Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
2019: Peter Handke (1942-): o escritor, dramaturgo e cineasta austríaco adquiriu o sobrenome pelo segundo casamento da mãe. Handke só veio a conhecer seu pai biológico, um soldado, quando já era adulto. Como a mãe tinha origem eslovena, Handke utilizava o idioma eslovênio como sua segunda língua. Em 1961 ele entrou para a Faculdade de Direito da Universidade de Graz (a segunda maior cidade do país), mas abandonou os estudos em 1965, depois que a editora alemã Suhrkamp aceitou sua obra Die Hornissen (As vespas) para publicação. A partir daí ele decidiu se dedicar somente às artes, quais sejam, escrita, pintura, cinema e teatro. Dentre as várias controvérsias que acompanham a carreira de Handke, talvez a primeira delas tenha sido a peça teatral Publikumsbeschimpfung (Ofendendo a audiência, 1966), na qual os atores passam todo o tempo lançando críticas e impropérios ao público presente no teatro. Algo inovador para a época, mas também capaz de suscitar desconfortos. Em 1969 ele foi um dos cofundadores da Editora do Autor (Verlag der Autoren), em que os autores se transformavam em editores e vice-versa. Na década de 1960 houve uma experiência semelhante no Brasil, quando os escritores Fernando Sabino e Rubem Braga fundaram a “Editora do Autor”, posteriormente transformada em Editora Sabiá.
O primeiro sucesso literário de Handke veio em 1971 como triste consequência da tragédia familiar do suicídio da mãe. No turbilhão das variadas emoções, Handke escreveu o que muitos consideram como sua obra-prima: Wunschloses Unglück (Bem-aventurada felicidade). O livro foi distribuído também em audio book, com a voz de um dos maiores atores europeus, o suíço Bruno Ganz (1941-2019). Dois anos depois Hanke foi contemplado com o mais relevante prêmio da língua alemã, o Georg Büchner Preis. Todavia, em 1999 ele devolveu a medalha e os 40 mil euros de premiação em protesto contra o bombardeio da Iugoslávia por forças militares da OTAN. Uma das obras mais destacadas de Handke é o romance Die linkshändige Frau (A mulher canhota, 1976), adaptado para o cinema no ano seguinte, com direção do próprio Handke, e apresentado no Festival de Cannes de 1978. O enredo trata da vida de uma esposa que pede ao marido que a abandone. Nesta época Handke já começara a morar em cidades diversas, como Düsseldorf (Alemanha), Berlim, Paris, dez anos em Salzburgo (Áustria), até que, a partir de 1990, se fixou definitivamente nos arredores de Paris.
O currículo cinematográfico de Handke envolve diversas participações como roteirista nos filmes do celebrado diretor alemão Wim Wenders (1945), como por exemplo a película Die Angst des Tormanns beim Elfmeter, 1972 (O medo do goleiro diante do pênalti), Falsche Bewegung, 1975 (Movimento em falso)e o premiado Der Himmel über Berlin, 1987 (Asas do desejo). A longa parceria continuou em 2016 com o filme Les beaux jours d’Aranjuez (Os belos dias de Aranjuez), no qual atua a atriz francesa Sophie Semin, esposa de Handke.
Provavelmente a maior controvérsia a respeito do posicionamento político de Handke foi a defesa aberta que ele fazia de Slobodan Milosevic (1941-2006), o líder sérvio responsabilizado pelos massacres dos bósnios e que veio a falecer durante seu julgamento no Tribunal Internacional de Haia por crimes contra a humanidade. No funeral de Milosevic, Handke fez um discurso em que negava as acusações contra o amigo. Evidentemente que tal postura veio mais uma vez à tona quando do anúncio da premiação de Handke com o Nobel de Literatura. Além do mais, cinco anos antes ele declarara à mídia que “o Prêmio Nobel era um circo e deveria ser abolido”.
