Post-101

Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

2015: Svetlana Alexievich (1948-): Svetlana traz uma contribuição de caráter particular em escala internacional, na medida em que combina a profissão de jornalista com a arte da boa literatura. Nascida na Ucrânia, filha de professores, ela cresceu no país vizinho de Belarus, mas escreve em russo. Cursou Jornalismo na Universidade de Minsk (capital de Belarus) de 1967 a 72, indo depois trabalhar como repórter no interior do país. Os livros de Svetlana (na verdade, são poucos até agora, apenas seis) têm a característica de reproduzirem histórias orais contadas pelos entrevistados. É como ela própria disse, são “romances de vozes”. Os temas se concentram nas grandes catástrofes vivenciadas pela União Soviética, como as guerras, dentro e fora do país, e a catastrófica explosão na usina nuclear de Tchernóbil, Ucrânia, em 1986. Foi, portanto, uma compilação de entrevistas que originou seu primeiro livro: “A guerra não tem rosto de mulher” (U voiny ne zhenskae litsó, 1985). Na verdade, o correto seria reproduzir o título original em caracteres cirílicos, mas não vamos sobrecarregar demais as cabeças dos caros leitores. Essa obra consiste em uma série de entrevistas com mulheres que participaram da Segunda Guerra Mundial. Doze anos depois surgiu a obra que muitos consideram como sendo a mais impactante: “Vozes de Tchernóbil” (Chernobylskaia molitva, 1997), em tradução literal As preces de Tchernóbil. O livro tem uma beleza pungente, uma facada no peito do leitor ao se deparar com tanto sofrimento de ucranianos e bielorrussos (a usina nuclear ficava junto à fronteira com Belarus), não apenas pelos impactos do terrível acidente, mas pela omissão, abuso e descaso das autoridades responsáveis. Quando esta magnífica obra, de uma autora ainda desconhecida, foi levada a Paris para uma eventual publicação em francês, as primeiras quatro editoras rejeitaram essa tarefa. A propósito, quando Svetlana ganhou o Nobel em 2015, ainda não havia nenhuma obra sua publicada no Brasil. As três versões de seus livros em português só foram lançadas em 2016. Outro livro de Svetlana, no qual é abordada a decadência do antes poderoso Império Soviético, é “O fim do homem soviético” (Vremya sekond khand, 2013).

Por problemas políticos, Svetlana foi forçada a sair de Belarus em 2000, passando a viver em Paris, Gotemburgo (Suécia) e Berlim. Apenas em 2011 ela pôde retornar ao seu país. Destaca-se que a notícia da concessão do Prêmio Nobel a uma jornalista bielorrussa, não encontrou praticamente nenhum eco na mídia local, para a qual Svetlana era nada mais que uma simples repórter de catástrofes. Em 2020, com o escalonamento das tensões internas em Belarus, ela decidiu sair novamente de sua terra natal. Svetlana dizia que, embora tendo nascido na Ucrânia, era em Belarus onde seu coração morava.

O estilo jornalístico de suas obras é caracterizado pelo emprego frequente de reticências, como se sempre algo ficasse no ar. Svetlana recebeu, dentre outras diversas premiações, o National Book Critics Circle Award (2005) e o Prêmio da Paz dos Editores Alemães (2013). Em 2016, portanto um ano depois do Nobel, Svetlana esteve na FLIP (Festa Internacional Literária de Paraty), onde passou quase todo o tempo concedendo entrevistas.   

A língua eslovena

O idioma esloveno (slovenski jezik) pertence ao grupo das línguas eslavas meridionais, assim como o servo-croata (Post 99), o búlgaro e o macedônio. Ele é falado por aproximadamente 2,5 milhões de pessoas na Eslovênia e em países vizinhos, notadamente no sul da Áustria (província da Caríntia) e no nordeste da Itália (região de Trieste). Talvez fosse conveniente relembrar ao leitor mais distraído o conjunto de nomes próprios com grafias semelhantes: Eslováquia, país onde se fala a língua eslovaca (Post 98); Eslovênia, país onde se fala o esloveno; Eslavônia, região na Croácia oriental, onde se fala o croata. Como todas as línguas eslavas, também o esloveno tem como origem o idioma eslavônico eclesiástico. Até o século XII falava-se na região da atual Eslovênia uma confusa mistura de dialetos do servo-croata. Um maior desenvolvimento na consolidação do esloveno ocorreu no século XVI, quando foram impressas as primeiras obras nessa língua. Novo impulso surgiu no século XIX, no momento em que diversos linguistas trabalharam na padronização do esloveno com base no dialeto falado em Ljubljana, a capital do país. Deve ser lembrado que, desde a Idade Média até a dissolução do Império Austro-Húngaro (1918), no território da atual Eslovênia o alemão era a língua utilizada pela elite, enquanto o esloveno era falado pelos cidadãos comuns. A seguir, no Reino da Iugoslávia (1920-41) havia um bilinguismo das línguas servo-croata e esloveno. No período de 1923 a 1943, a Itália fascista proibia, sob pena de prisão, qualquer comunicação verbal ou escrita em esloveno. Em 1938, com a anexação da Áustria pela Alemanha nazista, aos moradores da região meridional da Caríntia (capital: Klagenfurt), de características bilingues (alemão e esloveno) era estritamente vedada a comunicação em esloveno.

