Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
2020: Louise Glück (1943-): a poetisa norte-americana é descendente de uma família de judeus húngaros que emigraram para os EUA. Na infância os pais liam com ela histórias da mitologia grega. Tal conhecimento é manifestado em diversos poemas de Glück. Ela teve aulas na Universidade de Columbia, mas não chegou a concluir algum curso. Apesar de não ter recebido um diploma universitário, ela é, nos dias de hoje, professora de Poesia em instituições de prestígio nos EUA, dentre elas as universidades de Stanford e Yale. O início de sua carreira literária foi com a publicação de poemas em revistas. Seu primeiro livro de poemas, Firstborn, saiu em 1968. A partir daí Glück sofreu uma espécie de bloqueio criativo, só superado em 1971 quando começou a lecionar Poesia no Goddard College, em Vermont. Seu segundo livro de poemas, The house on marshland, foi publicado em 1975 e o terceiro, Descending figure, cinco anos mais tarde. Outros cinco anos se passaram até que ela produzisse sua obra de maior impacto até então, o livro de poemas The triumph of Achiles. Sua fama como poetisa se consolidou em 1993, quando recebeu o Prêmio Pullitzer pela publicação de The wild íris, uma fábula poética em que as flores de um canteiro conversam com o jardineiro. Outros prêmios literários ocorreram em 2001 (Prêmio Bolligen, concedido pela Universidade de Yale) e o National Books Critic Circles Award, do Reino Unido, em 2014. Antes disso, Glück já havia sido escolhida pelo Library of Congress (Biblioteca do Congresso norte-americano, a maior do mundo) como United States Poet Laureate, honraria esta que, conforme o regulamento, persiste por dois anos (2003-4). Quando recebeu o Nobel, em 2020, Glück era praticamente desconhecida no Brasil. Após o evento, a editora Companhia das Letras publicou três volumes de poemas reunidos em único livro (Poemas 2006-2014): “Averno’; ‘Uma vida no interior’ (A village life); ‘Noite fiel e virtuosa’ (Faithful and virtuous night).
As obras de Glück são marcadas pela intensidade emocional, com expressões de tristeza e melancolia. O tema do isolamento é frequente em seus poemas, os quais também levam consigo um caráter autobiográfico. Ela casou-se por duas vezes: primeiro casamento: 1967-73, tendo um filho; segundo casamento de 1977 a 1996.
A língua albanesa
O albanês (gjuha shqipe) é um idioma indo-europeu de ramo independente, falado por aproximadamente 7,5 milhões de pessoas. No entanto, há linguistas que o associam às línguas extintas “ilírio” (oeste dos Balcãs) e “messápio” (sul da Itália), ambas apenas de expressão oral, as quais, no conjunto, formariam o grupo ilírio. Cerca de 60% do léxico do albanês é originário do latim, um percentual elevadíssimo para uma língua não românica. Ele é o idioma oficial na Albânia e em Kosovo, o qual, como já vimos, é uma província autônoma da Sérvia que se declarou independente, sendo reconhecida por aproximadamente 90 nações do mundo. Existem bolsões de fala albanesa nos países vizinhos, principalmente na Grécia, e, também, na Itália. O idioma é dividido em dois dialetos: Gheg, falado ao norte do país, e Tosk, usado no sul. A divisão geográfica entre ambos os dialetos é o rio Shkumbin, que passa ao sul da capital Tirana. Com alguma razão, vocês devem estar se perguntando o que acontece com os ribeirinhos, que, por qualquer motivo, necessitem cruzar o rio. Será que, chegando à outra margem, eles automaticamente mudariam de dialeto? Na verdade, esses dialetos são mutuamente compreensíveis, a diferença reside quase só na fonética, já que os falantes de Ghegpreferem nasalizar as vogais, como nós sabemos fazer aqui no Brasil. Os dois dialetos já existiam nos séculos V e VI. Os primeiros escritos, registrados em Gheg, remontam ao século XVI. Embora 70% da população albanesa seja falante do Gheg, assim como também os kosovares, foi a variante Tosk que serviu de base para a formação do albanês literário, o que ocorreu logo após a Segunda Guerra Mundial. Para isso influiu o posicionamento do líder político Enver Hoxha (pronúncia: Hodja), de ascendência Tosk.que governou o país em uma ditadura comunista de 1946 a 92, transformando-o em um dos mais fechados do mundo.
Existem dois subdialetos do Tosk que muitos filólogos consideram como idiomas independentes. O primeiro é o arvanita, também chamado de greco-albanês, falado na região grega da Ática e que se encontra em franco processo de extinção. O outro, falado por mais de 500.000 pessoas, é o arbëresh, que se concentra na região italiana da Puglia e em bolsões da Itália meridional. Como ambos não são inteligíveis para o povo albanês, já está meio caminho andado para que sejam classificados como idiomas.
