficiais, leis, registros, de tal sorte que, até hoje, o cirílico ainda é largamente utilizado. O mais recente decreto governamental, dos tantos já promulgados sobre o assunto, estabeleceu a data limite de 1/1/2023 para que fosse abolida a presença do cirílico. Parece que ainda não foi agora que essas determinações tiveram real efeito.
Os diacríticos utilizados na escrita latina da língua uzbeque já são largamente conhecidos de nossos leitores: ş (som de “ch”), ç (“tch”). Diferentemente do turco, no uzbeque não existem o ǧ e o ι (“i” sem ponto). O uzbeque é o único idioma túrquico onde ocorre o arredondamento da vocal “a” para “o”. Assim, no turco, a palavra para livro é kitap, ao passo que no uzbeque passa a ser kitob. Como ocorre com todas as línguas da família túrquica (ou turcomana), também no uzbeque não existem gêneros e artigos. Um exemplo das declinações para os diversos casos é dado a seguir: uy (casa, no nominativo), uyning (da casa, genitivo), uyga (para a casa, dativo), uyki (no acusativo, p.ex, eu vejo a casa), uyda (na casa, locativo ou preposicional), uydan (da casa, ablativo).
Os pronomes pessoais são muito semelhantes aos do turco: men, sen, u, biz, siz, ular. Dias da semana (grande analogia com o persa): Dushanba, Seshanba, Chorshanba, Payshanba, Juma, Shanba, Yakshanba. A sexta-feira tem um nome distinto dos outros dias da semana pelo fato de ser o dia sagrado do Islamismo. Numerais de 1 a 10: bir, ikki, uch, to’rt (o apóstrofo indica uma brevíssima interrupção na fala, fenômeno comum nas línguas túrquicas, no persa e nas línguas semíticas, como o árabe), besh, olti, yetti, sakkiz, to’qquiz, o’n). Algumas expressões: Salom (Olá), Ko’rishguncha (Até logo), Hayirli tong (Bom dia), Uzr (desculpe), Tushunmayapman (Não entendo), Rahmat (Obrigado), Men seni sevaman (eu te amo), Iltimos (por favor).
Palavras originárias de nomes de pessoas (2)
Big Ben: homenagem ao engenheiro civil britânico Benjamin Hall, que coordenou a construção da Torre do Relógio em Londres, onde se localiza o famoso sino.
Boicote: do irlandês Charles Cunningham Boycott (1832-97), que por ter a fama de ser muito rígido com seus empregados, recebia recusas de trabalho por parte de camponeses.
Bolívia: homenagem ao conquistador venezuelano Simon Bolivar (1783-1830).
Bovarismo: tendência de fugir da realidade (da personagem Madame Bovary, criada pelo escritor francês Gustave Flaubert, 1821-80).
Brechó: corruptela de Belchior, comerciante do Rio de Janeiro que estabeleceu a primeira casa de compra e venda de roupas e objetos usados.
Brocardo: provérbio, máxima (de Burckard, século XI, bispo de Worms na Alemanha, autor de compilações de direito canônico).
Cardigan: casaco tricotado sem gola, homenagem ao inglês James Thomas Brudenell, Conde de Cardigan (1797-1868).
Carrasco: algoz, verdugo (do português Belchior Nunes Carrasco, século XV, que exercia a atividade em Lisboa).
Frase para sobremesa: Na noite onde todos estamos, o sábio esbarra com a parede, enquanto o ignorante fica tranquilamente no meio do quarto (Anatole France, 1844-1924).
Bom descanso!