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Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

2022: Annie Ernaux (1940-): nascida como Annie Duchesne, ela é a primeira mulher francesa a ganhar o Nobel de Literatura. Quase todos os seus 23 livros possuem um caráter autobiográfico. Os pais eram comerciantes, donos de um café e uma mercearia na pequena cidade natal de Annie, na Normandia. Toda sua vida profissional foi dirigida ao ensino em escolas francesas. Em 1974 ela publicou o primeiro livro, Les armoires vides. Logo depois iniciou seu curso superior de Literatura Moderna nas universidades de Rouen e Bordeaux. Em uma sequência cronológica, são aqui destacadas as principais obras de Annie: Ce qu’ils disent ou rien (1977), a qual retrata sua adolescência, La femme gelée (1981), onde é mostrado o fracasso do seu casamento, “Une Femme (1987) sobre a morte da mãe, “Paixão simples” (Passion simple, 1991), relato do envolvimento amoroso com um estrangeiro, Je ne suis pas sortie de ma nuit, 1997, em que é exposta a problemática da doença de Alzheimer, “A vergonha” (La honte, 1997), que explora a tentativa do pai em matar sua mãe, “O acontecimento” (L’événement, 2000), sobre a experiência do aborto, na época ilegal na França, L’usage de ce photo (2005), sobre o difícil período de um câncer de mama. Em 2008 é publicado o livro avaliado como sendo sua obra-prima “Os anos” (Les années), que descreve sua vida desde o pós-guerra até a atualidade. Pela primeira vez ela coloca o narrador na terceira pessoa (ele). O romance angariou diversos prêmios no circuito europeu. Alguns de seus livros foram adaptados para o cinema, com destaque para L’événement, dirigido por Audrey Divan (1980-), ganhador do Leão de Ouro no festival de Veneza de 2021, e Passion simple, selecionado para exibição no Festival de Cannes de 2020, com direção de Danielle Arbid (1970-). Todas as suas obras publicadas na França levam o selo da prestigiada Editora Gallimard. No Brasil, seis livros de Annie foram publicados pela Editora Fósforo, todos com tradução de Marília Gracia.   

Annie foi casada com Philipe Ernaux, de quem adquiriu o sobrenome. Teve duas filhas deste matrimônio. Ela é conhecida na França pelo seu ativismo político, notadamente contra as posturas dos governos de Israel e do Irã. À semelhança do seu antecessor na premiação do Nobel, Abdulrazak Gurnah, ela também acreditou que os insistentes telefonemas provenientes de um número da Suécia fossem trote, daí não ter atendido as ligações. Horas depois ela veio a saber da premiação ao ouvir um programa de rádio. Tal declaração foi dada em uma entrevista coletiva na FLIP (Festa Internacional de Literatura de Paraty) (novembro/22), para a qual ela já estava convidada bem antes de receber a premiação do Nobel. Fico um pouco reticente em acreditar integralmente nesses episódios, que ferem o caráter de bom senso de alguém cujo nome já havia sido comentado em diversas ocasiões como um dos favoritos para o Nobel. Talvez seja mais conveniente que, doravante, a Academia Sueca passe a enviar mensageiros, ao estilo de office-boys, que, tão logo feita a escolha, saiam em desabalada carreira para o aeroporto, à moda do homem da Maratona.      

A língua armênia

Iniciamos com este Post a apresentação das línguas do Cáucaso, uma das mais fascinantes regiões do mundo em termos de diversidade linguística. Veremos, pela ordem, os idiomas armênio, azerbaidjano (ou azeri) e georgiano. Eles são provenientes de diferentes famílias linguísticas e, mais que isso, possuem alfabetos distintos.

A língua armênia (hayeren lezow) pertence a um ramo independente da família indo-europeia. Na verdade, existem dois dialetos do armênio, já bem consolidados: o oriental, que é o usado na maior parte do país e se constitui na língua literária e o ocidental, falado em algumas regiões da Armênia e pela diáspora (dispersão de um povo) de emigrantes armênios em diversas partes do mundo. Nem é preciso comentar, pois o caro leitor já está acostumado com o intenso surgimento das variantes linguísticas – como se elas tivessem geração espontânea – que ambos os dialetos acima apresentados possuem, por sua vez, grande número de subdialetos, assim são os idiomas. Com isso não resta qualquer dúvida de que a língua armênia é pluricêntrica, ou seja, ela surge em diversas modalidades de fonética, gramática e léxico. O armênio é falado por uma população total em torno de sete milhões de pessoas. Interessante ressaltar que a Armênia foi o primeiro país do mundo a adotar o Cristianismo, no ano 301. O Império Romano só o faria 80 anos depois. O alfabeto armênio foi criado em 405 pelo padre Mesrobes Mastório (362-440), a quem também é atribuída a criação do alfabeto georgiano. De fato, ele deveria ter um dom especial para as letras. Os primeiros manuscritos em armênio surgiram já no século V. Alguns linguistas encontraram similaridades entre o Armênio Antigo e o Grego Antigo, o que levaria à reunião dos idiomas no mesmo ramo linguístico. No entanto, estudos posteriores desmistificaram essa tendência, fazendo com que o armênio permanecesse em um ramo próprio. Em épocas passadas a Armênia já teve uma superfície bem maior, mas conflitos com a Turquia em 1932 levaram à perda de consideráveis partes do território. Nenhuma abordagem histórica sobre a Armênia pode deixar de lado o genocídio, ou holocausto armênio, que eles chamam de “O Grande Crime”, ocorrido entre os anos de 1915 a 23, quando as tropas do governo otomano dizimaram de um a dois milhões de armênios em um processo de limpeza étnica e religiosa. Além dos massacres, ocorreu a deportação de crianças, mulheres e idosos para o deserto da Síria, nas chamadas “marchas da morte”, em que apenas um pequeno número de pessoas chegava ao destino. Merece ainda registro a curiosíssima questão das fronteiras entre Armênia e Azerbaidjão (vide figura abaixo).

