Post-96

Escritores que ganharam o Prêmio Nobel de Literatura.

2011: Tomas Tranströmer (1931-2015): é o poeta sueco mais traduzido no mundo (para cerca de 60 idiomas). Desde 1993 ele se tornou, ano após ano, favorito para receber o laurel, o que só veio a ocorrer, muito tardiamente, em 2011. A imprensa sueca comentava que, nos dias de premiação, vários jornalistas se postavam em frente à casa do poeta e esperavam a boa notícia que não vinha. Tomas foi criado apenas pela mãe (professora primária), já que o pai (editor) se divorciou. Tomas, formado em Psicologia pela Universidade de Estocolmo, dedicava metade do tempo ao trabalho e a outra metade para escrever poesias, a maioria delas em versos livres (sem rimas). Seu primeiro livro de poesias, “17 poemas” (17 Dikter) foi publicado quando o autor tinha apenas 23 anos. Tomas escreveu 19 livros, quase todos de poesia. No presente momento (ano de 2023) nenhum deles foi traduzido para o português, a não ser em esparsas publicações em antologias. Por esse fato, Tomas Tranströmer deve ser, de todos os ganhadores do Nobel de Literatura, o menos conhecido do público brasileiro. Como a língua sueca tem um número restrito de falantes, em torno de dez milhões, a divulgação internacional de suas obras só poderia ocorrer mediante traduções. Neste aspecto foi fundamental a ajuda do escritor norte-americano Robert Bly (1926-2021), amigo muito próximo de Tranströmer. Os poemas, marcados por um forte lirismo, apresentam um componente cristão no trato do amor, amizade e solidariedade. Quando ocorreu o acidente com vazamento de gás na usina química em Bophal (Índia), o qual vitimou cerca de 16 mil pessoas, ele viajou até o local para participar de sessões de leitura de poemas em frente à fábrica. Tomas casou-se em 1958 e teve duas filhas. Dentre os diversos prêmios literários recebidos destacam-se o Prêmio Literário do Conselho Nórdico e o Prêmio Literário Internacional Neustadt, ambos em 1990.

Nesse mesmo ano de 1990 Tomas sofreu um AVC, que o deixou afásico e hemiplégico, com a fala reduzida e preso a uma cadeira de rodas. Mas a vida continuava e seus poemas também. Em 1993 ele publicou a autobiografia “Memories look at me” (Minnena ser mig). Outros livros de destaque foram “Bells and Tracks” (Klanger och spår, 1966) e “Baltics” (Östersjoär, 1974), além de seu celebrado último livro “The great enigma” (Den stora gåtan). Mesmo parcialmente paralisado, Tomas conseguiu continuar tocando piano apenas com a mão esquerda. A cerimônia de entrega do Nobel (disponível no YouTube), quando ele sobe ao palco empurrado em cadeira de rodas, oferece minutos de grande emoção.

A língua polonesa

A língua polonesa (jȩzyk polski) é um idioma do grupo eslavo ocidental da família indo-europeia. Pode também ser usado o adjetivo “polaco”, mas este tem o uso mais disseminado em Portugal, além de poder apresentar uma conotação pejorativa no nosso país. O polonês é a língua eslava mais falada depois do russo. Estima-se que cerca de 60 milhões de pessoas possam se comunicar em polonês, incluindo-se aqui um elevado número de emigrantes em diversas partes do planeta. No Brasil a população de fala polonesa chega a 150.000 pessoas, notadamente no estado do Paraná. O reino da Polônia, fundado em 1025, surgiu logo após a vitória na guerra contra o Sacro Império Romano-Germânico. De 1569 a 1795 existiu o Grão-Ducado da Polônia e Lituânia, na época a maior nação da Europa, com área superior a um milhão de km2. A capital era a cidade de Cracóvia até 1609, quando foi transferida para Varsóvia. Após 1795 o Grão-Ducado foi fragmentado em territórios tomados pela Prússia, Áustria e Rússia, ou seja, a Polônia desapareceu completamente do mapa, só ressurgindo em 1918, como consequência dos acordos internacionais de pós-guerra.

O primeiro registro de palavras em polonês ocorreu em bula papal publicada em 1136, após a cristianização do país e a introdução do alfabeto latino (século X). O primeiro tratado sobre ortografia surgiu em 1470, o primeiro livro em 1513 e o primeiro jornal em 1661. Dentre os diversos dialetos que gravitam em torno do polonês, dois merecem ser destacados: o silésio, falado por 500.000 pessoas em partes da Polônia, República Tcheca e Alemanha e o cassúbio, usado na região da Pomerânia (norte da Polônia) por 200.000 falantes. Este último é considerado por muitos linguistas como um idioma separado, tendo inclusive um alfabeto próprio. Mais uma vez nos deparamos com o difícil tema da distinção entre línguas e dialetos, a qual pode se basear em aspectos históricos, linguísticos e políticos. Poderíamos asseverar que, caso a Pomerânia se convertesse em um Estado independente, seguramente o cassúbio estaria registrado como língua e não como dialeto.    

