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Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

2014: Patrick Modiano (1945-): filho de um comerciante judeu e de uma atriz belga, que se conheceram durante a ocupação alemã na França, Modiano nasceu no ano em que terminava a Segunda Guerra Mundial. Como seus pais se separaram logo após o nascimento, ele foi criado pelos avós maternos. Até os quatro anos, o flamengo foi sua primeira língua. A maior parte das obras de Modiano é composta por indivíduos desconhecidos que são confrontados com os horrores da história, particularmente na França ocupada, ou seja, um período que ele só conheceu pelos relatos de família, de amigos e pelas crônicas da imprensa.

Seu primeiro livro, Place de l’Étoile (1968) traça a história de um colaborador judeu em Paris. Seu pai se irritou tanto pela ousadia do filho em escrever uma obra difamatória aos judeus, que quis comprar todos os exemplares impressos. Os livros de Modiano, principalmente na sua fase inicial, receberam forte influência de um dos amigos da mãe, o escritor Raymond Queneau (1903-76), autor do conhecido romance Zazie dans le métro, levado às telas pelo aclamado cineasta Louis Malle (1932-95). Foi também sob a direção de Malle, e com roteiro do próprio Modiano, o lançamento em 1974 de um dos mais conhecidos romances do ainda jovem autor: Lacombe Lucien, que conta a história de um garoto que tenta entrar para a Resistência Francesa. Merece destaque também o filme “Viagem do Coração” (Bon Voyage, 2003), com roteiro de Modiano, o qual relata o contrabando de “água pesada” durante a Segunda Grande Guerra. A película foi dirigida por outro respeitado cineasta francês, Jean-Paul Rappeneau (1932-), tendo no elenco o ator Gérard Depardieu (1948-). Embora vários de seus livros tenham claros componentes autobiográficos, existe uma trilogia escrita especificamente com esta finalidade. “Remissão da pena” (Remise de peine, 1988), “Flores da ruína” (Fleurs de ruine, 1991) e “Primavera do cão” (Chien de printemps, 1993). Outro livro de memórias, particularmente até os 21 anos de idade, é “Pedigree” (2004). Muitas obras de Modiano contam com a intensa presença do seu irmão mais novo, Rudy, falecido aos nove anos de idade em decorrência de uma enfermidade. Provavelmente o livro mais celebrado de Modiano, com o qual ele ganhou o Goncourt, o prestigiado prêmio literário francês, foi “Uma rua de Roma” (Rue des boutiques obscures, 1978), cujo personagem principal, que sofre de amnésia, sai pelas ruas de Roma na busca de seus objetivos.

Mondiano casou-se em 1970 e teve duas filhas. Ele nunca terminou um curso superior. Dentre suas mais de 40 produções literárias, existem também obras infantis. Modiano escreveu ainda letras de música em parceria com a cantora Françoise Hardy (1944-).     

A língua servo-croata

O idioma servo-croata (srpska-hrvatski jezici), que, na verdade, consiste em um conjunto de línguas semelhantes, é falado por cerca de 21 milhões de pessoas na Sérvia, Croácia, Bósnia e Montenegro, além de países vizinhos e regiões de emigração. É um idioma claramente pluricêntrico, ou seja, com distintos padrões linguísticos, embora reunidos sob uma única estrutura geral de gramática, fonética e léxico. Ele pertence ao grupo meridional das línguas eslavas, juntamente com o esloveno, búlgaro e macedônio. A região da antiga Iugoslávia, que já pertenceu parcialmente ao Império Otomano e, a partir do século XVIII, ao Império Austro-Húngaro, passou por diversas transformações ao longo das duas últimas guerras mundiais. Em 1991, simultaneamente com a fragmentação da União Soviética, a Iugoslávia se dividiu em seis países independentes: Eslovênia (capital: Ljubljana), Croácia (Zagreb), Sérvia (Belgrado), Bósnia e Herzegovina (Sarajevo), Montenegro (Podgorica) e Macedônia do Norte (Skopje). Observa-se que o estado de Montenegro, surgiu, de forma independente, apenas em 2006 ao se separar da Sérvia. A Macedônia do Norte adotou este nome somente em 2019, depois de longas tratativas diplomáticas com a Grécia, que não concordava que o país vizinho tivesse a mesma denominação da província histórica da Macedônia. Enquanto o assunto ainda não estava resolvido, ou seja, de 1991 a 2019, as organizações internacionais criaram o curioso acrônimo de FYROM (Former Yugoslavian Republic of Macedonia) para a atual Macedônia do Norte. Uma última observação refere-se à Província Autônoma de Kosovo (capital: Pristina), de maioria albanesa, que se proclamou independente em 2008. Ela é reconhecida por 90 países da ONU (em um total de 193), não se incluindo aqui o Brasil. No entanto, Kosovo é um dos 211 países filiados à FIFA. Deste grupo de novos países apenas a Eslovênia e a Macedônia do Norte não têm o servo-croata como a língua oficial. Na verdade, a denominação das línguas oficiais segue os nomes dos países, ou seja, sérvio, croata, bósnio e montenegrino, mas, como já vimos, tudo isso vem a ser o servo-croata.