Observa-se um exclave (Nagorno-Karabach) da Armênia integralmente dentro do território do Azerbaidjão. Por outro lado, existe também um exclave do Azerbaidjão (Nachtchivan) totalmente isolado do país. Assim é o Cáucaso.

Finalmente cabe lembrar que o símbolo nacional da Armênia, que está no centro do brasão de armas do país, é o lendário Monte Ararat, onde teria sido encontrada a Arca de Noé. Esta imponente elevação pode ser claramente vista desde a capital Ierevan. Só que, atualmente, o Ararat se encontra em território turco. Como dizíamos, assim é o Cáucaso.

Até o século XIX muitos filólogos consideravam a língua armênia como sendo um dialeto do persa, tamanha a profusão de palavras persas no léxico armênio. Só em 1875 o armênio foi reconhecido como uma língua independente. Após o holocausto armênio o governo promoveu a eliminação de todas as palavras que tivessem origem turca, e que eram muitas. O idioma armênio possui sete casos declináveis, artigos definido e indefinido, mas não apresenta gêneros. A acentuação recai sobre a última sílaba.          

Os exemplos a seguir são do armênio oriental, que corresponde ao dialeto mais falado no país. Exemplo de frase no alfabeto armênio: Ա Արմէնիա ւմ պաիս սիտւադո նա րեգիãո դո Ծáւծասո (A Armênia é um país situado na região do Cáucaso).

Com a transliteração no alfabeto latino: pronomes pessoais: jes, du, ka, menk’, duk’, nrank’; números de 1 a 10: mek, erku, erek’, tchlors, hing, vets, jot, uts, ine, tase; dias da semana: ergushapt’i, erekshapt’i, ch’orekshapt’i, hinkshapt’i, owrpat’, shapat’, giragi.

Com o alfabeto armênio e a transliteração latina: բարև (Barev) (Olá), Բարի’ լույս:  (Bari luys) (Bom dia), Ց’տեսություն (Tstesutyun) (Até logo), Չեմ հասկանում: (Chem haskanum) (Não entendo), Ներողությո’ւն: (Neroghutyun) (Desculpe), Խնդրեմ (Khntrem) (Por favor), մերսի (Mersi) (Obrigado), Սիրում եմ քեզ: (Sirum em kez) (Eu te amo). Fonte: Omniglot

Unidades científicas derivadas de nomes de pessoas (2)

Outros nomes de pessoas vinculados à designação de unidades de medida são W (Watt), proveniente de James Watt, engenheiro escocês, 1736-1819, e J (Joule), de James Prescott Joule, físico inglês, 1818-1889. Para a medida da pressão pode-se lançar mão do Torr, em honra ao físico italiano Evangelista Torricelli (1608-1647), inventor do barômetro de mercúrio e sucessor de Galileu na destacada Academia Florentina. No entanto o SI determina neste caso a utilização da unidade Pascal, oriunda do eminente matemático e filósofo francês Blaise Pascal (1623-1662). Do rol de homenagens aos gênios da física, naturalmente não escapou o nome de um dos seus maiores representantes, Sir Isaac Newton (1642-1727), que designa a unidade de força. Na medição da condutividade elétrica da água usa-se a unidade S/cm, homenagem ao engenheiro alemão Werner von Siemens (1816-1892). Os colegas norte-americanos preferem, no entanto, utilizar a notação mho/cm. Esta curiosa sigla mho, que tem o mesmo valor de S, é a grafia inversa da unidade de resistência ohm, tributo ao físico alemão Georg Ohm (1789-1854).

Frase para sobremesa: Duas contribuições de Ernaux: 1) Não existe verdade inferior. 2) A velhice é uma fase da vida em que não há tempo para ser lembrada, virar memória.

Até a próxima!

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