Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.
2012: Mo Yan (1955-): o escritor chinês tem o nome original de Guam Moye. O pseudônimo de Mo Yam (literalmente “não fale!”) foi adotado em homenagem à sua família, que o repreendia por expressar tudo diretamente, ou seja, sem freios na língua. Mo (para o bem de uma digitação mais fluida, não vejo problemas em simplificar o pseudônimo) nasceu de uma família de agricultores, os quais ainda formam o maior percentual da população chinesa. Deixou a escola durante a Revolução Cultural (1966-76), passando a trabalhar em uma refinaria de petróleo. Com 20 anos de idade entrou para o Exército da Libertação Popular, o braço armado do Partido Comunista chinês. Foi enquanto soldado que ele começou a escrever seus romances. O primeiro livro de algum sucesso foi publicado em 1984 (A transparent radish). No entanto, a obra que marcou seu nome como um dos maiores escritores chineses foi Red Sorghum, publicado em 1986. O livro, escrito em cinco partes não cronológicas, retrata as gerações de uma família chinesa nos anos de 1923 a 76. Grande parte do sucesso foi devida à transposição da obra para o cinema, em filme dirigido pelo mais conhecido cineasta chinês, Zhang Yimou (1951-) e contando no elenco com a mais célebre atriz chinesa, Gong Li (1965-). A película, tendo Mo como um dos roteiristas, ganhou em 1988 o Urso de Ouro, que é o maior prêmio do Festival de Cinema de Berlim. O garotinho que não devia falar era agora conhecido em grande parte da China e no mundo artístico internacional. Em 1991, Mo terminou seu Mestrado em Literatura na Universidade de Beijing. Na sequência de suas obras merece destaque o romance Big breasts and wide hips (Peitos grandes e ancas largas, 1996), que chegou a ser proibido na China. Nele é feita a revisão de um século da história do país a partir de uma visão feminina. Em 2006 surge outra grande obra de Mo, Life and Death are wearing me out. Seu livro mais recente é “As rãs” Frogs, 2009), uma de suas pouquíssimas obras editadas em português, na qual é relatada a prática de abortos forçados na China, tema absolutamente sensível e polêmico.
Malgrado algumas limitações, Mo é reverenciado na China, tanto pelo público quanto pelas autoridades políticas. Era uma grande ambição do governo chinês contar com um escritor que morasse no país e escrevesse sobre ele, laureado com o Nobel de Literatura. Seu predecessor Gao Xingjan, ganhador do Nobel em 2000, um exilado do país, cidadão francês, não poderia ser considerado com legítimo representante da cultura chinesa. As obras de Mo são, em grande parte, novelas históricas épicas, descritas com as tintas de um Realismo Mágico. Uma fascinante curiosidade é que Mo escreve a mão os seus livros, traçando os belos caracteres chineses com o carinho que merecem.
A língua tcheca
A língua tcheca (čeština) é falada por aproximadamente 11 milhões de pessoas na República Tcheca e em países vizinhos, além do vasto número de emigrantes. Nos últimos anos vem crescendo a utilização do nome “Tchéquia” para designar o país, conforme orientação do próprio governo tcheco. Ainda soa um pouco estranho, mas vamos nos acostumar. O idioma tcheco pertence ao grupo das línguas eslavas ocidentais. Ele tem proximidades com o polonês, razoavelmente inteligíveis entre si, e uma forte afinidade com o eslovaco, mutuamente compreensível para a grande maioria das pessoas. No entanto, observa-se a tendência de um gradual afastamento no entendimento desses idiomas irmãos, principalmente entre as populações jovens dos dois países (Tchéquia e Eslováquia). Na verdade, a língua era a mesma até o século XV, ocorrendo posteriormente uma separação dos idiomas conforme as religiões praticadas, ou seja, o luteranismo na região da Eslováquia e o cristianismo onde se situava a região histórica da atual Tchéquia. Após o fim da Primeira Guerra Mundial, quando ocorreu a derrota do Império Austro-Húngaro, formou-se um novo país, a Tchecoslováquia. Em 1939 o exército de Hitler ocupou todo o território, que foi libertado pelas tropas russas em 1945. A partir de então a Tchecoslováquia passou a fazer parte do grupo de países satélites da antiga União Soviética. Algumas revoltas e tentativas de queda do regime ocorreram nas décadas de 60 e 70, controladas pela mão de ferro do exército russo. Após a fragmentação do Império Soviético (1991), iniciou-se um processo pacífico de divisão da Tchecoslováquia, que terminou em 1993. A República Tcheca ficou com a parte ocidental do antigo país, incluindo as regiões históricas da Morávia, Boêmia e de parte da Silésia, ocupando a área de 79.000 km2, enquanto a parte oriental formou a Eslováquia (49.000 km2). Ambas as línguas (tcheco e eslovaco) são reconhecidas como minoritárias fora do seu país de origem, ou seja, na Eslováquia um cidadão pode se comunicar com o governo em tcheco, o inverso ocorrendo na Tchéquia.