Este complexo conjunto dialetal apresenta características próprias em cada um dos países onde é falado. De qualquer maneira, essas variantes linguísticas possuem inteligibilidade mútua, ou seja, todo mundo entende todo mundo. Enquanto os croatas e bósnios utilizam majoritariamente o alfabeto latino, devido à influência da igreja católica, os sérvios e montenegrinos adotam o cirílico, vinculado à igreja ortodoxa. Todavia, na prática, tanto na Sérvia quanto em Montenegro as indicações em letreiros e placas de rua são feitas nos dois alfabetos, portanto, todos continuam se entendendo sem problemas. Cabe destacar que o alfabeto cirílico para o sérvio e montenegrino possui variações em relação ao russo, como por exemplo o uso da letra “J”, enquanto o alfabeto latino do croata e bósnio ostenta o charmoso “d” cortado (Đ) (pronúncia de dje). Cabe lembrar que a palavra “gravata” tem origem nas tiras de tecido amarradas ao pescoço usadas pelo exército croata (hrvat) no século XVII     

A padronização linguística do servo-croata ocorreu em meados do século XIX, quando se decidiu utilizar o dialeto estocávico como base para o idioma. O nome desse dialeto refere-se à pronúncia da expressão “o quê”, falada aqui como shto, enquanto os outros dialetos usam shta. Tanto barulho por uma coisa tão pequena. A fonética segue a ortografia e vice-versa, de tal sorte que, quem conhece os alfabetos e seus diacríticos pode ler e falar sem dificuldades.

A gramática do servo-croata obedece ao padrão da maioria das línguas eslavas, com a existência de três gêneros, sete casos (incluindo o vocativo) e dois aspectos (imperfectivo e perfectivo). Para facilidade, apresentaremos aqui as diversas palavras apenas no alfabeto latino, como é o caso do croata. Para a transliteração ao sérvio basta se lançar mão do cirílico, sendo que a expressão oral é idêntica. Os pronomes pessoais: ja, ti, on/ona/ono, mi, vi, oni/one/ona. Números de 1 a 10: jedan/jedna/jedno, dva/dve/dva, tri, četiri, pet, šest, sedam, osam, devet, deset. Dias da semana: ponedjeljak, utorak, srijeda, četvrtak, petak, subota, nedjelja. Algumas expressões: Dobro jutro (Bom dia), Bok (olá), Doviđenja (até logo), Hvala (obrigado), Ne razumijem (não entendo), Oprostite (desculpe), Molim (por favor), Volim te (eu te amo).

Origem dos nomes de algumas castas de uva (1)

Sempre que se trata da busca pela origem de nomes, há que se aceitar um certo grau de incerteza. Particularmente no campo das bebidas e da culinária em geral não é rara a sugestão de mais de uma etimologia. Inserimos aqui aquelas julgadas como sendo as mais fidedignas:

Alvarinho: uva usada na fabricação de vinho verde na região norte de Portugal e na região autônoma da Galicia (Espanha), onde é conhecido como Albariño.  A origem está ligada à casta branca da uva (latim: albus).

Cabernet: Origem incerta. Pode ser derivado da cor carmim da uva (em francês carmin) ou ter a etimologia árabe da palavra vinhedo. O que todos concordam é em relação ao sufixo ”et”, que marca o diminutivo na língua occitana, isso devido ao pequeno tamanho da uva.   

Carmenère: referência ao vermelho intenso (carmim) da casca da uva.

Chardonnay: pequena cidade na região da Borgonha. Existe ainda a hipótese de que o nome venha do hebraico shaar-adonai (porta de Deus), em referência ao possível transporte das cepas pelos cruzados que retornavam da Terra Santa.

Malbec: sobrenome de um fazendeiro húngaro que iniciou a produção de vinho na cidade francesa de Cahors.

Merlot: do francês merle (melro) pela semelhança da plumagem da ave com a cor da casca da uva.

Frase para sobremesa: Duas contribuições de Modiano: 1) Quando amamos alguém, temos que aceitar a sua parte de mistério. E é precisamente por isso que amamos. 2) Como seria estranho se as crianças conhecessem como eram seus pais antes de elas terem nascido, quando ainda não eram pais, simplesmente eles próprios.

Até a próxima!

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