Handke casou-se duas vezes e teve uma filha em cada matrimônio. Até hoje ele é um dos mais vigorosos nomes da avant-garde europeia. Por isso mesmo muitas de suas obras são herméticas e, com frequência, um pouco tediosas de serem lidas. Contrariando a tendência de um decréscimo na produção literária dos contemplados com o Nobel, talvez receosos de se exporem a críticas dos analistas e do público. Handke continua ativo. Seu último livro, publicado em 2020 (Das zweite Schwert – A segunda espada) aborda a vingança de um filho em defesa da mãe acusada de ser simpatizante do nazismo.
A língua grega (2)
A gramática grega apresenta três gêneros, dois aspectos (perfeito e imperfeito) e três casos (nominativo, acusativo e genitivo). O dativo (indicação do objeto indireto), que existia no grego clássico, foi eliminado na versão moderna. A ausência de infinitivo faz com que sejam usadas construções parafrásicas, ou seja, que expressam a ideia mediante outros recursos de vocabulário. É como se, no português, em vez de “eu tentei fazer” usássemos a paráfrase de “eu tentei que fizesse”. A fonética do grego é extremamente agradável, principalmente devido à profusão de vogais e à musicalidade da fala, o que faz com que a língua seja uma das mais sonoras do mundo. Os diacríticos, nossos firmes companheiros ao longo dos últimos Posts, principalmente na descrição das línguas eslavas, foram quase todos extintos na reforma ortográfica de 1982. Mas alguns ainda existem, como os acentos agudos para assinalarem a sílaba tônica na palavra e os acentos graves, os quais indicam que a sílaba tem um “tom baixo”. Persiste também o diacrítico para indicar a diérese, que nada mais é que a pronúncia de um ditongo como se fosse um hiato. Um exemplo em português seria falar a palavra (sau-da-de) com a separação das vogais do ditongo (sa-u-da-de). O corresponde sinal diacrítico é a colocação do trema sobre a primeira vogal do ditongo.
Na longa transição entre as variantes clássica e moderna da língua grega muitas conjugações verbais foram modificadas e registros ortográficos foram alterados, além de mudanças na estrutura gramatical dos textos. Como neste Blog preferimos as línguas vivas, o que se segue é referido ao grego moderno. Números de 1 a 10: ένας (enas), δύο (dyo), τρεις (treis – que boa surpresa!), τέσσερις (tesseris), πέντε (pénte), έξι (écsi), επτά (eptá), οκτώ (octo), εννιά (enniá), δέκα (déca). Pronomes pessoais: εγώ (egó), εσύ (esí), αυτός (autós)/ αυτή (auté), εμείς (emis), εσείς (esis), αυτοί (auti). Dias da semana: Δευτέρα (deitera), Τρίτη (triti), Τετάρτη (tetárti), Πέμπτη (pémpti), παρασκευί (paraskevi), Σάββατο (sabato), Κυριακή (kiriake). Algumas expressões: είάσας (eiassas – olá; até logo), καλημέρα (kaliméra – bom dia), δεν καταλαβαίνω (den katalavaino – não entendo), με συνχωρείς (me sinkhoris), παρακαλώ (parakaló – por favor), σ’ αγαπό (sagapó – eu te amo), εφχαριστώ (efkharistó – obrigado).
Origem de alguns termos ligados à informática (2)
QR-Code: Quick-Response Code (código de resposta rápida, que pode ser facilmente escaneado).
RAM: Random Access Memory (memória de acesso aleatório).
SPAM: Duas possíveis origens: 1) Sending and Posting Advertising in Mass (enviar e postar publicidade em massa); 2) marca de carne enlatada popularizada pelo grupo de humoristas ingleses Monty Python, passando a significar algo indesejável.
URL: Uniform Resource Locator (localizador padrão de recursos, i.e., endereço único que cada página vai receber).
Wikipedia: do havaiano wiki (rápido) mais o sufixo de “enciclopédia”.
WWW: World Wide Web (rede de alcance mundial).
Frase para sobremesa: Ouçamos Handke: 1) Se uma nação perde seus contadores de história, ela perde sua infância. 2) Eu considerei a realidade vulgar. Eu considerei o momento delicioso. Eu considerei a paz preguiçosa.
Bom descanso!