A língua eslovena é um caso único no grupo eslavo pela profusão de dialetos não encontrada em nenhum outro país europeu. Apesar do seu pequeno tamanho (20.000 km2), estima-se a existência de mais de 50 variações do idioma, algumas delas não mutuamente inteligíveis. Um provérbio popular destaca essa característica: Vsaka vas ima svoj glas (cada aldeia tem sua própria voz). A representação gráfica do esloveno é feita por meio do alfabeto latino com o acréscimo de três sinais diacríticos já conhecidos nossos: Č (som de “tch”), Š (“sh”) e Ž (“j”). O curioso, pois cada língua tem suas manias, é que tais letras especiais não são usadas rotineiramente, apenas em documentos oficiais. Obviamente, isso pode gerar muita confusão entre palavras homógrafas, que são muitas. A ponderação dos usuários, e talvez tenham razão, é de que o contexto da frase pode ajudar a eliminar esse inconveniente.

A língua eslovena tem os três gêneros clássicos da maioria dos idiomas eslavos (masculino, feminino e neutro), ausência de artigos definidos e indefinidos e seis casos, não existindo a declinação do vocativo, como ocorre em algumas línguas eslavas. Ademais, o esloveno tem a curiosidade de ainda manter o dual, que é uma declinação específica para o número dois, distinta do plural convencional, a qual já foi extinta nos outros idiomas eslavos. Em português o numeral “ambos” é um resquício do dual. Números de 1 a 10: ed/ena/en, dva/dve, tri, štiri, pet, šest, sedem, osem, devet, deset. Pronomes pessoais: jaz, ti, on/ona/ono, mi, vi, oni/one/ona. Dias da semana: Ponedeljek, Torek, Sreda, Četrtek, Petek, Sobota, Nedelja. Algumas expressões: Zdravo (Olá), Nasvidenje (Até logo), Dobro jutro (Bom dia), Oprostite (desculpe), Prosim (Por favor), Ne razumen (não entendo), Ljubim te (eu te amo), Hvalo (obrigado).     

Origem dos nomes de algumas castas de uva (2)

Moscatel: do latim muscus (almíscar), essência usada na fabricação de perfumes e extraída da bolsa situada no abdome do veado-almiscareiro.

Müller-Thurgau: uva criada por Herman Müller, do cantão suíço de Thurgau, em 1882, com o cruzamento das castas Riesling e Madeleine Royale.

Pinot: provavelmente de pin (pinheiro/pinha em francês) devido à forma cônica do envoltório.

Riesling: casta típica da região da Alsácia. O nome é de origem incerta, mas pode estar ligado a hrotaz, acrescido do sufixo –ing. No antigo germânico a palavra significa “fuligem”, em associação com as manchas pretas que surgem nas uvas maduras.  

Syrah: originário da cidade de Shiraz, conhecida como a capital cultural do Irã, onde começou o cultivo das vinhas no país. Na Austrália a uva é designada como Shiraz.

Tanat: do lati tannun(casca de carvalho), em alusão à cor escura e amarronzada da uva.

Tempranillo: diminutivo do espanhol temprano (cedo), em referência ao rápido amadurecimento da uva. Na Espanha a casta é conhecida como Aragonez.

Frase para sobremesa: De Svetlana para o mundo: 1) Fico muito interessada nas “pequenas pessoas”. Eu diria antes “pequenas grandes pessoas”, porque o sofrimento tem a capacidade de expandir os seres humanos. 2) Ninguém nos ensinou a ser livre. Só fomos ensinados a morrer pela liberdade.

Bom descanso!

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