Lista dos melhores livros de todos os tempos (www.thegreatestbooks.org)
1.À procura do tempo perdido (À la recherche du temps perdu), Marcel Proust (1871-1922)
Uma das expressões máximas da literatura mundial, a obra, composta por sete volumes, foi escrita entre 1907 e 22, tendo sido publicada no intervalo de 1913 a 27, portanto uma parte (o último volume) em caráter póstumo. Os grandes temas do livro, todos eles centrados no papel do tempo e da memória, abrangem os diversos sentimentos humanos (amor, ciúme, questões existenciais), música, arte em geral e as peculiaridades dos relacionamentos humanos, incluindo-se aqui o tópico da homossexualidade. No Brasil as primeiras publicações, feitas pela Editora Globo, foram na década de 1950, tendo à frente um seleto grupo de tradutores, representados por Mário Quintana (1906-94, volumes de 1 a 4), Manuel Bandeira (1886-1968), junto com Lourdes Souza de Alencar, para o volume 5, Carlos Drummond de Andrade (1902-87, volume 6) e Lúcia Miguel Pereira (1901-59, volume 7).
Em 1992 foi publicada pela Ediouro uma nova tradução, feita por Fernando Py (1935-2020), com base na edição francesa definitiva da Editora Gallimard de 1987. Os 7 volumes foram reunidos em três tomos:
- Tomo 1: “O caminho de Swann” (Du côté de chez Swann) e “À sombra das moças em flor (A l´ombre des jeunes filles en fleur);
- Tomo 2: “O caminho de Guermantes” (Le côté de Guermantes) e “Sodoma e Gomorra (Sodome et Gomorrhe);
- Tomo 3: “A prisioneira” (La prisonnière), “A fugitiva” (Combray ou ainda Albertine disparue) e “O tempo recuperado” (Le temps retrouvé).
Mais recentemente (2022), a Companhia das Letras publicou os dois primeiros volumes, com tradução de Mário Sérgio Conti (1954-) e Rosa Freire d’Aguiar (1948-).
Proust, que tinha uma mãe judaica e um pai católico, pertencia à classe culta e rica de Paris. De saúde frágil na infância, recuperou-se um pouco na vida adulta, tendo iniciado a redação de uma obra a qual, segundo seus biógrafos, “fora concebida para ficar eternamente na história da humanidade”. Os outros poucos livros que escreveu praticamente desaparecem perante a magnificência de sua obra-prima. Proust faleceu de bronquite após sucessivas pioras no seu quadro de saúde.
Os analistas apontam diversas incongruências ao longo dos sete volumes da obra, tais como o ressurgimento de personagens que haviam morrido, repetição do mesmo texto para a descrição de personagens distintos, alterações nos nomes de localidades, algumas citações erradas de versos, ou seja, pequenos cochilos no contexto de um sono muitíssimo maior.
Embora, conforme comentei no Post 111, não pretenda mesclar comentários pessoais na apresentação das grandes obras da literatura, faço aqui uma exceção para o livro que, a meu juízo, está entre as três melhores produções literárias que a genialidade humana já criou. Qual a melhor? De fato, não sei, pois aí entram em cena os contornos temporais, que fazem com que o valor subjetivo de um livro possa ir se alterando ao longo do tempo. Seguramente, muitos dos leitores conhecem pessoas que iniciaram a leitura deste livro e depois a interromperam, sob o argumento da falta de tempo. Outros têm os volumes na prateleira, mas estão aguardando um momento mais propício, quem sabe a aposentadoria ou uma longa temporada na casa da praia. Não façam isso. O momento ideal para essa enriquecedora e prazerosa leitura já passou ou, no máximo, é agora.
Outras línguas do Cáucaso (2)
A língua osseta, falada na Ossétia do Sul (capital: Tsequinváli) por 500.000 pessoas, pertence ao ramo iraniano, ligado à família indo-europeia. Enquanto a Ossétia do Norte continua fazendo parte da Rússia, a sua irmã do sul declarou a independência da Geórgia, a qual não foi acatada pela ONU, mas reconhecida pelos mesmos cinco países que mantêm relações diplomáticas com a Abcásia (v. Post anterior): Rússia, Venezuela, Nicarágua, Nauru e Síria. Minha estranheza se refere ao posicionamento de Nauru, já que os outros países mencionados são bastante alinhados à política russa. O que será que faz um embaixador da Abcásia no minúsculo território de Nauru (e vice-versa)? A maioria dos ossetas são cristãos-ortodoxos, os quais adotaram o alfabeto grego nos séculos X a XII, passando a escrever em cirílico a partir de 1798. O primeiro jornal em língua osseta surgiu em 1906.
Retomamos aqui a figura mostrada no Post anterior para ilustrar a localização da Ossétia do Sul.
O osseto é o único idioma de alfabeto cirílico que utiliza a ligatura æ, tão comum nas línguas escandinavas. Seu som aqui é algo intermediário entre “a” e “e”. Sim, realmente difícil. Dentre os nove casos gramaticais existentes, alguns são um pouco mais exóticos, como é o exemplo do alativo (indica direção para), ablativo (origem ou afastamento), inessivo (dentro de), adessivo (sobre), equativo (como) e comitativo (com). Merece destaque uma peculiaridade do osseto, provavelmente não encontrada em nenhuma outra língua: o artigo definido é indicado mediante a mudança da sílaba tônica. Assim: faeráet (um machado), fáeraet (o machado). Assim como em outras línguas caucasianas, os numerais seguem oficialmente a base decimal, mas, coloquialmente, eles mudam, passando a ser construídos com a base vigesimal. É muito comum nas línguas iranianas a existência de fortes diferenças entre as linguagens falada e escrita. Duas expressões: Дæ уæ райсом хорз (Dæ uæ rajsom xorz – Bom dia), Бузныг (buznyg – Obrigado).
Origem de nomes de fábricas e modelos de veículos (2)
Fiat: acrônimo deFabricca Italiana Automobili Torino, criada em 1899 na cidade italiana de Turim por Giovanni Agnelli (1866-1945). O acrônimo também tem um forte apelo comercial, dado que fiat em latim significa “faça-se”, como por exemplo na conhecida expressão Fiat Lux(faça-se luz).
Ford: indústria norte-americana criada em 1903 por Henry Ford (1863-1947).
Gordini: criada em 1940 pelo italiano Amedeo Gordini (1899-1972).
Hyundai: o nome da empresa sul-coreana é originário do termo Hyeondae, que significa “tempos modernos”.
Lada: veículo de fabricação soviética inspirado em Ладья (ladia), nome dado aos veleiros que navegam pelo Rio Volga, o maior da Europa, tanto em extensão quanto em vazão.
Lamborghini: criada em 1963 pelo italiano Ferruccio Lamborghini (1916-1993).
Maserati: criada em 1914 em Bolonha pelos irmãos Ettore (1894-1990) e Ernesto (1898-1975) Maserati.
Mercedes-Benz: a origem remonta ao apelido de “Mercedes” dado pelo empresário e diplomata alemão Emil Jellinek (1853-1918) ao seu carro de corrida. O nome foi uma homenagem à sua filha Mercédès Jellinek (1889-1929). O complemento “Benz” procede do nome de Karl Benz (1844-1929), criador do primeiro veículo movido a gasolina.
Frase para sobremesa: 1) Quando a ordem é injusta, a desordem já é um princípio de justiça; 2) Cada um de nós traz no fundo de si um pequeno cemitério daqueles que amou (Romain Rolland, 1866-1944).
Até a próxima!