Os primeiros escritos em língua tcheca remontam ao século X. As principais características do idioma foram fixadas no curso dos séculos seguintes. O alfabeto latino, com seus diversos diacríticos, foi consolidado no século XIV pelo pensador e reformador religioso Jan Hus (1369-1415), precursor da Reforma Protestante. Condenado pelos inimigos, Hus morreu na fogueira cantando um salmo de Davi. Merece destaque, nessa época, a criação da Universidade de Praga em 1348, certamente uma das mais antigas do mundo. A codificação definitiva do idioma ocorreu no século XIX, a partir do dialeto falado em Praga, com a influência de vocábulos alemães e poloneses.
A ortografia do idioma tcheco conta com a representação de vogais curtas e longas (estas assinaladas com um acento agudo), numerosos dígrafos e um elevado número de sinais sobre ou sob as letras (diacríticos). Alguns deles, por serem muito frequentes, merecem uma explicação fonética: š (pronúncia de “ch”), ž (“j”), č (“tch”). O “u” com uma bolinha acima (ů) indica o prolongamento da vogal quando ela está no meio da palavra. Em outras posições o “u longo” é representado como “ú”. Mas, inegavelmente, a estrela da festa é “ř”, encontrado só no idioma tcheco e que tem uma pronúncia, simultânea, entre os sons de “r” e de “z”. Vocês imaginam o que seja isso? O “r” normal do tcheco é apical, ou seja, pronunciado com a ponta da língua (ápice) rolando no céu da boca, como no italiano burro (manteiga). Mas com “ř” a pronúncia é laminar, vale dizer que a língua se eleva suavemente dentro da boca. Acho que o melhor exemplo é o nome do famoso compositor tcheco Dvořák. Se vocês tiverem vontade e tempo (não dura mais do que um minuto) consultem a pronúncia do nome pelo site de fonética www.forvo.com, onde dezenas de línguas estão representadas. Cá por mim, acho mais simples criar, na pronúncia, o dígrafo “rj”, portanto o célebre compositor seria designado como “Dvorják” e assim ninguém passa vergonha.
O tcheco, à semelhança dos outros idiomas eslavos, possui três gêneros, sete casos e dois aspectos (já nem precisamos mais explicar o que é isso). A acentuação das palavras cai, em geral, na primeira sílaba. Os pronomes pessoais são: já, ty, on/ona/ono, my, vy, oni/ony/ona, portanto muito semelhantes aos do polonês. Números de 1 a 10 (para os números 1 e 2 mostramos apenas o gênero masculino): jeden, dva, tři, čtyři, pĕt, šest, sedm, osm, devĕt, deset. Dias da semana: pondĕli, úterý, středa, čtvrtek, pátek, sobota, nedĕle. Algumas expressões: Čau (olá e até logo, obviamente em momentos distintos), Dobré rano (bom dia), Nerozumím (não entendo), Promiňte (desculpe), Prosim (por favor), Dĕkuju (obrigado), Miluji tĕ (eu te amo – entre amantes), Mám tĕ rád (eu te amo – entre amigos). Como já comentei em algum outro Post, não é conveniente trocar essas duas últimas expressões.
Origem de alguns nomes ligados à gastronomia (2)
Macedônia: mistura de distintas frutas ou legumes, em referência à variedade de povos que compunham o antigo Império da Macedônia (século IV a.C.)
Martini: coquetel de gim e vermute branco seco (possivelmente de Martini, um barman norte-americano, de origem italiana, que teria criado a bebida em 1910 para o magnata John Rockefeller, considerado como a pessoa mais rica da história moderna).
Melba: sobremesa de pêssegos frescos servidos com sorvete de baunilha criada pelo chef francês Auguste Escoffier (1846-1935) no Hotel Savoy em Londres para homenagear a soprano australiana Nellie Melba (1861-1931). Anos depois ele acrescentou uma cobertura de purê de framboesa e rebatizou o prato como Pêche-Melba, ou seja, Pêssego-Melba.
Rocambole: bolo em forma cilíndrica. Por seu formato curioso, o nome faz referência ao personagem homônimo criado pelo escritor francês Ponson du Terrail (1829-71), capaz de realizar aventuras fantásticas. O adjetivo “rocambolesco” indica algo marcado por imprevistos, acidentado, confuso.
Sanduíche: do britânico John Montagu, conde de Sandwich (1718-92), pelo alimento que levava para a mesa de jogo.
Frase para sobremesa: Duas contribuições de Bjørnstjerne Bjørnson (1832-1910): 1) Não reclame, sob as estrelas, a respeito da falta de pontos brilhantes em sua vida. 2) Na política, a verdade deve esperar o momento em que todos precisem dela.
Até a próxima!