A língua albanesa já foi escrita em diversos alfabetos, conforme a variação dialetal: o Gheg, mais associado à população cristã, usava o alfabeto latino; o Tosk, de maioria ortodoxa, lançava mão do alfabeto grego. Outras regiões de influência islamita utilizavam o alfabeto árabe na modalidade turco-otomana. Lembremo-nos de que o Império Otomano dominou a região dos Bálcãs de 1453 (conquista de Constantinopla) até o início do século XX. A Albânia só adquiriu sua independência em 1912. A padronização do alfabeto albanês ocorreu um pouco antes, em 1908. Sua base é o alfabeto latino, com a inclusão de dez dígrafos (encontros consonantais) e as inserções da vogal “ë” e da letra “ç”, nossa muito conhecida cedilha Alguns poucos exemplos da complexa fonética albanesa: “t” é pronunciado dz, “q” (t) e “ç” (tch). Uma brincadeira para mesa de bar é que a palavra verdhë significa “amarelo”. O albanês possui dois gêneros e seis casos gramaticais, que são declináveis: nominativo, acusativo, genitivo, dativo, vocativo e ablativo. Este último indica a condição de afastamento. Por exemplo, na frase “tirei o livro da estante”, o substantivo “estante” deve ficar no ablativo. A língua albanesa, à semelhança do romeno e dos idiomas escandinavos, tem o artigo definido sufixado. Assim, libër (livro), libri (o livro). O albanês é a única língua europeia que apresenta a curiosíssima declinação verbal para designação de “surpresa”. São os chamados verbos mirativos ou admirativos. Um exemplo esclarece tudo: “Você fala albanês?” (Ti flet shqip?), “Você fala albanês!” (surpresa ou admiração) (Ti folke shqip!). E tem gente que ainda acha que o estudo de línguas é algo monótono.
A seguir nossa tradicional lista de palavras e expressões. Para simplificarmos a vida, elas são apresentadas no dialeto Tosk (pouca coisa é mudada no Gheg). Pronomes pessoais: unë, ti, ai/ajo, ne, ju, ata. Números de1 a 10: një, dy, ter, katër, pesë, gjashtë, shtatë, tetë, néndë, dhjetë. Dias da semana: e hënë, e martë, e merkurë, e enjtë, e premte, e shtunë, e diel. Expressões: Ç’kemi (olá), Mirëmëngjes (bom dia), Nuk kuptoj (não entendo), Më fal (desculpe), Të dua (eu te amo), Ju lutem (por favor), Falemenderit (obrigado).
Origem de nomes de algumas enfermidades
Na bacteriologia, diversas expressões rendem homenagem ao notável cientista Louis Pasteur (1822-1895), como nomes científicos de organismos, por exemplo, bactérias do gênero Pasteurella e o processo de pasteurização do leite. Nas análises bacteriológicas usa-se com frequência a placa de Petri, que homenageia o biólogo alemão Julius Petri, 1852-1921. Uma conhecida técnica de coloração histológica (i.e., de tecidos) foi desenvolvida pelo médico dinamarquês Hans Christian Gram (1853-1938), trazendo uma forte contribuição na separação de grupos funcionais de bactérias em gram positivas e gram negativas. Algumas enfermidades têm suas designações derivadas de nomes de cientistas, como por exemplo a leishmaniose(de William Leishman, bacteriologista escocês, 1865-1926) e a bilharzioseou esquistossomose (de Theodor Bilharz, médico alemão, 1825-1862), enquanto o sinônimo esquistossomose provém do grego schistós, fendido, rachado e soma, corpo. A shigelose(disenteria bacilar) homenageia o bacteriologista japonês Kiyoshi Shiga, (1871-1957). Já a salmonelose é derivada do nome do microbiologista norte-americano Daniel Elmer Salmon (1850-1914). Hanseníase (lepra) vem do médico norueguês Gerhard H.A. Hansen (1841-1912). Carlos Chagas (1879-1934) foi o primeiro cientista na história da Medicina a descrever o ciclo completo de uma enfermidade infecciosa, a qual leva o seu nome. Até hoje os membros da Academia Sueca não entendem por que seus antecessores não lhe concederam o Nobel de Fisiologia ou Medicina (assim é o nome). Inexplicável.
Frase para sobremesa: Dois pensamentos de Glück: 1) Nós olhamos para o mundo uma vez, quando crianças. O resto é memória. 2) De duas irmãs uma é sempre a observadora, a outra é bailarina.
Até a próxima!