O polonês é escrito no alfabeto latino complementado com diversos sinais diacríticos. Um deles, de fácil identificação, pois só existe na língua polonesa, é o “l cortado (Ł), que tem o som aproximado de “u”. O polonês é a única língua eslava com vogais nasais, representadas por um ganchinho abaixo das letras “a” e “e”: ą,ȩ. Na pronúncia, é como se fosse adicionada um “n” após a letra nasalizada. Estes diacríticos já foram apresentados quando vimos a língua lituana (Post 91), um idioma indo-europeu, mas não eslavo. O polonês, como as outras línguas eslavas, não possui artigos, apresenta sete casos declináveis e verbos com aspectos perfeito e imperfeito. Tais características foram abordadas nos Posts sobre a língua russa (92 e 93). Uma peculiaridade do polonês são os cinco gêneros dos adjetivos: masculino humano, masculino para objetos, masculino para animais, feminino e neutro. Portanto no conjunto das declinações teríamos: dois numerais (singular e plural), cinco gêneros e sete casos, o que perfaz um total de 49 possíveis formas para um único adjetivo. Em relação aos numerais é usado o nominativo singular para o número 1, o nominativo plural para 2 a 4 e o caso genitivo para números acima de cinco. Um simples exemplo com a moeda do país (złoty), pronúncia de “zuóti”: 1: złoty, 2-4: złote, mais que 5: złotych. Na fonética existe a curiosidade de que o polonês é uma das poucas línguas no mundo com o acento sempre na penúltima sílaba. Os pronomes pessoais são: já, ty, on/ona/ono, my, wy, oni/one. Números de 1 a 10 (por simplicidade, vamos mostrar apenas a forma masculina para numerais de 1 a 4): jeden, dwa, trzy, cztery, piȩć, sześć, siedem, osiem, dziewiȩć, dziesiȩć. Dias da semana: poniedziałek, wtorek, środa, czwartek, piątek, sobota, niedziela. Algumas expressões: Cześć (“Olá”, tanto para cumprimento quanto despedida; a pronúncia é simples: tcheshtch), Dzień dobry (Bom dia), Do widzenia (até logo), Nie rozumien (não entendo), Przepraszam (“Desculpe”; há estrangeiros que preferem apenas unir as duas palmas da mão e abaixar a cabeça, assim todos entendem), Proszȩ (Por favor), Kocham ciȩ (eu te amo), Dziȩkujȩ (“Obrigado”, pronúncia aproximada: dzenkuien). Finalmente cabe um breve comentário sobre a simpática expressão Jak siȩ masz (Como vai?). Não é costume do povo polonês fazer esta pergunta, ou seja, ela não pertence à tradição do país. Se você quiser utilizá-la, há o risco de o interlocutor levar a sério a questão e começar a discorrer sobre problemas no trabalho, na família, inquietações, novas perspectivas de vida etc e aí a conversa tomará um outro rumo.

Origem de alguns nomes ligados à gastronomia (1)

Bloody Mary: coquetel criado em Paris em 1920, que fez sucesso nos EUA pelo seu marcante aroma e forte cor vermelha, capaz de burlar as rigorosas determinações da Lei Seca vigente na época. O nome faz alusão à Rainha da Inglaterra, Mary I (1516-58), conhecida pela brutal repressão aos protestantes.

Carolina: doce semelhante ao profiterole francês, no Brasil conhecido como bomba. Foi criado na França no século XVI a pedido da Rainha Catarina de Médici (1519-89). O nome homenageia um comerciante húngaro, Karóly Ferencsarosz, que vendia o doce nas confeitarias de Viena no século XVII. Já a palavra francesa profiterole é originária da expressão petit profit (pequeno lucro ou proveito), já que era oferecido aos empregados da casa como recompensa pelo trabalho.

Charlotte: sobremesa com revestimento externo de biscoitos ou fatias de pão de ló e com recheio de creme. O nome é homenagem à alemã Sophie Charlotte zu Mecklenburg-Strelitz (1744-1818), esposa do rei britânico George III, com quem teve 15 filhos. Ela era a avó paterna da rainha Vitória do Reino Unido.

Estrogonofe: prato com pedaços de carne bovina, em molho de creme de leite e cogumelos (de Pavel Stroganov, 1774-1817, militar e diplomata russo que se mudou para a França; acredita-se que sido a invenção de um chef francês que homenageou o diplomata com a criação do prato; existem registros de fato semelhante com outros membros da ilustre família Stroganov).

Juliana ou Juliette: tipo de corte a faca com tiras longas e finas. Criado em 1722, a origem exata do nome é obscura, mas, provavelmente se referia a algum chef de cozinha francês de prenome Jules ou Julien. Sim, no masculino, pois, à época, apenas homens comandavam os segredos da boa culinária.

Frase para sobremesa: Apreciemos duas frases de Tranströmer: 1) No meio da vida acontece que a morte surge e mede o homem. A visita é esquecida e a vida continua. Mas o fato está feito, silenciosamente. 2) Cada pessoa é uma porta meio aberta, que conduz a um espaço para todos.  

Bom descanso!

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